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Como driblar os problemas de aplicar pouco dinheiro na Bolsa

Comprar ações em unidades, de forma fracionada, requer cuidados em função dos altos custos e da baixa liquidez

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h43.

São Paulo – Embora comumente negociadas em lotes-padrão - pacotes de ações que costumam ter 100 papéis e custo superior a 1.000 reais -, as ações podem ser negociadas em unidades, de forma fracionada. Comprar poucas ações, porém, tem algumas desvantagens, que podem acarretar prejuízos aos quais a negociação de lotes-padrão não está sujeita. Por isso, para quem tem pouco dinheiro para investir, a entrada no mercado acionário requer alguns cuidados.

O investimento em Bolsa normalmente é feito por meio da compra e venda de lotes-padrão, no chamado mercado à vista ou mercado padrão. Mas em 1974, o investidor passou a ter a possibilidade de investir em apenas uma ou algumas poucas unidades de ações, com o surgimento do mercado fracionário. Assim, tornou-se possível, por exemplo, comprar duas ações de 30 reais com apenas 60 reais, em vez de precisar investir 3.000 reais em um lote de 100 ações.

Ocorre que ações são diferentes de investimentos simples como a caderneta de poupança. Nesta, não há incidência de impostos, taxas de administração ou quaisquer outros encargos sobre o investimento, viabilizando a aplicação de poucos recursos sem prejuízo ao investidor. Já na Bolsa existem taxas cobradas pelas corretoras e pela BM&FBovespa, e esses custos podem ser muito altos em relação ao valor aplicado. Assim, a valorização da ação precisaria ser muito alta para que o investidor consiga lucrar e ainda pagar seu investimento.

Atenção à taxa de corretagem

Uma das principais taxas que devem ser observadas ao se investir uma pequena quantia de dinheiro em ações é a taxa de corretagem, cobrada pela corretora pelos seus serviços. Dependendo de como essa taxa é cobrada e do seu valor, ela pode minar os rendimentos da aplicação. 

Algumas corretoras cobram uma taxa de corretagem fixa por ordem de compra. Uma das piores formas de cobrança para quem investe no mercado fracionário ocorre quando esta taxa é fixa e igual tanto para quem negocia lotes-padrão quanto para quem negocia ações unitárias. Na Walpires corretora, por exemplo, é cobrada uma taxa fixa de 10 reais, e no HSBC a taxa é de 18 reais, tanto no mercado padrão quanto no fracionário. Esse tipo de cobrança apresenta vantagem para o investimento de maior volume. Mas, numa situação extrema, comprar apenas uma ação de menos de 18 reais pelo HSBC representaria pagar mais pela taxa que pelo papel.

A valorização para compensar o investimento no mercado fracionário, em um caso como esse, teria que ser bastante alta. Para um pequeno investimento de 100 reais com uma taxa fixa de 18 reais, a rentabilidade das ações deverá ser maior que 18% apenas para compensar a taxa. Isso fora as demais despesas com os emolumentos - taxas cobradas pela Bovespa pela intermediação das negociações - e outras taxas cobradas pela corretora.


Portanto, para que o investimento no mercado fracionário valha a pena, a saída é optar por corretoras que utilizem a tabela Bovespa, que cobra taxas proporcionais ao valor investido, ou ainda que possuam taxas diferentes para mercado padrão e mercado fracionário. É o caso do Rico, home broker da Octo Corretora, que cobra 4,40 reais por operação no mercado fracionário e 9,90 reais no mercado padrão. Já corretoras como Ágora (Bradesco), Banco do Brasil, BI&P Indusval & Partners Corretora, Geral Investimentos, Omar Camargo, Santander e Um Investimentos utilizam a tabela Bovespa.

A taxa tabelada na maior parte dessas corretoras é usada quando o investidor negocia a compra e venda de ações via agência (mesa de operações). Se a operação for executada diretamente pelo home broker, a maior parte delas utiliza preços fixos por ordem negociada.

A tabela Bovespa era o padrão adotado para determinar os valores máximos das taxas de corretagem até o ano 2000, quando o Conselho Monetário Nacional extinguiu o tabelamento. Para aplicações de até 135 reais, é cobrado um valor fixo de 2,70 reais. Entre 135,08 reais e 498,62 reais, é cobrado um percentual de 2% sobre o valor da operação. A partir daí a tabela Bovespa começa a perder a vantagem, uma vez que entre 498,63 a 1.514,69 reais é cobrada uma taxa fixa de 2,49 reais, mais um percentual de 1,5% do valor da operação, o que pode já equiparar ou superar a taxa fixa cobrada em algumas corretoras.

Uma opção melhor ainda, mas menos comum, seriam as corretoras que garantem um desconto em cima do valor da tabela, o chamado percentual de rebate sobre a tabela Bovespa. É o caso da Pax Corretora, que oferece descontos sobre as taxas da tabela Bovespa, sendo que quanto maior o valor investido, maior o desconto.

Vale lembrar que para quantias mais altas, as corretoras que usam a tabela Bovespa podem não ser as mais vantajosas. Pela tabela, em investimentos de 1.514,70 até 3.029,38 reais é cobrado um percentual de 1,0% mais 10,06 reais, e para valores acima de 3.029,39 reais é cobrado um percentual de 0,50% sobre a operação, mais 25,21 reais. Nestes casos, se o investimento superar 1.500 reais, por exemplo, uma corretora que cobre taxa fixa de 15 reais já seria uma opção melhor. 

Taxa de custódia 

Outra taxa que pode minar a vantagem de investir no mercado fracionário é a taxa de custódia. Trata-se do valor mensal cobrado pela guarda das ações pela Bolsa e pelos serviços oferecidos pela corretora. Ela varia entre corretoras e pode até ser gratuita, sobretudo para investidores mais ativos.

Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, recomenda que, ao investir no mercado fracionário, o cliente peça à corretora que a custódia da ação não fique na Bolsa, mas sim no agente custodiante, para evitar a cobrança da taxa de custódia. “É fundamental, neste caso, enviar as ações ao custodiante, ficando livre da custódia na corretora que é remunerada”, afirma.


O único porém é que, quando o investidor ordenar a venda de suas ações, a operação pode demorar de três a cinco dias para ser processada, segundo Bittencourt. Mas para o pequeno investidor, que não costuma fazer operações diárias, a economia com a taxa de custódia pode compensar esta falta de imediatismo na operação. Isto porque, se a taxa de custódia cobrada ao mês for de 6,90 reais, que é uma taxa bastante praticada, seriam menos 82,80 reais por ano, outro custo que poderia prejudicar o investimento.

“Os investidores às vezes acham que três ou quatro reais a mais por mês não é importante, mas em 30 anos faz muita diferença. As pessoas precisam se informar para reduzir custos no que puderem”, afirma Jurandir Sell Macedo, consultor de Finanças Pessoais do Itaú e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Em algumas corretoras, dependendo da frequência de negociação do cliente, há isenção da taxa de custódia. No Rico, por exemplo, se o investidor realizar ao menos uma operação por mês, a taxa cobrada pela Bolsa é coberta pela corretora e o cliente fica isento do pagamento.

Menor liquidez

Segundo dados da BM&FBovespa, no mês de setembro foram realizadas 13.494.173 de negociações no mercado padrão e apenas 155.917 no mercado fracionário, 1,15% do volume do mercado padrão. Os dados mostram que o mercado fracionário possui menor liquidez, ou seja, menor quantidade de negociações que o mercado à vista.

Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, home broker da Título Corretora, explica que esta menor liquidez pode implicar um maior spread na operação no mercado fracionário, isto é, uma maior diferença entre os preços de compra e de venda da ação. “Como há menor demanda, uma mesma ação pode ser negociada a um valor mais baixo no mercado fracionário do que no mercado padrão. Isso quando o investidor consegue negociar, porque com a baixa liquidez, ele pode não conseguir vender todos os dias. Então além de correr o risco de não conseguir vender, ele pode sair bastante penalizado no preço”, esclarece.

Monica Saccarelli, diretora do home broker Rico, da Octo Investimentos, orienta que o investidor que pretende investir no mercado fracionário prefira as ações com maior volume de negócio na Bolsa, as chamadas blue chips, como Petrobras e Vale. “Se o investimento for feito em uma ação menos conhecida, o investidor pode não encontrar comprador no mercado fracionário”, afirma. 

Segundo ela, quem investe atualmente no mercado fracionário pelo Rico normalmente tem a intenção de formar uma poupança em ações. “É o investimento de longo prazo. O investidor compra uma pequena quantidade de ações todo mês, e vai formando aos poucos uma carteira que não teria como formar de uma vez só", diz Mônica.

Segundo Paulo Bittencourt, comprar ações fracionadas até formar um lote-padrão pode ser uma boa alternativa para driblar a baixa liquidez do investimento. Quando quiser vender suas ações, o investidor poderá fazê-lo no mercado padrão, correndo menos risco.

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