Casal endividado: Seja pró-ativo e apresente uma proposta ao banco (Thinkstock/Thinkstock)
Anderson Figo
Publicado em 27 de junho de 2017 às 05h00.
Última atualização em 27 de junho de 2017 às 15h26.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) cortou, no fim de maio, a taxa básica de juros da economia para 10,25% ao ano. Foi a sexta redução consecutiva da Selic, que deve fechar 2017 em 8,5% ao ano, segundo a versão mais recente do Boletim Focus.
Embora a Selic não esteja diretamente relacionada com os juros cobrados em linhas de crédito para pessoas físicas, que são bem mais altos (chegam a ultrapassar os 400% ao ano), ela acaba balizando o rumo das taxas. Ou seja, quando a Selic sobe, os juros dos empréstimos tendem a subir, e quando ela cai, as alíquotas caem junto.
Por esse motivo, este é um bom momento para você tentar renegociar suas dívidas com o banco. “As instituições financeiras estão mais flexíveis com a crise econômica e a alta inadimplência. O banco vai ter que escolher entre não receber nada e receber alguma coisa”, diz Miguel de Oliveira, economista da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
“Quando os juros estão mais baixos, é hora de aproveitar para renegociar sua dívida. Mesmo que você não esteja inadimplente, é um momento bom para fazer isso”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
“A taxa média de juros para o crédito pessoal não consignado em janeiro estava em 7,6% ao mês e passou para 7,1% ao mês em abril, de acordo com dados do Banco Central. Pode parecer pouco, mas quando cobrada no longo prazo, a alíquota menor pode fazer você economizar bastante dinheiro”, completa Rabi.
O primeiro passo para renegociar sua dívida é verificar se de fato os juros cobrados pela linha de crédito estão acima do que tem sido praticado no mercado. As taxas médias cobradas pelos bancos em cada modalidade de empréstimo podem ser consultadas no site do Banco Central.
Em seguida, é hora de ser pró-ativo: faça você mesmo ao banco uma proposta com o valor que você gostaria de pagar pelo empréstimo. “Tem que ser sincero. Se falar para o banco que pode pagar uma parcela de 500 reais por mês e ele aceitar, é preciso cumprir, senão a situação pode piorar para você”, diz Fernando Marcondes, planejador financeiro da GGR.
Para fazer um bom negócio, coloque no papel a renda mensal, já descontando os impostos e benefícios, e subtraindo desse valor os gastos essenciais, como os relacionados à casa, à alimentação e à saúde. Você também deve cortar ao máximo as despesas supérfluas.
O saldo que restou é o que deve ser proposto como pagamento mensal da dívida ao banco. Vale lembrar que eventuais rendas extras, como o 13º salário, o saldo do FGTS inativo ou a restituição do Imposto de Renda, podem ser utilizadas para abater o valor da dívida. Nesse caso, você pode pedir desconto por causa do pagamento antecipado das parcelas.
“É necessário prestar atenção no CET, o Custo Efetivo Total da operação, para não ser enganado. Muitas vezes o banco diminui a taxa de juros, o que reduz o valor da parcela, mas dobra o prazo do empréstimo. Então, no fim, você vai acabar pagando mais do que antes”, alerta Oliveira, da Anefac.
Onde você irá pedir a renegociação também é importante. “Se a pessoa estiver inadimplente, o banco provavelmente irá procurá-la. Nesse caso, basta que ela já tenha a proposta pronta. Já se a pessoa estiver com o pagamento em dia, ela tem a opção de procurar o mesmo banco ou ir até uma instituição diferente e pedir a portabilidade”, afirma Marcondes, do GGR.
É possível portar a dívida para outra instituição financeira que ofereça condições melhores de pagamento. Ao pesquisar taxas de juros, prazos e benefícios oferecidos por outros bancos, é possível pressionar o credor para que sejam oferecidas condições semelhantes. Caso o acordo não avance, você deve efetivamente levar a dívida para outra instituição financeira.
Todos os grandes bancos já permitem ao cliente renegociar a dívida online, inclusive durante feirões de renegociação de dívidas, que não têm cronograma fixo e são realizados por empresas de recuperação de crédito, como Serasa e SPC.
Mas se você puder ir a uma agência física do banco e entrar em acordo com a instituição financeira pessoalmente, melhor. As renegociações online costumam ser padronizadas e baseadas em um perfil médio de cliente. Ou seja, podem não ser a melhor opção, dependendo do caso.
“Pessoalmente você pode conseguir uma condição melhor por parte do banco”, diz Rabi, da Serasa. Só é preciso ficar atento com uma possível venda casada de produtos. “Pode acontecer de o gerente condicionar a redução do juro da dívida à contratação de algum outro produto da instituição. Se for algo que você de fato queria ou precisava, ok. Mas, se não for, denuncie ao Procon e ao Banco Central”, afirma Miguel, da Anefac.
Uma vez feita a renegociação, é necessário um cuidado ainda maior para não se descontrolar e deixar de pagar as parcelas novamente. Se você ficar inadimplente de novo, o banco pode se recusar a diminuir os juros ou prolongar o prazo do empréstimo.
“A dica é nunca querer antecipar desejos. Se você quer muito comprar uma coisa que não cabe no seu bolso, em vez de pegar um crédito para adquiri-la, espere mais algum tempo”, completa Marcondes, da GGR.