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Com juros de 27% ao ano, o dobro da Selic, brasileiro prefere comprar carro zero à vista

Pelo menos 65% adquirem veículo novo sem fazer parcelamento; terceiro trimestre foi o melhor do ano em vendas

Carros da BMW (Graham Crouch/Bloomberg/Getty Images)

Carros da BMW (Graham Crouch/Bloomberg/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 7 de outubro de 2022 às 21h16.

Com taxa de juros a 27% ao ano nas vendas do setor automotivo, quase o dobro da Selic (a taxa básica de juros) o brasileiro está comprando o carro zero quilômetro à vista. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), associação que representa as montadoras, atualmente 65% das vendas são à vista e 35% a prazo. Normalmente, as vendas financiadas costumam ter um percentual superior às compras à vista.

— A taxa de 27% é oferecida para clientes com bom perfil de crédito. Para quem não tem esse perfil, os juros são ainda maiores, o que afasta muitos consumidores desse mercado — diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

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A inversão entre compras de veículos a prazo e à vista começou em abril do ano passado e, desde então, essa curva só vem aumentando. Esse movimento coincide com o início do ciclo de aperto monetário promovido pelo Banco Central, que começou a subir os juros para conter a inflação desde março do ano passado.

O presidente da Anfavea afirma que, mesmo com essa inversão da curva, o mercado ainda não foi impactado negativamente com queda de vendas. O terceiro trimestre deste ano, por exemplo, foi o melhor em vendas do ano. Foram comercializados 585 mil unidades frente as 512 mil do segundo trimestre e 406 mil no primeiro trimestre.

— Há uma forte demanda reprimida e ainda acontece uma limitação da produção por conta do problema no abastecimento de semicondutores. Os emplacamentos diários estão crescendo e o mercado continua se aquecendo. Mas há um teto para as vendas à vista. Nossa expectativa é que a Selic comece a cair ano que vem e a curva entre vendas à vista e a prazo comece a se inverter novamente no decorrer de 2023 — diz Leite.

Por conta dos juros altos, os prazos de financiamento têm sido ampliados, chegando a 47 meses. Já a taxa de inadimplência subiu batendo em 5,1% e preocupa o setor.

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Vendas e produção em alta

A indústria automotiva teve o melhor desempenho do ano no terceiro trimestre, tanto em vendas como em produção. Saíram das linhas desmontagem das montadoras 665 mil unidades entre julho e setembro, um crescimento de 11,5% em relação ao trimestre anterior quando foram produzidas 596 mil unidades entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. No primeiro trimestre, a produção foi de 496 mil unidades.

Para chegar à estimativa da Anfavea de vendas 2,14 milhões de unidades este ano, será necessário que até o final do ano sejam vendidas mais 637 mil unidades, o que a entidade considera factível. Em 2021, nos três últimos meses do ano, foram vendidas 542 mil unidades, em 2020 684 mil e em 2019, antes da pandemia, 758 mil unidades.

— É um desafio que temos, mas devemos bater a estimativa. Dezembro o mercado deve aquecer. Só das locadoras, há uma sensação de demanda de 600 mil veículos — diz o presidente da Anfavea.

Visita ao Japão e Taiwan

Márcio de Lima Leite afirmou que uma comitiva brasileira, com representantes da Anfavea, governo e Confedreação Nacional da indústria (CNI) visitou Japão e Taiwan recentemente na tentativa de atrair investidores para produzir semicondutores no Brasil. Leite disse que o governo deverá editar em breve uma Medida Provisória com incentivos fiscais, isenções tributárias e simplificação no sistema de importação e exportação para atrair esses investidores.

— O ministro Paulo Guedes disse que a MP será publicada já que o governo quer contratar esse investimento. Já temos uma fábrica com toda a infraestrutura em Minas para agilizar essa produção — afirmou Leite.

O Brasil representa cerca de 2,5% do mercado semicondutores global, o que, segundo o presidente da Anfavea, é um número expressivo. A importações desses chips chega a US$ 13 bilhões ao ano. O tamanho da indústria brasileira, diz leite, justifica esse investimento, Mas o martelo ainda não está batido.

— É um processo, que precisa de vários encontros — afirmou.

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