Investimentos: fundos de renda fixa com resgate de seis meses a um ano só ganham da poupança quando a taxa de administração é menor que 1% ao ano (Uelder Ferreira/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 07h35.
São Paulo - O achatamento da taxa de juros tirou o investidor brasileiro da zona de conforto. O ciclo de queda da Selic, que nesta quarta-feira, 7, desceu mais um degrau, a 6,75% ao ano, esmagou a rentabilidade de boa parte dos ativos de renda fixa - que antes eram sinônimo de ganho fácil.
Produtos como o Tesouro Selic, CDBs e fundos DI com taxas de administração mais salgadas agora se igualam ou até perdem para a caderneta de poupança, instigando até o investidor mais conservador a dar seus primeiros passos na renda variável.
De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), fundos de renda fixa com resgate de seis meses a um ano só ganham da poupança quando a taxa de administração é menor que 1% ao ano.
Acima de dois anos, os fundos só são vantajosos se tiverem taxas de até 1,5% ao ano. A poupança agora sai na frente desses produtos pois é isenta de Imposto de Renda (IR).
Segundo cálculos da professora de finanças e sócia da BSG DuoPrata, Betty Grobman, descontado o IR, uma aplicação de R$ 10 mil num CDB de um banco de grande porte que rende 89% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic) daria um retorno, em um ano, de R$ 10.472,80 - praticamente o mesmo que a poupança, que renderia no período R$ 10.472.50.
O cardápio dos investimentos mais conservadores só fica mais interessante quando se olha os produtos de bancos menores - que, por apresentarem mais risco, oferecem um ganho maior, com rendimento acima de 100% do CDI.
"Com esse movimento dos juros, os bancos serão forçados a baixar as taxas de administração de seus fundos de renda fixa, à medida que crescerem os resgates dessas aplicações", afirma Miguel Oliveira, diretor da Anefac. "A Selic caiu muito, mas as taxas estão praticamente no mesmo patamar, de 2% a 3% ao ano."
A diminuição dos retornos, aliada ao bom desempenho da Bolsa nos últimos meses, tem incentivado o investidor a dar seus primeiros passos em produtos de renda variável. É o caso da estagiária Ana Beatriz Esteves, que diversificou de maneira expressiva seus investimentos.
"Eu investia apenas em renda rixa atrelada ao CDI ou à inflação. Com a taxa em constante queda, pude criar mais confiança e assim, no final do ano passado, comecei em fundos multimercado, de ações e fundos imobiliários", conta. Hoje, 40% de sua carteira é de renda variável.
Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, é preciso cautela na hora de migrar para aplicações mais arrojadas.
"Não é aconselhável que o investidor comece comprando ações diretamente, pois isso exige muito conhecimento, ainda mais em ano eleitoral", observa.
"É bom optar por fundos de ações de dividendos, por exemplo, além de fundos multimercado e fundos imobiliários mais diversificados", disse. Além disso, ele observa que o investidor deve diversificar, mas não abandonar suas aplicações em renda fixa, sobretudo a fatia de reserva de emergência, que exige ativos de maior liquidez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.