Minhas Finanças

Cinco lições do Panamericano a investidores

Aproveitar as regras do jogo para investir sem risco, não colocar todos os ovos na mesma cesta e preferir bancos grandes estão entre as lições

Grupo Silvio Santos aportará R$ 2,5 bi no Panamericano (Divulgação)

Grupo Silvio Santos aportará R$ 2,5 bi no Panamericano (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2010 às 23h17.

A crise no PanAmericano pode ter um desfecho bem menos traumático que o de episódios anteriores, como o do Banco Santos. Se novos problemas não forem descobertos e o empresário Silvo Santos conseguir vender empresas para pagar o empréstimo que possibilitou a injeção de 2,5 bihões de reais no banco, a hipótese de quebra do PanAmericano ficará cada vez mais remota. Nem por isso os investidores não têm o que aprender com o episódio. Abaixo, EXAME.com lista cinco lições das dificuldades do PanAmericano:

1 - Aproveite as regras que possibilitam o investimento em CDBs sem risco

Segundo resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), todos os correntistas e investidores em CDB (Certificados de Depósito Bancário) serão ressarcidos em até 60.000 reais pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) caso o banco em que foi feito o depósito quebre. Para especialistas de mercado, a decisão de Silvio Santos de tomar um empréstimo de 2,5 bilhões de reais para injetar recursos no PanAmericano deve ser suficiente para que a instituição continue a operar normalmente até que seja feita a limpeza dos balanços e o banco possa ser vendido. Apesar de a quebra do PanAmericano ter se tornado bem menos provável, o caso serviu para mostrar que o pequeno investidor só fica sabendo dos problemas de uma instituição financeira quando eles já tomaram uma dimensão que coloca em risco o patrimônio do indivíduo. A dica, portanto, é dividir o dinheiro entre várias instituições financeiras de forma que em nenhuma delas haja mais de 60.000 reais depositados em conta corrente, caderneta de poupança e CDBs. Uma pessoa que deseja aplicar 250.000 reais em CDBs, por exemplo, elimina o risco da aplicação se dividir o dinheiro igualmente entre papéis de cinco bancos diferentes.

Essa regra básica de funcionamento do FGC é bastante simples, mas é preciso prestar atenção às nuances. O FGC garante 60.000 reais de restituição por CPF, e não por produto. Se o investidor tiver 60.000 reais em poupança e mais 60.000 reais em CDBs de um mesmo banco, só a metade do patrimônio estará garantido. O dinheiro depositado em fundos não entra nessa conta, já que os quotistas podem transferir a administração para uma segunda instituição financeira caso a primeira enfrente dificuldades. Ações também ficam de fora, já que basta para o investidor transferir esses investimentos para outra corretora. Há, no entanto, uma regra específia para conglomerados de instituições financeiras que deve ser levada em consideração pelo investidor. Uma pessoa que tiver 60.000 reais numa conta de um banco e mais 60.000 em outra instituição do mesmo grupo só terá metade do patrimônio protegido pelo FGC. Outra exceção é para contas conjuntas. Nesse caso, não serão pagos 60.000 reais por pessoa. Esse valor terá de ser dividido entre os titulares. Por outro lado, cônjuges e dependentes possuem CPFs diferentes e são considerados pessoas físicas distintas do titular de uma conta. Mesmo que cada um tenha uma conta diferente no mesmo banco, todos estarão protegidos até o limite de 60.000 reais.

2 - Não coloque todos os ovos na mesma cesta

Para os investidores que possuem uma grande quantidade de dinheiro, provavelmente não será suficiente dividir os recursos investidos em CDBs entre vários bancos. Nesse caso, a principal dica é repartir os recursos entre várias aplicações diferentes. Entre os investimentos de risco mais baixo, é possível dividir a aplicação do dinheiro entre títulos públicos do governo, poupança, CDBs e fundos de renda fixa. Quem tolera um pouco mais de risco pode partir para fundos multimercados, imóveis com liquidez, fundos imobiliários e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). Para o investidor agressivo, a recomendação dos especialistas é colocar até 30% do patrimônio em bolsa ou fundos de ações. Nas duas modalidades, os recursos devem ser divididos entre vários papéis diferentes. Posições mais arriscadas devem receber um volume de recursos menor. Nesse caso, podem ser incluídas empresas que nas últimas décadas passaram por diversas crises, como de construção, açúcar e álcool, frigoríficos ou companhias ou aéreas, entre outras.


Uma maneira inteligente de diversificar investimentos é com a compra de ETFs (fundos de índices de ações negociados em bolsa). Geridos no Brasil pela BlackRock e pelo Itaú, esses fundos podem ser comprados via home broker e cobram algumas das menores taxas de administração entre os fundos de ações do mercado. O produto naturalmente oferece uma estratégia pronta de diversificação ao investidor, já que o rendimento segue o desempenho de cestas de várias ações diferentes. Clique aqui e saiba mais sobre os ETFs.

3 - Muito cuidado com os bancos médios

O setor de bancos médios é complicado por natureza. As ações do banco PanAmericano despencaram com o anúncio das fraudes contábeis e acumulam queda de 35% neste mês. Papéis de outras instituições financeiras pequenas e médias também caíram. Esses bancos não abrem contas correntes para clientes. Toda a captação dos recursos que vão financiar a expansão da carteira de crédito tem que ser feita no mercado, via CDBs, FIDCs, debêntures ou emissões externas. Quando o crédito se torna escasso, como em 2008, essas instituições podem ter problemas de liquidez ou serão obrigadas a pagar caro para levantar dinheiro, o que compromete as margens de lucro. Foi o que aconteceu com o banco Votorantim, que teve metade do capital vendido para o Banco do Brasil na última crise. Os grandes bancos de investimento americanos, que trabalham da mesma forma, também passaram por sérios apuros em 2008. O Lehman Brothers quebrou. A Merrill Lynch e o Bear Stearns foram vendidos. E mesmo nomes sólidos como Goldman Sachs e Morgan Stanley tiveram dificuldades.

Uma mostra que o setor é complicado está nas carteiras de ações mais recomendadas pelos analistas para investimentos na BM&FBovespa (clique aqui e veja). Há bancos em 15 dos 18 portfólios de papéis indicados para novembro. No entanto, a maior parte das ações recomendadas são de grandes bancos, como Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil. Os bancos médios aparecem apenas em quatro carteiras. E o banco PanAmericano só era considerado um dos melhores investimentos do mercado brasileiro pela Planner. "É importante o investidor ouvir os analistas e não ser ganancioso demais", diz o educador financeiro Mauro Calil.

4 - Olhar o rating não é suficiente para tomar uma decisão de investimento

Muitas vezes, o pequeno investidor não tem informação suficiente para decidir sobre um investimento, principalmente na área de renda fixa, onde os relatórios de análise são mais escassos. Uma das fontes utilizadas para a obtenção de dados são as avaliações divulgadas pelas agências de rating, que olham os balanços das empresas para dar uma nota aos papéis. No caso do PanAmericano, as notas eram bastante satisfatórias. Em julho, logo após a Caixa Econômica Federal concluir a compra de participação acionária no banco PanAmericano, a agência Fitch melhorou a avaliação de risco das dívidas em reais do banco. Os analistas da agência justificaram a decisão com "o suporte que o banco receberia da Caixa em momentos de estresse". "A Fitch entende que a Caixa, mesmo na condição de acionista minoritário, dispõe da capacidade e intenção de suportar as operações do Panamericano em caso de necessidade", diz o relatório. Nada disso aconteceu na última semana.


Já a agência Moody's concedia rating "A1" para as dívidas em reais do PanAmericano, uma nota dada para as empresas que "apresentam qualidade de crédito acima da média em relação aos outros emissores domésticos". A Austin Rating, por sua vez, concedia nota "A" para o banco, que seria um "negócio seguro e valorizado", com "boa situação financeira atual e histórica". Depois que o banco divulgou a existência de "inconsistências contábeis" na terça-feira, a Austin retirou o rating, a Fitch reduziu a nota e a Moody's colocou sua avaliação em perspectiva negativa.

Ao contrário do que aconteceu na crise do subprime, nenhuma agência de rating pode ser acusada de negligência ou de ter feito um trabalho mal-feito no caso do PanAmericano. Afinal, as notas foram dadas com base em balanços fraudados divulgados pelo banco e nem auditorias externas contratadas para olhar com lupa os números perceberam as irregularidades. O episódio evidencia, no entanto, que quem apenas avalia o rating antes de comprar um CDB, uma debênture, um FIDC ou um fundo imobiliário corre sérios riscos de perder dinheiro. "Olhar o rating é o que deve fazer um investidor que está em Dubai e que tem centenas de papéis de renda fixa na carteira", diz o educador financeiro Mauro Calil. "Quem mora no Brasil tem condições de ir atrás de mais informações, ler e perguntar a opinião de especialistas."

5 - Verifique quem é o controlador da empresa antes de investir

Independente do quanto Silvio Santos sabia sobre o que se passava dentro do banco, a atuação do apresentador foi importante para evitar sua quebra. Em primeiro lugar, ele mostrou um desprendimento acima da média ao oferecer como garantia todas suas empresas para tomar o empréstimo de 2,5 bilhões de reais que evitou uma intervenção do Banco Central. Não é preciso pensar muito para lembrar de empresários brasileiros que, em situação parecida, abriram mão da reputação para não dilapidar a fortuna que lhes restava.
Mas o empréstimos sem juros e com carência de três anos só foi liberado porque o apresentador possuía um patrimônio de 2,7 bilhões que foi suficiente para convencer o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de que ele poderia receber de volta o dinheiro no futuro. Por último, da forma que a situação se desenrolou, salvar o PanAmericano era a melhor solução tanto para o governo quanto para o FGC por três motivos: 1) evitava o risco de pânico no mercado e quebra de outros bancos; 2) a Caixa Econômica Federal era sócio de Silvio Santos e teria perdas milionárias sem o empréstimo; 3) o FGC seria obrigado a gastar 2,2 bilhões de reais para garantir depósitos de clientes caso o PanAmericano quebrasse. Portanto, ser acionista ou poupador de um banco que tem como controlador um empresário com reputação a zelar, bilhões de reais de patrimônio, oriundo de uma empresa de mídia e com bom trânsito no governo é bem melhor do que ser sócio de alguém que não tenha nada disso.

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