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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
As perdas de boa parte do setor financeiro americano com a crise das hipotecas têm colaborado para o surgimento de um novo estilo de gestão dos grande bancos, afirma a edição desta quinta-feira (15/11) do periódico nova-iorquino Wall Street Journal (WSJ). Após anos de crescimento acelerado com base em atividades como empréstimos imobiliários a pagadores com histórico de inadimplência, as empresas do setor passaram a optar "por um tipo de líder que mergulhe nas minúcias da administração de riscos", aponta o jornal.
O exemplo mais recente dessa tendência é o gigante Merril Lynch, um dos mais afetados pelo prejuízo com os subprimes. Após anunciar a incorporação ao balanço do terceiro trimestre de uma perda de 8,4 bilhões de dólares com títulos lastreados em hipotecas, a instituição retirou esta semana do cargo de executivo-chefe o americano Stan O';Neal, para substitui-lo por John Thain, presidente da NYSE Euronext, grupo que controla a Bolsa de Valores de Nova York.
Aos 52 anos, Thain já foi negociador de títulos com lastro imobiliário na concorrente Goldman Sachs e tem um perfil administrativo semelhante aos dos líderes das três empresas que têm sobrevivido melhor à crise atual, o JP Morgan, o Goldman Sachs e o Lehman Brothers. Segundo o WSJ, todos eles são executivos com atuação direta nas atividades do banco e conhecimento dos detalhes das áreas de atuação, a ponto de não serem facilmente influenciados pelos atuais negociadores de títulos. Eles não chegam a ter aversão ao risco, mas mostram uma compreensão profunda sobre onde há armadilhas que podem levar a perdas - e têm as "cicatrizes" acumuladas ao longo da carreira para provar sua capacidade de lidar com isso, como descreve o WSJ.
Essa característica de "entender como se apaga o incêndio" foi citada pelo próprio John Thain, em entrevista aos jornais americanos. Segundo ele, o Merril tem uma forte atuação em setores como administração de recursos, investimentos e negociação de papéis. No entanto, o banco "apresenta uma área problemática, e é uma área sobre a qual eu sei bastante", afirmou Thain, citando sua experiência como administrador da área de hipotecas do Goldman Sachs, entre 1985 e 1990.
A escolha do "bombeiro" Thain para o posto de CEO foi uma surpresa para os analistas do mercado financeiro, inclusive para os funcionários da Merril Lynch. As apostas antes do anúncio estavam todas voltadas para Larry Fink, executivo-chefe da empresa de asset management Black Rock, da qual a Merril detém quase metade do capital, mas a opção por um executivo experiente e conhecido no mercado acabou bem recebida pelos acionistas da Bolsa de Valores de Nova York. Na quarta-feira (14/11), logo após o anúncio da decisão, as ações da companhia subiram 4,4%, disparada que foi contida ao longo do dia pela cautela com o setor financeiro e acabou se transformando numa alta de 1,8%, próximo do fechamento do pregão.