Investimentos: o impacto nos fundos multimercados e em fundos de ações foi grande (Thinkstock/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2017 às 15h42.
A delação da JBS envolvendo o presidente Michel Temer tirou todo o otimismo construtivo criado pela expectativa de aprovação das reformas e mudou razoavelmente o cenário que todos esperavam para o Brasil.
E, do ponto de vista do investidor, o ambiente ficou bem mais confuso, pois havia a expectativa de queda dos juros não só no curto prazo, pela inflação e a atividade mais baixas, mas também no longo prazo, com as reformas, especialmente a da Previdência.
A avaliação é de George Wachsmann, sócio responsável pela área de seleção de gestores da GPS Investimentos, empresa especializada em consultoria e planejamento para famílias mais ricas.
Já a bolsa não teve um movimento mais forte de perdas porque a queda expressiva dos preços e a alta do dólar acabaram criando oportunidades para os estrangeiros comprarem ações mais barato, diz o executivo.
E o dólar, que havia subido em um primeiro momento, também cedeu depois, com a entrada de estrangeiros.
Mas o impacto nos fundos multimercados e em fundos de ações foi grande, avalia o especialista.
“Há um mês, todos esperavam um movimento muito intenso de queda dos juros e a maioria dos gestores estava em uma ponta só, o que trouxe perdas para todos, mas especialmente para os que tinham mais posição em juros”, diz o executivo.
Hoje, a principal aposta da GPS é na renda fixa atrelada a inflação, na qual o investidor pode ter a melhor combinação de poder aproveitar a queda da Selic com um juro real ainda alto travado por alguns anos e proteção para caso as coisas piorem.
Na bolsa, a recomendação ainda é de cautela. “Desde o meio do ano passado vínhamos diminuindo a alocação em bolsa,”, diz Wachsmann.
O ajuste durou até a eleição do presidente Trump, depois parou e depois voltou, mas o total de ações ainda está abaixo do nível médio da recomendação, explica.
“E estamos nos aproveitando de oportunidades no mercado de crédito, tem prêmios interessantes”, afirma o executivo.
“Também não carregamos apostas em câmbio porque nosso cliente já tem uma posição razoável em aplicações lá fora”, diz.
Em alguns casos, a posição no exterior é via gestores de fundos com investimentos lá fora.
Wachsmann diz que o portfólio dos gestores de fundos multimercados não mudou muito, ainda que alguns tenham sofrido bastante com esse movimento de mercado muito estressante.
“Mesmo quem estava com grandes proteções não conseguiu evitar as perdas, e elas funcionaram nos primeiros dias, mas depois não mais porque o mercado não foi tão longe e logo recuperou parte do prejuízo”, observa.
Para ele, o cenário mais provável é a saída do presidente Michel Temer e a eleição indireta de alguém que em algum momento consiga retomar agenda de aprovação de reformas até o fim do ano.
“Com isso, perdemos este ano, que não é tão relevante no ponto de vista fiscal, mas retomamos as reformas e elas começam a fazer efeito no ano que vem, esse é o cenário mais otimista”, diz.
No cenário mediano, Temer não sai, mas também não retoma a agenda de reforma da Previdência, permanecendo com um governo fraco, como o do fim do governo Sarney.
Outra possibilidade é que Temer saia e o presidente eleito pelo Congresso não tenha força para retomar a reforma.
“Aí perderemos este ano e 2018 em termos fiscais e vamos ter uma eleição presidencial com pressão maior do lado fiscal”, observa.
“Nesse caso, a questão da reforma da Previdência vai ter de ser endereçada mais rapidamente pelo novo presidente”, diz Wachsmann.
E no terceiro cenário, o pior, a situação se descontrola, com eleição direta para presidente com um candidato favorito contra as reformas.
Ou alguém é eleito em 2018 sem interesse em levar adiante as reformas e o ajuste.
Para Wachsmann, hoje são baixas as chances de um cenário assim, “mas elas não são zero”, alerta.
Aí os mercados se descontrolariam, com o dólar disparando e contaminando a inflação.
O gestor lembra que o teto de gastos funciona como um portão para limitar o aumento da despesa pública, mas “se forçar, ele se rompe”, alerta.
Qualquer cenário que não venha a manter esse limite de gastos será catastrófico, afirma Wachsmann. “Mas os cenários mais prováveis são os mais construtivos”, lembra.
Sobre os investimentos, Waschsmann vê oportunidades em papéis do governo corrigidos pela inflação, as NTN-B, quando títulos privados, de empresas e bancos.
“Gostamos tanto de renda fixa atrelada à inflação quanto crédito privado, pelo risco-retorno “, afirma.
Ele lembra que há oportunidades em debêntures de infraestrutura, que são papéis isentos de imposto de renda para pessoas físicas.
“Mas são operações estruturadas, não são coisas óbvias, exigem uma análise mais detalhada para avaliar as boas oportunidades pois há o risco de crédito”, diz.
Com relação ao prazo das NTN-B, Wachsmann diz que é preciso tomar cuidado pois os papéis mais longos possuem fortes oscilações, semelhantes às da renda variável.
“Isso varia de cliente para cliente, mas, para meus filhos, por exemplo, não haveria problema NTN-B com vencimento em 2035, 2045”, diz.
A preferência para a maioria dos clientes da GPS, porém, tem sido papéis com prazo entre 6 e 8 anos, que possuem oscilações menores quando os juros do mercado caem ou sobem.
“E usamos uma combinação com crédito privado para se proteger das oscilações”, diz Wachsmann.
“Não alongamos muito, pois sempre pode haver uma surpresa e é preciso olhar o risco-retorno”, explica.
Com a perspectiva de forte queda dos juros, os investidores já vinham entrando em uma onda de buscar mais risco para manter os ganhos.
“Agora é preciso saber quem é marinheiro de primeira viagem, pois quem trocou a poupança por multimercado pode ficar atordoado um pouco com as perdas”, alerta.
Em seu contato com os gestores, Wachsmann diz não tem visto grandes movimentos de resgate em fundos, “se bem que é cedo”, alerta.
Aparentemente, as coisas estão calmas, mas é precisa mais tempo, diz. “O marinheiro de primeria viagem não recebeu extrato de maio, e quando isso acontecer vamos ver sua reação”, explica.
Para Wachsmann, porém, o que fez o investidor entrar no fundo multimercado não mudou, “portanto, ele não deveria sair”, diz.
Ele lembra que a expectativa de queda nos juros continua e traz um cenário mais construtivo. “As oportunidades à frente não mudaram totalmente, mas ninguém disse no passado que ia ser uma barbada”, afirma.
“Infelizmente, porém, algumas plataformas de distribuição de investimentos podem não ter explicado bem os riscos de maneira cuidadosa”, afirma.
Nos multimercados, Wachsmann observa que muitos fundos que se assustaram com as perdas, reduziram posições ou foram “estopados”, ou seja, obrigados pela bolsa ou pelos seus regulamentos internos a reduzir as aplicações.
E a grande maioria reduziu suas apostas, mas as oportunidades estão mantidas, talvez com uma dinâmica diferente, de mais longo prazo.
Sobre fundos imobiliários, que voltaram a atrair investidores, Wachsmann diz que “tem muita coisa interessante”, mas que é preciso tomar cuidado porque esses fundos dependem da dinâmica do setor imobiliário, que tem uma liquidez específica que depende muito da recessão.
“E a recessão ainda não terminou, por isso não dá para sair comprando qualquer fundo imobiliário como no passado”, afirma.
No caso das ações, a gestora está aumentando sua parcela nas carteiras dos clientes, para perto do percentual médio histórico.
“Mas no momento estamos parados, preferindo renda fixa atrelada à inflação”, diz.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Arena do Pavini.