Minhas Finanças

Casal acumula R$ 1 milhão para viajar pelo mundo em um veleiro

O analista de sistemas João Pedro Costa e a engenheira ambiental Adriana Costa contam como se prepararam para mudar radicalmente de estilo de vida

O analista de sistemas João Pedro Costa, 36 anos, e a engenheira ambiental Adriana Costa, 30 anos: planejamento durou cinco anos. (Arquivo pessoal/Divulgação)

O analista de sistemas João Pedro Costa, 36 anos, e a engenheira ambiental Adriana Costa, 30 anos: planejamento durou cinco anos. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 14 de novembro de 2017 às 05h00.

Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 10h32.

São Paulo - O plano inicial era comprar um imóvel, mas o objetivo evoluiu para um ano sabático, longe do mundo corporativo. Agora, o analista de sistemas João Pedro Costa, 36 anos, e a engenheira ambiental Adriana Costa, 30 anos, pretendem passar cerca de oito anos viajando pelo mundo a bordo de um veleiro. O objetivo do casal, que vive em São Paulo, é obter renda com a embarcação, promovendo passeios turísticos que incluam mergulho, hobby de ambos.

Para concretizar o projeto, tiveram de ter muita disciplina e planejar cuidadosamente as finanças ao longo de cinco anos. Foi nesse período que conseguiram economizar boa parte de um valor próximo de 1 milhão de reais. A maior parte dos recursos foi usada na compra de um veleiro de 38 pés, com três cabines: a montagem e os acessórios consumiram cerca de 620 mil reais da reserva.

Antes do projeto de vida tomar forma, tudo o que tinham era uma poupança  de 180 mil reais, obtida por João Pedro ao longo de sete anos, desde o seu primeiro estágio na faculdade, e também por Adriana.

João Pedro conta que um grande incentivador para começar a poupar foi seu irmão, que gostava muito da área financeira. "Comecei a juntar dinheiro desde que passei a ganhar dinheiro. Foram 100 reais, 200 reais por mês, que ia incrementando conforme o meu salário aumentava. Não deixava de viver, mas nunca gastei demais", conta.

O analista de sistemas reconhece que, inicialmente, não colocava a sua reserva financeira nos melhores investimentos: deixava uma porção na poupança, para resgates mais imediatos, a maior parte aplicada em CDBs que não rendiam muito e outra pequena parte em títulos de capitalização. Adriana também tinha um valor aplicado na poupança, em CDBs e em um plano de previdência.

Ambos aprimoraram seus conhecimentos sobre aplicações mais tarde, quando começaram a pensar em um projeto bem mais conservador do que a aventura na qual estão prestes a embarcar.

Corte de gastos, investimentos certos e trabalho extra

Tudo começou quando Adriana resolveu contratar, em 2012, um planejador financeiro. A ideia inicial era juntar dinheiro para comprar um imóvel.

Analisando o perfil do casal, a consultoria financeira buscou investimentos com risco moderado. "Cerca de 15% do que a gente tinha foi colocado em investimentos mais agressivos e passou a render mais", conta João. O produto escolhido foram majoritariamente fundos multimercados e, na porção mais agressiva, fundos de investimento em startups, os chamados venture capital.

Os namorados tiveram de criar uma conta conjunta. "O planejador não viu sentido em buscarmos o mesmo objetivo de forma separada". Se investissem cada um por si, o custo com impostos duplicaria, por exemplo.

Além de colocar as reservas financeiras do casal em investimentos mais rentáveis, o planejador financeiro também orientou que o casal cortasse gastos.

Analisando detalhadamente as despesas, o casal observou, por exemplo, que Adriana gastava muito com presentes. "O valor chegava a 6 mil reais por ano e chamou nossa atenção. Reduzimos esse valor, mas continuamos a jantar pontualmente com amigos, nada muito exagerado".

João e Adriana também costumavam gastar um pouco mais nas férias. O casal não deixou de viajar, mas viu que poderia gastar em 20 dias o que costumavam gastar em uma semana. "Começamos a nos questionar para que tínhamos de escolher um hotel caro para apenas dormir nele?". Mesmo economizando, o casal conseguiu fazer um mochilão pela Patagônia e o Peru.

Juntos, o casal ganhava cerca de 12 mil reais. "Com a redução dos gastos, conseguimos economizar entre 30% e 40% da nossa renda mensal durante três anos para investir. Colocamos metas e as seguimos ao longo desse período".

João Pedro Costa, 36 anos, e Adriana Costa, 30 anos, mergulhando em Bonaire

João Pedro Costa, 36 anos, e Adriana Costa, 30 anos, mergulhando em Bonaire: ao economizar, casal não deixou de viajar e praticar o hobby, paixão de ambos. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Mudança de rumo, mais corte de gastos e aumento da renda

Depois de três anos economizando, já com praticamente o dobro da reserva que tinham no início, o objetivo inicial foi se transformando na vontade de tirar um ano sabático. "Estávamos trabalhando em grandes empresas e cansados da correria da cidade. Bateu uma vontade de viajar pelo mundo".

Mas, pesquisando o quanto teriam de desembolsar para viajar durante um ano, viram que o custo benefício era ruim. "Além de corrida, a viagem seria cara", conta João.

Eles ficaram sem saber o que fazer, até que  Adriana conheceu a empreitada de uma família, que viajou por três anos em um veleiro a um custo não muito alto. "Ela olhou pra mim e disse: vamos atras de um veleiro? Topei", conta João.

Ao comunicar a mudança de rumo ao planejador financeiro, o corte de gastos teve de ser ampliado. "Como já vinhamos cortando despesas, não foi uma mudança muito brusca", diz o analista de sistemas.

Primeiro o casal deixou de ter faxineira, e cortou uma despesa de 360 reais por mês. "Passamos a fazer nós mesmos a limpeza do apartamento de duas em duas semanas".

João e Adriana tiveram também de reduzir drasticamente o valor de seus planos de dados do celular. "Gastávamos cerca de 230 reais por mês. Optamos por um plano Controle e passamos a gastar, juntos, 100 reais. Boa parte da economia foi obtida porque passamos a utilizar menos ligações e usar mais serviços de mensagens gratuitos". Eles também negociaram o valor do pacote de TV por assinatura. "Choramos muito e ficamos apenas com a internet em casa  a um custo de 100 reais por mês".

O casal também começou a sair menos. "Reduzimos as saídas para restaurantes para uma a duas vezes por mês, em locais acessíveis".

Além de cortar despesas, João e Adriana buscaram incrementar a renda alugando um quarto com banheiro de seu apartamento alugado, na zona oeste de São Paulo, em sites especializados. "Fizemos isso durante um ano e, em média, tivemos o quarto ocupado 80% do tempo. Conseguimos, com o aluguel, 400 reais por mês".

O casal também passou a receber cachorros no apartamento aos finais de semana, enquanto os donos dos bichos iam viajar. "Nos cadastramos em um site especializado e nos disponibilizamos a ficar com os bichos. Como queríamos economizar e não viajávamos durante os finais de semana e feriado, recebíamos os cachorros, que, aliás, adoramos". João estima que, em seis meses, faturaram 100 reais por mês com o serviço.

Instrutores de mergulho com certificado, João e Adriana começaram a dar aulas do hobby na cidade e no litoral do estado, conta o analista de sistemas. "Entramos em contato com lojas de mergulho oferecendo o nosso trabalho. Quando tinham turmas a mais, nos chamavam. Recebíamos entre 250 a 350 reais por final de semana. Além de dinheiro a mais, ganhamos experiência para o nosso projeto".

O casal também passou a trabalhar mais para entregar resultados e receber um bônus maior na empresa. "Mesmo com a economia em um momento difícil, conseguimos ganhar mais três salários por ano. Guardávamos a maior parte do dinheiro. Deixávamos só 20% do valor para aproveitar um pouco. Conseguimos, por exemplo, viajar para Bonaire, no Caribe, destino que é conhecido como o paraíso dos mergulhadores".

O casal conseguiu economizar até com seu canal no YouTube, o IPA Dive, montado no início do ano e que conta os preparativos para a viagem. "Conseguimos, pelo canal, fazer parcerias e obter descontos em produtos que mostramos nos vídeos. A estimativa é que já tenhamos conseguido cerca de 15 mil reais em descontos", diz João Pedro.

O dinheiro do FGTS liberado pelo governo este ano não poderia vir em uma hora melhor. "Tínhamos 60 mil reais nas nossas contas do fundo. Era um valor que parado, rendendo pouco, e que usamos para comprar equipamentos para o veleiro".

Adriana Costa e João Pedro Costa posam diante de seu veleiro: construção termina no mês que vem

Adriana Costa e João Pedro Costa posam diante de seu veleiro: construção termina no mês que vem (Arquivo pessoal/Divulgação)

Na reta final, duas surpresas desagradáveis

Tudo corria bem até que, no final de junho, João foi demitido. "Foi alguns meses antes do momento em que eu pediria demissão, mas pelo menos pude sacar o restante do FGTS que eu tinha, ganhei a multa de 40% sobre o valor aplicado no fundo e também recebi o 13º proporcional".

Apesar de ter sido surpreendido, João estava, de certa forma, se preparando para isso. "Seis meses antes a minha empresa já havia promovido um corte grande de funcionários. Aí tive a ideia, já que estávamos perto do prazo final para entrega do barco, de que entregar o nosso apartamento alugado e morar por pouco tempo com os pais da Adriana poderia nos ajudar a economizar mais". O casal pagava, pelo aluguel e condomínio, 3,5 mil reais por mês.

Antes de entregar o imóvel, João e Adriana conseguiram vender quase todas as suas coisas e arrecadaram mais dinheiro. "Ficamos só com coisas pequenas e algumas mudanças de roupa".

O casal entregou o imóvel em uma sexta. Na segunda seguinte, João foi demitido. "Foi uma dor de cabeça a menos porque a partir daquele momento não tínhamos nenhum gasto relevante e também porque logo depois soubemos que a entrega do veleiro ia atrasar". Na casa dos sogros, João passou a alimentar o blog e incrementar a edição de vídeos do canal do casal. Também correu atrás de peças que faltavam para a embarcação.

A compra do veleiro foi fechada no final de 2015 e parcelada em 15 meses. Desde então, o casal foi equipando a embarcação aos poucos, com rádio, painel e outros acessórios eletrônicos. A construção termina no mês que vem. "Esperamos passar o Ano Novo no barco", conta João, entusiasmado.

A estimativa é que ainda sobre uma reserva financeira de cerca de 300 mil reais para manutenção de despesas, principalmente no início do projeto. "Pretendemos ficar um ano no Brasil para ganhar experiência. Fizemos aulas em veleiros menores em represa. Não temos muita experiência, mas temos aptidão. A aprendizagem mesmo será no dia a dia do barco". A viagem começa no litoral de São Paulo e em Florianópolis. Depois, o casal de aventureiros parte para o Nordeste e o Caribe, onde pretendem viajar por dois anos.

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