São Paulo – Sentir o carro praticamente "voar" ao pisar no acelerador pode ser uma delícia, mas a conta paga por esse conforto pode trazer uma sensação bem diferente.

Como um motor maior geralmente está ligado a um veículo de preço mais alto, a decisão entre um carro com motorização superior, a um custo maior, ou um carro com motor menor, com mais economia pode não ser fácil. 

Apenas citando um rápido exemplo, enquanto o Volkswagen Novo Gol 1.0 (versão Mi 8V 2p) custa 30.573 reais, segundo dados da Tabela Fipe, o mesmo modelo, apenas com motor diferente, o Volkswagen Novo Gol 1.6 (versão Mi 8V 2p) custa 35.313 reais, preço 15% maior. 

Para mostrar os prós e contras de optar por um carro com motorização superior, ou ficar no pequeno e barato motor de 1.0 litro, EXAME.com conversou com Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.

Segundo o especialista, entre um motor e outro muita coisa muda no carro: "Performance, consumo, equipamentos, conforto, segurança, etc. O motor pequeno normalmente é mais econômico e os veículos equipados com ele têm manutenção menos onerosa e o contrário vale para os motores maiores", diz. 

Em outras palavras, as cilindradas do carro, informação que costuma vir grafada na traseira do veículo (1.0 litro = 1.000 cilindradas/ 2.0 litros = 2.000 cilindradas), podem fazer toda a diferença na decisão de compra. 

De maneira resumida, as cilindradas representam a soma dos volumes úteis de cada cilindro do motor e, geralmente, quanto maior a cilindrada, maior a potência do veículo, responsável por transformar o combustível do tanque em velocidade. 

Veja a seguir as principais considerações de Milad Kalume Neto para cada tipo de motor e saiba como escolher a motorização do seu próximo carro:

1.0 litro a 1.3 litro:

Prós

Encontrado em carros urbanos pequenos, os motores de 1.0L a 1.3L têm desempenho satisfatório para cidades e são os menos "beberrões" do mercado, sob o ponto de vista do consumo absoluto de combustível (veja o ranking dos carros que consomem menos combustível).

Segundo Kalume, também são carros com baixo custo de manutenção. “Motores de 1.0L a 1.3L têm peças com uma exigência mecânica e técnica inferiores. Como elas não precisam ser tão resistentes quanto as peças dos motores mais potentes, acabam sendo mais baratas", afirma. 

Além disso, acrescenta ele, como há um volume muito maior de veículos 1.0L do que 2.0L no mercado, o custo de desenvolvimento das peças é absorvido por um número maior de carros, reduzindo os custos finais para o consumidor. 

Os carros com motores menores também são revendidos com mais facilidade. Por serem mais baratos, possuem alta demanda e não sofrem grandes desvalorizações, sendo os carros com menor nível de desvalorização do mercado (veja a lista).

Contras

O carro equipado com motores de até 1.3L tem menor potência e eficiência energética baixa, o que pode ser bastante prejudicial em cidades com altitude elevada. “Por ter um baixo desempenho, também não é um tipo de carro indicado para estradas”, diz Kalume.

Além disso, costumam ser carros menos confortáveis para quem dirige. Possuem baixo torque, o que significa que o carro responde mais lentamente às acelerações, e geralmente equipam modelos mais básicos, com poucos acessórios e equipamentos menos sofisticados. 

1.4L a 2.0L:

Prós

Esse tipo de motor equipa fundamentalmente carros pequenos premium e a maioria dos carros médios nacionais. Seriam enquadrados nessa categoria carros como Chevrolet Ônix, Toyota Etios, Honda Fit e Hyundai HB20. 

Segundo Kalume, são carros com bom desempenho e bom torque. Apesar de fazerem parte de um mercado menor do que os veículos equipados com motor de até 1.3L também são carros que não encontram muita dificuldade de revenda.

Contras

O consumo de combustível para essa categoria de motor é maior. Segundo dados do Inmetro, enquanto o Volkswagen Novo Gol 1.0 (versão Mi 8V 2p) consome um litro de gasolina ao percorrer 11,6 quilômetros na cidade, o mesmo carro, com motor 1.6 percorre 10,7 quilômetros por litro.

Nesta categoria é possível encontrar motores com diversas tecnologias. "Existem motores ultrapassados e motores mais modernos, que passaram pelo processo de downsizing, no qual é realizada a diminuição do volume de litros dos motores, mas com manutenção da potência", diz o especialista.

Também pode pesar contra essa classe de motorização o custo de manutenção mais elevado do que o de carros com motor de até 1.3L.

Acima de 2.0L:

Prós

Os motores acima de 2.0L já equipam carros mais luxuosos e veículos maiores. Os prós, naturalmente, são a alta performance, alta potência e o alto torque.

Além disso, normalmente esses motores integram veículos que trazem maior status. "Por possuírem melhor desempenho, são motores que garantem mais status. Está no íntimo do comprador, em especial do homem, fazer esse tipo de análise", afirma o gerente de desenvolvimento da Jato Dynamics.

Contras

As desvantagens dos carros desse grupo estão ligadas essencialmente aos custos mais elevados.

Logo de partida, os carros com motor de 2.0 litros ou maior têm um custo de aquisição mais elevado. "A mão de obra para fabricação desse tipo de carro é elevada, o que resulta em um custo geral elevado do carro", afirma Kalume. 

Segundo dados da Tabela Fipe, enquanto o Ford Focus 1.6 (Flex 16v 5p Aut) custa 66.247 reais, por exemplo, o Focus 2.0 (Flex 16V 5p Aut.) sai por 72.775, quase 10% mais caro.

Outro exemplo é o Peugeot 308 Allure: o modelo com motor 1.6 (Flex 16V 5p Mec.) sai por 51.737 reais e o mesmo modelo com motor 2.0 (Flex 16V 5p Mec.) é vendido por 60.450 reais, de acordo com a Tabela Fipe, um valor 17% superior.  

Nas palavras do gerente da Jato Dynamics, o consumo de combustível dos carros com essa motorização é "elevadíssimo" também. Se observada a lista de consumo de combustível do Inmetro, os carros enquadrados no grupo de maior consumo, são aqueles com motores acima de 2.0L. 

Outro ponto negativo ainda é a maior restrição do mercado. Por conta do preço mais elevado, há menor procura por esse tipo de carro e, conforme a lógica da lei de oferta e demanda, com a baixa procura o valor desses carros se deprecia em uma velocidade maior (veja a lista dos carros que mais se depreciam).

Motorização não é tudo

Ainda que as cilindradas tragam muitas informações sobre o carro, a motorização não deve ser avaliada isoladamente.

Kalume explica que geralmente motores com o mesmo volume possuem desempenhos similares, mas não iguais.

Segundo ele, os motores mais novos, por exemplo, têm uma eficiência energética muito superior. "Motores atuais, 1.6L podem ter um desempenho similar a um 2.0L de cinco anos atrás", diz o especialista..

O número de válvulas - responsáveis pela entrada de ar no motor e saída de gases queimados pelo escapamento -, dado que normalmente é apresentado abreviadamente (8V ou 16V), e a potência do carro, apresentada em cavalos (138CV, por exemplo) também definem o desempenho do carro.