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Gabriela Ruic
Publicado em 18 de novembro de 2010 às 16h39.
São Paulo - O crescimento dos gastos com saúde é tendência em todo o mundo, e no Brasil, pesquisas e números indicam que a situação não será diferente. Em países como os Estados Unidos, por exemplo, as despesas com saúde já correspondem a 12% do PIB, e existem razões para acreditar que um processo semelhante aconteça em terras brasileiras.
Atualmente, o Brasil ainda é um país que gasta relativamente pouco. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao ano de 2007 revelam que os brasileiros gastam, em média, 840 dólares por ano com saúde. No mesmo ano, nos Estados Unidos, a quantia gasta com serviços relacionados à saúde superou a cifra de 7.000 dólares. Até mesmo na Argentina se gasta mais: os vizinhos desembolsam cerca de 1.300 dólares por ano com saúde.
O aumento gradual da renda per capta no Brasil deve reduzir essa diferença nos próximos anos. Números da OMS e do Fundo Monetário Internacional (FMI) permitem relacionar o aumento nas despesas com a saúde e o crescimento da renda per capta de uma nação. E a conclusão é que, à medida que a renda per capta cresce, aumenta-se, quase que exponencialmente, a quantia gasta com saúde.
Francisco Utsch, sócio e analista de investimentos do fundo de investimentos M Square, considera que observar os números e o comportamento do setor da saúde nos Estados Unidos é ferramenta importante para traçar as tendências no Brasil. "Nos Estados Unidos e até no México, o sistema público de saúde não dá conta de suprir a demanda pelos serviços, assim como no Brasil", explica. Portanto, com um crescimento da renda per capta de 8 a 10% ao ano, a tendência é que os brasileiros comecem a utilizar serviços privados de saúde para suprir as deficiências do setor público.
"A penetração dos planos de saúde no Brasil ainda é baixa. Apenas 22% da população têm acesso a esses serviços. No entanto, pesquisas já mostram o desejo que os brasileiros têm em direcionar parte de sua renda disponível em serviços relacionados à saúde", esclarece Utsch. De acordo com dados levantados pela M Square, 93% das pessoas com renda superior a cinco salários mínimos têm plano de saúde. "Na lista de desejos da população brasileira, consumir mais em serviços da saúde vem antes mesmo da casa própria."
Ainda segundo Utsch, outro fator muito importante que está contribuindo para o aumento gradual nos gastos no setor são os planos corporativos. No Brasil os planos de saúde são majoritariamente feitos pelas empresas para seus empregados. O aumento na criação de empregos formais torna inevitável que no futuro próximo os gastos com saúde também cresçam.
Outra fonte de pressão nos gastos com saúde é o envelhecimento da população. O Brasil tem hoje cerca de 20 milhões de idosos e, segundo Utsch, a previsão é que em 2020, a população idosa chegue a 30 milhões. "A população idosa vai crescer e vai puxar as despesas com o setor", avalia.
Não é segredo que, à medida que envelhecemos, mais consultas médicas e exames são necessários. Ao mesmo tempo, a tecnologia disponível para diagnósticos e tratamentos de saúde torna-se cada vez mais avançada e moderna. Se em 1997 indivíduos enquadrados na faixa etária entre 65 e 74 anos realizavam nos Estados Unidos cerca de sete exames médicos ao longo de um ano, em 2005 este número já havia subido para 12 procedimentos médicos.
As empresas do setor já perceberam a tendência de aumento nos gastos com saúde e estão procurando cada vez mais investir na modernização e ampliação de seus negócios. Exemplo disso é a avalanche de aberturas de capital de empresas do setor na BM&FBovespa a partir de 2004.
Em apenas cinco anos, o setor levantou 4 bilhões de reais em ofertas primárias de ações. Para o analista, o crescimento do setor da saúde e o conseqüente aumento nos gastos da população com o serviço não são mera previsão ou tendência, mas sim um fato. "O conceito de tudo isso é que o mercado no Brasil tem que se fortalecer. Com o capital proveniente das capitalizações, as empresas terão subsídios para crescer cada vez mais", diz.