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Brasileiros vão comprar ações diretamente em Wall Street sem burocracia

Avenue, nova corretora do ex-XP Roberto Lee nos EUA, tem foco nos brasileiros e promete democratizar o mercado

Roberto Lee e equipe da Avenue tocam a campainha da Nasdaq (Nasdaq/Divulgação)

Roberto Lee e equipe da Avenue tocam a campainha da Nasdaq (Nasdaq/Divulgação)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 2 de dezembro de 2018 às 07h00.

Última atualização em 3 de dezembro de 2018 às 13h59.

Nova York — A partir deste mês, os brasileiros vão poder comprar ações diretamente em Wall Street, mesmo se não forem investidores qualificados ou milionários. Essa é a proposta da Avenue Securities, uma nova corretora do ex-XP Roberto Lee, que entrou em operação no final de novembro, após uma cerimônia de toque de campainha na Nasdaq.

Com sede em Miami, a Avenue pretende ampliar o leque de opções dos investidores de classe média, permitindo que eles comprem ações de empresas como Tesla, Apple e Amazon, por exemplo, negociadas nos Estados Unidos, sem burocracia e com custo reduzido.

Hoje, os brasileiros que querem ter exposição ao mercado de renda variável americano podem fazer isso através produtos brasileiros que aplicam no exterior, como fundos de investimento. Para investir diretamente nos papéis de lá, é preciso ser cliente de uma corretora brasileira, que aciona uma corretora nos EUA. Nesse caso, o investidor arca com os custos de ambas as intermediadoras.

“Com a nossa tecnologia, isso vai acabar. O cliente vai fazer um cadastro e transferir os recursos para a Avenue Brasil, que vai operar como um app de meios de pagamentos. Depois que receber o dinheiro, o app transfere os recursos imediatamente para a Avenues Securities, a corretora sediada em Miami, e o cliente conseguirá ver qual é o seu saldo em dólar. A partir disso, ele já terá acesso aos produtos americanos”, explica Lee, que tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro e foi fundador das corretoras Clear e WinTrade.

A operação é possível por causa da tecnologia blockchain, sistema que permite o registro de dados em blocos digitais de informação, à prova de violação de terceiros. É esse sistema que está por trás das movimentações de dinheiro na Avenue.

A operação também é possível por causa de um aporte milionário recebido pela Avenue da Vectis Partners, empresa de participações de Patrick Ogrady, ex-presidente da XP Gestão, Alexandre Aoude, ex-presidente do Deutsche Bank no Brasil e ex-vice-presidente do banco Pine, e Paulo Lemman, filho do empresário Jorge Paulo Lemman.

Com o aporte, a corretora consegue manter um “colchão” de recursos nos EUA, que é utilizado para cobrir instantaneamente o saldo dos clientes em dólar a partir do momento que eles solicitam a conversão, mesmo antes de o dinheiro chegar por lá.

“A sociedade brasileira no conjunto global melhorou bastante. O que eu acho que a gente tem do ponto de vista de investimento é uma indústria que está para trás em relação às outras. É difícil a gente achar uma indústria que não tenha se aberto para o mundo aqui no Brasil, a não ser uma, a indústria financeira. A Avenue vai mudar isso”, afirma Lee.

O executivo acompanhou de perto o processo de captação de novos recursos e clientes que transformou a XP na maior corretora do Brasil e, segundo ele, a medida que as pessoas forem se conscientizando sobre seus investimentos e migrando para as casas independentes, faltará produtos no mercado local, que é pequeno.

“Tem uma demanda crescente dos investidores por novos produtos, especialmente depois que a Selic [taxa básica de juros brasileira] caiu para 6,5% ao ano, seu menor patamar histórico. Isso afeta a rentabilidade dos investimentos de renda fixa no Brasil”, completa Lee.

Inicialmente, a Avenue vai disponibilizar ações e ETFs (fundos que replicam índices acionários) negociados nos EUA aos clientes. São os mercados para pessoas físicas com maior liquidez no país, ou seja, com maior facilidade de negociação. Enquanto no Brasil a B3 possui apenas 15 ETFs listados atualmente, nos EUA são mais de 2 mil.

Vantagens

Além do custo reduzido e do acesso a um cardápio de investimentos muito maior, o investidor também tem a vantagem de se proteger do risco cambial ao investir nos Estados Unidos. Isso porque quando o dólar sobe no Brasil, o investimento feito lá fora passa a valer mais quando for convertido em reais.

“É preciso que a pessoa tenha uma ideia do quanto que seus gastos no Brasil estão ligados ao dólar. O preço do combustível, por exemplo. E aí, recomenda-se que ela aplique o mesmo percentual no exterior, fazendo assim uma proteção à variação cambial”, diz Lee.

Mas o mercado de ações, tanto no Brasil quanto no exterior, é um mercado mais arriscado, não recomendado para quem não tem um perfil de investidor de moderado a arrojado. “A ideia é que a pessoa possa formar um patrimônio de longo prazo com mais opções de investimento. Comprar ativos nos EUA que vão pagar dividendos, rendimentos, em dólares, por um longo período”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

Mesmo se a pessoa desistir do investimento em pouco tempo, a corretora garante que o resgate será possível quase que instantaneamente, levando o mesmo tempo que uma TED bancária. “O investidor pessoa física precisa ter liquidez. Precisa ter o dinheiro disponível o mais rápido possível quando precisa dele”, afirma Alves.

Não haverá um valor mínimo para aplicar na Avenue. A pessoa vai poder colocar e converter para dólar a quantidade de recursos que quiser e também comprar a quantidade de ativos que desejar, sem a determinação de prazo mínimo para manter a aplicação.

Além disso, na hora de converter o saldo em reais para dólares —operação que será feita através do parceiro Banco Bexs—, a taxa de câmbio poderá ser menor do que a praticada naquele momento pelo mercado, já que ela não será definida com base no aporte individual de cada cliente, mas sim a partir de volumes maiores, de vários clientes juntos.

A corretora, porém, deve cobrar um spread para poder disponibilizar o saldo em dólar instantaneamente, já que vai utilizar seu “colchão” de recursos nos EUA para isso. Sobre as operações de compra e venda de ativos, a Avenue vai cobrar uma taxa de 5 dólares por ordem feita, um pouco abaixo da média do mercado americano, que gira em torno de 6 dólares por operação.

Ao aplicar nos EUA através da Avenue, o investidor brasileiro será tratado como não residente no país, ou seja, deverá declarar os investimentos à Receita Federal no Brasil. A corretora terá uma ferramenta para gerar mensalmente o Carnê-Leão que deve ser pago pelo investidor que auferir ganho de capital no exterior naquele período.

A Avenue, porém, é uma corretora americana, que recebeu licença das autoridades regulatórias dos Estados Unidos para funcionar e deve respeitar as regras do mercado de lá. O SIPC (Securities Investor Protection Corporation) é um mecanismo parecido com o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) brasileiro que garante ao investidor o valor aplicado, limitado a 500 mil dólares, no caso de quebra de uma corretora americana.

Segundo a Avenue, mais de 7 mil pessoas já preencheram um cadastro no site e aguardam para terem suas contas liberadas para começarem a investir nos EUA. O processo de liberação será gradual e vai começar em 12 de dezembro deste ano. A expectativa da corretora é chegar a 30 mil contas abertas e operantes em 12 meses, quando espera-se atingir o “breakeven” (ponto de equilíbrio no negócio, quando não há perda, nem ganho).

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