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Brasileiros investem em etanol para garantir aposentadoria

Saiba quais são as opções para quem quer seguir o exemplo de Bill Gates e George Soros e tentar lucrar com a onda dos combustíveis alternativos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O potencial de crescimento do mercado de etanol já chamou a atenção de gente como o megaespeculador George Soros e o fundador da Microsoft Bill Gates. Com a onda mundial de combate ao aquecimento global e a busca de energia mais limpa, muitos investidores graúdos têm enviado enormes somas de recursos a países como o Brasil na expectativa de colher lucros proporcionais no futuro. Mas já há brasileiros com contas bancárias bem mais modestas que estão de olho nessas oportunidades e decidiram aplicar boa parte de suas economias em investimentos em etanol.

A gerente Margarete Gonçalves, da farmacêutica Abbott, faz investimentos regulares em ações das usinas de açúcar e álcool Cosan e São Martinho, além de papéis da Petrobras - um dinheiro que ela só pretende reaver quando já tiver parado de trabalhar. Hoje com 35 anos, Margarete dedicava seu dinheiro, até o fim de 2005, a fundos de renda fixa, escaldada por um experiência anterior ruim no mercado de capitais. Depois de acumular economias de um ano, no entanto, decidiu aplicar em papéis ligados a etanol, algo que, segundo ela, traria enormes chances de retorno e nenhuma de preocupação. "Sou muito ligada à responsabilidade ambiental. Acredito em novas fontes de energia e percebi que ali havia uma grande oportunidade", diz.

O que motivou Margarete foi a ascensão do etanol a ícone de uma nova era movida a combustíveis alternativos. Além de Cosan e São Martinho, a compra de papéis da Petrobras veio devido à orientação de um consultor, que a instruiu sobre os programas de energia sustentável da estatal. Nesse um ano e meio, a carteira não registrou valorização significativa, mas mesmo assim Margarete manteve os investimentos a cada três meses, o que já dobrou seu capital em Bolsa. Afinal, para ela, que pretende usar a renda do etanol como aposentadoria, o resgate do dinheiro ainda está a décadas de distância: "Não pretendo tirar tão cedo".

Margarete não é a única a acreditar que o etanol será uma fonte de dinheiro e de sossego no futuro. Quase 15% dos 50 clientes atendidos pelo analista financeiro Fabiano Calil procuraram consultoria para gestão de seus recursos com interesse no combustível da cana-de-açúcar. Em geral, são pessoas com 35 a 55 anos, casadas, com pelo menos um filho, preocupadas com o meio ambiente - e com a própria aposentadoria. O movimento, ainda incipiente, deve crescer, segundo Calil. "A procura por combustível limpo está aumentando e esse é um bom investimento", diz o consultor. "Os papéis têm oscilações porque as empresas são novas no mercado acionário, mas no médio prazo o retorno pode ser interessante".

Quem quer seguir esse filão encontra apenas Cosan e São Martinho como opções de usinas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A Cosan acumula valorização de 104% desde a abertura de capital, em novembro de 2005, até esta sexta-feira (13/7). Já a São Martinho subiu 13,5% desde o seu IPO (sigla em inglês para abertura de capital), em fevereiro de 2007. A partir do dia 23 de julho, o investidor contará com mais uma opção, a Açúcar Guarani. "Estamos em uma época do ano boa para investir, porque os preços do álcool caem em tempo de safra e a cotação tem uma relação muito forte com o preço do produto", diz Daniel Gorayeb, analista da Spinelli Corretora. Ele lembra ainda que as usinas possuem um mecanismo de segurança: se o mercado de álcool estiver ruim, as companhias podem apostar na produção de açúcar. "Isso dá proteção." Para entender como o açúcar alavanca as usinas - e com isso, seus papéis -, Gorayeb cita um exemplo: a Cosan já chegou a um pico de 60 reais a ação, justamente quando o preço do açúcar subiu no mercado internacional. Além das companhias do setor, vale também prestar atenção nas empresas de fertilizantes Yara, Fosfertil e Heringer, que devem ganhar com a explosão do etanol, segundo o analista.

Fora da Bovespa

Para quem já investe na Bolsa ou ainda está arisco em relação ao ritmo frenético do pregão, uma opção é a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A negociação é feita por contratos de compra e venda de 30 metros cúbicos (30 mil litros) de etanol com vencimentos futuros, ou seja, com entrega da mercadoria acertada para datas posteriores. Para lucrar com as operações, o investidor deve comprar um contrato de etanol com vencimento em um mês de safra, como agosto, - quando os preços são mais baixos - e vender um contrato com fechamento no fim da colheita, como outubro. "Nesse caso, a taxa mensal de remuneração pode ficar ao redor de 1,8%. A renda fixa dá só 1%", diz Félix Schouchana, diretor de derivativos agropecuários e de energia da BM&F.

O valor dos contratos varia de acordo com a data de entrega - ao redor de 365 dólares o metro cúbico em agosto e 375 dólares o metro cúbico em outubro, por exemplo - , mas não é preciso desembolsar todo esse dinheiro ao comprar um contrato. Basta depositar uma margem de garantia, de 1.048,68 reais para o etanol, que é devolvida ao fim da operação. O valor do contrato só é liquidado no caso de entrega da mercadoria, objetivo de poucos que atuam na BM&F. O porém de apostar nos contratos futuros é a complexidade da operação. "É um mercado que exige uma sofisticação que o investidor médio brasileiro não tem. É preciso entender todos os riscos envolvidos, e acho que esse amadurecimento só virá daqui a uns dois, três anos", diz o consultor Fabiano Calil. Por isso, uma boa conversa com uma corretora é fundamental antes de começar a operar.

Com o crescente interesse por etanol, já surgiram algumas empresas dedicadas a investir no combustível, concentradas no exterior. O Clean Energy Brazil é uma delas. A companhia, fundada por brasileiros e estrangeiros, tem como objetivo aplicar em usinas brasileiras de álcool, açúcar e energia gerada a partir do bagaço de cana, e conseguiu convencer gente o suficiente para levantar o equivalente a 400 milhões de reais em sua abertura de capital na Bolsa de Londres. A cotação de seus papéis, que abriram 2007 a 104 libras, chegou a 118,50 libras na última sexta-feira (13/7). Já a Infinity Bio-Energy, também listada na Bolsa de Londres, tem investidores institucionais do calibre da Merrill Lynch e é focada no desenvolvimento de novos projetos de etanol e outros combustíveis renováveis no Brasil. Por meio das usinas já adquiridas, a companhia terá uma produção de 207 milhões de litros de etanol na safra 2007/2008. No ano, as ações da Infinity acumulam uma desvalorização de 3,84%.

Para investir em companhias como essas, é preciso se aventurar no mercado financeiro estrangeiro. Segundo o Banco Central, desde 2005 é possível comprar moeda para operar nas Bolsas de fora - antes, era preciso fazer um depósito em reais na conta de uma instituição estrangeira. Depois da troca, o investidor terá de conversar com uma corretora estrangeira que opere na Bolsa desejada e descobrir as exigências fixadas por cada país para a participação no mercado de capitais. A prática é ainda pouco difundida no Brasil, mas a expectativa é de que o boom do etanol faça com que empresas dedicadas a investimento no combustível surjam também no país, e, consequentemente, na Bovespa. Dentro de pouco tempo, os bancos devem abrir o olho para o setor, o que gerará fundos de investimento voltados ao etanol, segundo Plínio Nastari, diretor da consultoria Datagro: "Esse é um mercado ainda em formação e que deve se expandir, dado o interesse por biocombustíveis".

Para aqueles dispostos a arriscar cifras altas, resta como opção uma aposta mais dispendiosa. A expansão do plantio de cana-de-açúcar no país gerou oportunidade para quem pensa em se aventurar no mercado de terra, seja com compra e venda ou com arrendamento. Nas cercanias de Ribeirão Preto, por exemplo, área tradicional de cultivo da cana, o preço do hectare subiu quase 25% entre 2003 e 2006, em grande parte por causa do etanol, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Pegar carona nessa alta pode ser tarefa difícil, segundo Fernando Moreira Ribeiro, secretário-geral da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). "Se não conhecer a terra e o negócio, há o risco de desperdiçar dinheiro", diz. Contra o prejuízo, ele avisa: para que uma propriedade seja interessante a uma usina, ela tem de estar a no máximo 40 quilômetros de distância do centro de moagem da cana. O ideal é procurar regiões onde ainda existam áreas disponíveis, como o município paulista de Araçatuba. Depois de encontrar o local certo, prepare o bolso: em Araçatuba, por exemplo, o gasto será de aproximadamente 10.300 reais por hectare. Isso eqüivale a 10 mil metros quadrados, ou um quarteirão. Uma usina não muito pretensiosa, de acordo com Moreira Ribeiro, precisa contar com uma área de 16 mil hectares para moer 2 milhões de toneladas de cana por ano e produzir 60 milhões de litros de etanol - como comparação, a Usina São Martinho, da companhia de mesmo nome e localizada na paulista Pradópolis, tem capacidade de moagem de 7 milhões de toneladas por safra. Como a área necessária à produção é muito extensa, as usinas costumam arrendar propriedades - aí está a chance de ganhar dinheiro só alugando a terra para alguma empresa. O valor varia de região para região, mas vale o exemplo de Araçatuba: lá, o arrendamento de um único hectare sai por cerca de 620 reais por ano. Portanto, o aluguel de pouco mais de 1.600 hectares -10% do total necessário a uma usina, segundo Moreira Ribeiro - seria suficiente para fazer com que o dono da terra ganhe 1 milhão de reais por ano. Detalhe: sem trabalhar.

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