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Brasileiro acumula menos milhas no cartão de crédito

O número total de pontos caiu 45% no ano passado e chegou ao menor patamar da história desse segmento

Programas de Milhagem: têm sido prejudicados pela valorização do dólar (Sakkawokkie/Thinkstock)

Programas de Milhagem: têm sido prejudicados pela valorização do dólar (Sakkawokkie/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de julho de 2017 às 11h24.

Última atualização em 28 de julho de 2017 às 11h41.

Brasília - Os brasileiros têm acumulado cada vez menos milhas no cartão de crédito. O número total de pontos caiu 45% no ano passado e chegou ao menor patamar da história desse segmento. Na comparação com o auge dos programas de milhagem, em 2014, a queda é ainda mais representativa: passou de 304 bilhões para 137,6 bilhões, segundo levantamento do Banco Central.

O extrato do cartão de crédito do advogado Eloy Fonseca Neto é um retrato disso. "Já cheguei a acumular 20 mil milhas em um único mês. O dólar abaixo de R$ 2 e os bons programas para acelerar pontos deixavam tudo mais fácil e interessante. Agora, consigo juntar, no máximo, cinco mil pontos por mês", conta o advogado, que conhece mais de 50 países, e já acumulou cerca de 500 mil pontos em um ano.

Entre as explicações para essa queda acentuada está a valorização do dólar, que tem prejudicado a acumulação de pontos. No início da década, com a economia em crescimento e o real forte, os usuários de milhas viveram tempos áureos.

No Brasil, a maioria dos programas oferece pontos atrelados à moeda americana - normalmente, US$ 1 gasto no cartão resulta em 1 milha. Em 2010, o dólar médio ficou em R$ 1,75. Com essa taxa, uma fatura do cartão de R$ 1.000 resultava em 1.142 pontos no fim do mês. No ano passado, o câmbio médio ficou em R$ 3,48. Assim, a mesma fatura resultou em 574 pontos - queda de 50%.

Além disso, o mercado conviveu com a segmentação dos cartões de crédito no início da década com o lançamento de categorias para a alta renda que geram ainda mais milhas.

João Pimenta é um empresário de Florianópolis que abriu uma empresa para gerenciar milhas dos clientes. Para ele, a queda dos pontos no cartão não é surpresa e é explicada pela conjuntura. "O dólar mais alto dificulta a acumulação. Além disso, a crise diminuiu o consumo para muita gente e alguns cartões pioraram a taxa de conversão", diz o "personal miles". Pimenta dá como exemplo alguns cartões que reduziram as milhas em cerca de 10%: antes davam até 2,2 pontos por dólar e passaram a oferecer 2 pontos.

Sem contar o contexto econômico, o indicador do BC mostra também que muitos brasileiros simplesmente perderam as milhas porque os pontos venceram: 50,4 bilhões de pontos do cartão de crédito expiraram no decorrer de 2016. Esse volume de milhas é suficiente para, por exemplo, emitir 1,3 milhão de passagens aéreas de ida e volta entre São Paulo e Buenos Aires na baixa temporada.

Transferências

Outro motivo para a queda das milhas do cartão é a transferência para outros programas de recompensa. Se no passado existiam apenas pontos nos cartões e nas próprias companhias aéreas, atualmente o mercado tem vários programas independentes que permitem acumular pontos em mais de um cartão de crédito e convertê-los em múltiplas empresas aéreas ou mercadorias e serviços.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização, Roberto Medeiros, nota que há transferência crescente de pontos do cartão para esses programas independentes. Além disso, duas grandes operadoras do mercado - Banco do Brasil e Bradesco - criaram em 2016 um programa independente (Livelo) que acabou atraindo pontos acumulados pelos clientes dessas instituições. Nesse caso, o ponto deixa de estar no cartão e sai do indicador do BC que só monitora as instituições financeiras.

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