Bitcoins (Dalebor/Thinkstock)
Anderson Figo
Publicado em 3 de abril de 2019 às 05h00.
Última atualização em 3 de abril de 2019 às 05h00.
São Paulo — Os detentores de bitcoins acordaram na última terça-feira (2) com uma surpresa: a criptomoeda disparou 20% durante a madrugada e ultrapassou os 5 mil dólares (quase 20 mil reais) pela primeira vez desde meados de novembro. A disparada chamou atenção de novos compradores, esperançosos com a retomada da cotação. Mas é essencial ter consciência do risco envolvido na aquisição do ativo —se não aceitar perdas, não compre.
Em 2017, ano em que o bitcoin se tornou conhecido mundialmente, a cotação da criptomoeda disparou 1.300% e chegou a cerca de 20 mil dólares (quase 80 mil reais). A disparada na época foi motivada pela euforia de compradores que sonhavam em ficar ricos "do dia para a noite". Mas não foi bem isso que aconteceu. No ano passado, o ativo despencou mais de 60% e muitos entusiastas perderam dinheiro.
"É um ativo de alta volatilidade e risco, assim como a Bolsa", alerta Gustavo Chamati, CEO da Mercado Bitcoin, uma das maiores exchanges de criptomoedas do país. "Em 2017, houve um boom porque ninguém queria ficar de fora de algo com tamanho potencial de valorização. Logo em seguida, veio a correção de 2018. Hoje, as pessoas estão um pouco mais conscientes e compram pensando no longo prazo, em ganhar só lá na frente. Esse deve ser o objetivo."
O aumento do uso de bitcoins como meio de pagamento, o lançamento de novas criptomoedas e o interesse de grandes companhias tem ajudado a amadurecer o mercado. "Aqui no Brasil, cada vez mais lugares aceitam bitcoins como pagamento. Lá fora também. A dona da Bolsa de Nova York, a ICE, já decidiu lançar uma plataforma de ativos digitais com contratos futuros de bitcoin. Tudo isso ajuda a tornar o mercado de criptomoedas mais robusto", diz Reinaldo Rabelo, ex-diretor da B3 e atual diretor jurídico, de riscos e compliance da Mercado Bitcoin.
Mas ainda vai demorar para a criptomoeda ser menos volátil, porque o mercado é relativamente novo e não é regulado em muitos países do mundo, incluindo o Brasil. Assim, qualquer compra de grande porte de bitcoins que é feita acaba influenciando imediatamente no preço do ativo em todo o planeta.
Foi o que aconteceu ontem: a disparada de 20% foi desencadeada por um pedido avaliado em 100 milhões de dólares nas Bolsas norte-americanas Coinbase e Kraken e no Bitstamp de Luxemburgo. Houve uma única ordem que foi gerenciada por algoritmos em três locais, de cerca de 20 mil bitcoins ao todo.
Na Foxbit, outra grande exchange de criptomoedas no Brasil, o número de novas contas aumentou recentemente devido ao avanço na cotação do bitcoin. Na semana passada, foram quase 1.500 novos cadastros. Nesta semana, em apenas dois dias, já são 850. A corretora tem 470 mil clientes no total.
"É natural que haja um aumento de procura quando tem notícias sobre a alta do bitcoin, mas ainda estamos longe dos níveis de 2017", diz João Canhada, CEO da Foxbit. Em novembro de 2017, a exchange registrava 250 novas contas por dia. Em dezembro do mesmo ano, chegou a abrir 8 mil novas contas por dia.
Mesmo longe de seu patamar mais alto, o bitcoin deve subir no longo prazo, na avaliação de Canhada. Ele arrisca até uma projeção: 8.600 dólares para o preço do bitcoin até o fim deste ano. "O próximo boom deve ser só em 2021. Isso porque a cada quatro anos a oferta de bitcoins é reduzida mundialmente pela metade, seguindo as regras de criação da criptomoeda. Sempre que isso acontece, seu preço costuma subir até 10 vezes o valor que estava quatro anos antes. Foi o que vimos acontecer em 2017. Se a regra se confirmar, em 2021 o valor pode ultrapassar os 200 mil dólares. Mas são apenas expectativas."
Como se trata de um ativo de extrema volatilidade, o primeiro cuidado que você deve tomar ao comprar bitcoins é não usar um dinheiro que vai te fazer falta lá na frente. Sempre tenha em mente que a cotação pode despencar do dia para a noite e você pode perder tudo. Por isso, de todo dinheiro que você tem disponível para investir, não gaste mais do que 1% a 2% em criptomoedas.
Outro ponto bastante importante é a escolha da exchange através da qual você vai fazer a compra do bitcoin. São muitas: desde a metade do ano passado até agora, mesmo com a baixa da moeda no período, mais de 35 casas já foram abertas no país. Como não há regulação do Banco Central ou da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), você vai ter que fazer uma pesquisa por conta própria.
Procure saber qual é o CNPJ da empresa, quem são os donos, quais as informações de contato, qual a segurança que eles oferecem nos processos de cadastro e guarda de informações e veja o histórico de reclamações de usuários em sites como o Reclame Aqui. Falar com usuários da plataforma é uma boa maneira de descobrir o grau de satisfação com o serviço prestado.
Quando for comprar o bitcoin, comece com pouco dinheiro. É possível comprar uma fração por 50 reais, por exemplo. Assim, você pode ir acompanhando o mercado para entender o seu funcionamento, enquanto limita suas perdas a um valor baixo. Se quiser aumentar sua exposição, faça aos poucos, mas sempre respeite o limite de alocar em criptomoedas, no máximo, de 1% a 2% do seu dinheiro disponível para aplicações.
A guarda dos bitcoins é geralmente feita pelas próprias exchanges em servidores próprios para isso. É opcional ao cliente deixar com a corretora ou não. Você pode guardar seu próprio bitcoin em um pen drive, no celular ou em um computador. Mas o risco é todo seu caso se esqueça da senha ou tenha seus aparelhos roubados. Se não se sentir seguro, deixe o serviço com a corretora mesmo, por isso é importante que ela seja de confiança e séria.