Minhas Finanças

As vantagens de ser um investidor "do bem"

Fundos que investem em empresas sustentáveis vem apresentando boa performance mesmo em época de crise

Semana de sustentabilidade: Rio Mais 20 e lançamento do ETF do Índice Carbono Eficiente (Divulgação/Rio + 20)

Semana de sustentabilidade: Rio Mais 20 e lançamento do ETF do Índice Carbono Eficiente (Divulgação/Rio + 20)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h50.

São Paulo - Não é apenas na Conferência Rio + 20, que começa nesta semana no Rio de Janeiro, que o tema desenvolvimento sustentável é o foco. Este é também o mote dos chamados fundos de ações de sustentabilidade, fundos de investimentos que privilegiam empresas preocupadas com questões sociais, ambientais e com crescimento econômico consistente, que permita manter esta postura sustentável. Mas será que vale a pena investir nesses "fundos do bem"?

Os fundos de sustentabilidade são o oposto dos chamados "fundos de vícios" - aqueles que investem em empresas como fabricantes de cigarros, armas e bebidas alcoólicas. Ainda sem representantes brasileiros, os "fundos de vícios" costumam ir bem mesmo em épocas de crise, como a atual, uma vez que suas empresas têm demanda praticamente inelástica. Embora este não seja o caso dos fundos sustentáveis, os últimos dados da BM&FBovespa mostram que eles não são absolutamente um mau negócio quando comparados ao mercado acionário como um todo. Mesmo nos últimos anos.

Os papéis dessas companhias têm revelado um melhor desempenho e menor volatilidade do que as empresas que compõem o Ibovespa. Por esses e outros motivos, investidores e analistas têm ficado cada vez mais atentos à maneira como as empresas lidam com questões socioambientais e de governança corporativa (as chamadas questões ESG: Environmental, Social & Governance). Veja a seguir as tabelas de comparação do desempenho e volatilidade médias dos fundos de ações sustentabilidade em relação ao Ibovespa nos últimos seis anos:

Período findo em 31/05/2012 Retorno acumulado ações de sustentabilidade (%) Retorno acumulado Ibovespa (%) Número de fundos de ações de sustentabilidade
12 meses -2,39% -15,68% 15
24 meses 6,73% -13,57% 15
36 meses 30,11% 2,43% 14
48 meses -8,03% -24,94% 12
60 meses 21,95% 4,25% 9
72 meses 65,06% 49,17% 9
Período findo em 31/05/2012 Volatilidade ações de sustentabilidade (% ao ano) Volatilidade Ibovespa (% ao ano)
12 meses 15,87% 23,10%
24 meses 14,24% 19,82%
36 meses 15,09% 19,38%
48 meses 22,41% 26,16%
60 meses 21,92% 25,37%
72 meses 20,64% 23,96%

Fonte: BM&FBovespa

A rentabilidade média dos fundos de sustentabilidade foi superior ao Ibovespa em todos os períodos avaliados, e a volatilidade (risco) dos fundos de sustentabilidade também foi inferior ao do Ibovespa em todas as comparações. “Os fundos sustentabilidade possuem não somente melhor rentabilidade, mas também melhor relação risco/retorno que o Ibovespa” avalia o Coordenador do Mestrado Profissional em Economia da Fundação Getúlio Vargas, Ricardo Ratner Rochman.


Onde esses fundos investem

A principal fonte de referência sobre ações sustentáveis é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), lançado em 2005 pela BM&FBovespa. Para participar do ISE, as 200 empresas mais líquidas da Bolsa passam por um processo seletivo e respondem a um questionário cujas respostas devem vir acompanhadas de documentos que comprovem as práticas. A metodologia foi desenvolvida pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getúlio Vargas. Atualmente 51 ações de 38 empresas fazem parte do ISE.

São ponderadas sete questões para avaliar quais empresas podem ser enquadradas no ISE: elementos ambientais, sociais, econômico-financeiros, governança corporativa, características gerais, natureza do produto e mudanças climáticas. “O ISE é usado por muitos gestores de fundos para identificar quais ações são sustentáveis para eles colocarem na carteira” explica Ricardo Rochman.

Investir em ações sustentáveis pode fazer sentido não só pela questão ética, mas também pelo valor agregado que uma empresa sustentável possui. Segundo o Guia de Sustentabilidade da BM&FBovespa, as empresas sustentáveis normalmente possuem as seguintes características: identificação de novas oportunidades de negócio; antecipação a pressões legais e da sociedade; redução dos custos de produção, decorrente da diminuição de desperdícios e economia de insumo; maior atração e retenção de talentos; facilidade no acesso ao capital; menor exposição a riscos ; impacto positivo na reputação (ativos intangíveis); fidelização de consumidores; e melhor alinhamento interno com relação a práticas e políticas adotadas.

Rochman explica que o fundo de sustentabilidade é indicado para investidores que se preocupam não só com a sustentabilidade, mas que querem também um retorno vantajoso. “Se a empresa é boa para o meio ambiente e tem práticas sociais, mas é péssima nos resultados, ela não é sustentável, mesmo porque se essa empresa vai perpetuando prejuízos e mais cedo ou mais tarde ela vai quebrar as responsabilidades com meio ambiente”, afirma.

Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, explica que as ações sustentáveis são vistas como mais seguras pelos investidores, por isso algumas vezes apresentam melhores desempenhos. “Na crise de 2008, as ações de empresas do ISE ficaram valorizadas porque elas têm por base questões de governança e o mercado viu que essas empresas são menos arriscadas, no aspecto financeiro, social, ambiental”, diz.

Hoje, 30 das ações que estão dentro do ISE também fazem parte do Ibovespa, que é composto por 68 ações. O professor da FGV afirma que, mesmo que algumas empresas façam parte de ambos os índices, o ISE é mais diversificado do que o Ibovespa. “No Ibovespa, as ações da Vale correspondem a cerca de 12% do índice e as da Petrobras a cerca de 11%. O Ibovespa hoje é muito concentrado em petróleo, mineração e o ISE não, ele já tem uma dispersão maior: empresas de alimentos, cartões de crédito e do setor aeronáutico, por exemplo", conta.

No ISE nenhum setor pode representar uma participação maior do que 15% no total. O índice é composto por empresas como Bradesco, Brasil Foods, CCR, Cemig, Embraer, Even, Gerdau, Natura, Redecard, Tim e Vale, totalizando 18 setores.


Desvantagens

As principais desvantagens do investimento em ações sustentáveis são as mesmas do mercado de ações: é um investimento que envolve riscos e pode não trazer os retornos desejados. No mês de maio, por exemplo, o fechamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial foi de -7,8%. Mesmo que seja uma queda inferior à do Ibovespa (-11,86%), ainda assim não deixa de ser uma performance negativa. 

Por isso, vale comentar que é possível incentivar a sustentabilidade com menos riscos, se este for o objetivo principal. No entanto, se a finalidade for o investimento em ações e o investidor tem a preocupação com a questão da sustentabilidade, a aplicação pode ser interessante.

Como investir

Existem hoje 15 fundos de sustentabilidade, e a menor aplicação inicial para esse tipo de fundo é de 200 reais. Alguns deles utilizam as ações do ISE para se basear, mas isto não é uma prerrogativa. Os gestores podem incluir as empresas que consideram sustentáveis de acordo com critérios próprios.

O fundo pioneiro de ações sustentáveis é o Fundo Ethical, do Santander, que foi criado em 2001. Segundo o banco, a rentabilidade do fundo desde sua criação (06/11/2001) até março de 2011 foi de 587%, acima do Ibovespa, que no mesmo período, rendeu 452%. Fazem parte da carteira companhia dos mais variados setores, como energia e papel e celulose.

Outros grandes bancos também dispõem de fundos de sustentabilidade, como a Caixa (Fundo de Investimento em Ações ISE), o HSBC (FIC Ações Sustentabilidade) e o Banco do Brasil (BB Ações Índice de Sustentabilidade Empresarial Jovem). Todos os três performam acima do Ibovespa no ano. O da Caixa e o do BB vêm tendo performance positiva, enquanto o Ibovespa cai 4,10%.

Outra opção de investimento em fundos sustentáveis é por meio dos ETFs, Exchange Traded Funds (ETF), que replicam a carteira dos índices aos quais são atrelados e e cujas cotas são negociadas em Bolsa. O ETF que segue o ISE, o ISUS11, é gerido pelo Itaú e teve queda de 7,8% em maio, contra um tombo de 11,86% do Ibovespa.

A vantagem do ETF é a combinação entre o investimento diversificado em ações com taxas de administração mais baixas que as de fundos de ações normais - o do ISUS11 é de 0,4% ao ano. No entanto, em relação ao ETF mais líquido - o BOVA11 - os demais ETFs são pouco negociados. Além disso, por ser composto por ações do ISE, o ISUS11 investe em várias ações que também estão presentes no Ibovespa. Ou seja, em momentos de queda da Bolsa, o ETF pode acompanhar um pouco a queda do principal índice da Bolsa. Fundos de ações mais ativos têm, nesse sentido, mais chance de descolar seus resultados do Ibovespa e performar positivamente.


Mercado de carbono e ICO2

Pensando mais especificamente na questão das emissões de gases estufa, em 2005 a BM&FBovespa lançou um Banco de Projetos para registrar os Créditos de Carbono gerados via Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. E em 2007 foi lançada a plataforma de Leilões de Créditos de Carbono, que permite a negociação de créditos via leilões realizados sob demanda.

Em mais um avanço, em 2010 a Bolsa lançou em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o Índice Carbono Eficiente (ICO2), cuja carteira considera o coeficiente de emissão de gases do efeito estufa (GEE) das empresas participantes.

Seguindo algumas das mesmas propostas do ISE, o ICO2 se diferencia justamente por privilegiar a questão da emissão dos gases do efeito estufa e por restringir ainda mais o universo de empresas participantes. “Podem participar do ICO2 apenas as empresas que fazem parte do IBrX-50, que são as 50 ações mais líquidas da Bolsa e nós ponderamos qual é a eficiência da empresa relacionando o seu grau de riqueza, sua rentabilidade e a emissão de gases que ela faz”, esclarece Rogério Marques, coordenador de Índices de Preços de Ações da BM&FBovespa. Ao todo, 36 ações fazem parte do ICO2, como Ambev, BM&FBovespa, Eletropaulo, Itaú e OGX.

Quem quiser investir nas empresas com emissões controladas de gases estufa poderá participar, até esta terça-feira (12) de uma oferta pública de cotas de um ETF atrelado ao ICO2, o ECOO11. Fruto de uma parceria entre o BNDES e a gestora BlackRock, o ETF vem tendo baixa procura, o que levou o término da oferta a ser prorrogado do dia 4 para o dia 12 de junho. As cotas começam a ser negociadas na quinta-feira, dia 15.

Apesar disso, existe ao menos uma boa vantagem para o pequeno investidor. Para quem investir até 25.000 reais, o BNDES garante a recompra das cotas daqui a um ano pelo mesmo preço por que forem vendidas agora, mesmo que durante este período haja desvalorização. Ou seja, o investidor terá, ao menos, o seu dinheiro de volta ao término de um ano.

Para aproveitar o benefício, é preciso participar da oferta com opção de venda (existe também a oferta sem opção de venda). O investidor pode comprar cotas diretamente, via home broker em uma corretora que participe da oferta pública, ou aplicar em fundos formados pelos coordenadores da oferta - Citi, Santander, Votorantim e XP Investimentos - cuja taxa de administração será mais alta que o 0,38% ao ano do ETF. No primeiro caso, a aplicação mínima é de 1000 reais e, no segundo, de 300 reais. O seguro até 25.000 reais vale para ambos os casos.

Embora com desvalorização, o desempenho do ICO2 também tem batido o Ibovespa. O recuo em um ano é de 1,78%, contra uma queda de mais 15% do Ibovespa no mesmo período. Leia o prospecto preliminar da oferta pública e o comunicado a mercado de modificação da oferta.

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