Para se aposentar com conforto, você deve gastar menos que a rentabilidade do investimento (Peter Caulfield/SXC)
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 13h36.
São Paulo – Formar a própria previdência para não depender do INSS tornou-se essencial, mas os produtos disponíveis no mercado nem sempre atendem às necessidades e expectativas do investidor. Os planos PGBL e VGBL dispõem de bons incentivos tributários, mas geralmente têm taxas altas e requerem um planejamento financeiro minucioso para serem realmente vantajosos.
Alguns especialistas rejeitam veementemente esses planos de previdência privada. Os fundos de pensão patrocinados pela empresa em que se trabalha são, de longe, os melhores investimentos para a aposentadoria, devido aos custos baixos e às contribuições do empregador. Mas quem não pode contar com um desses – ou deseja complementar o seu – pode investir por conta própria e controlar para onde vai o dinheiro que garantirá sua sobrevivência no futuro.
Veja, a seguir, as aplicações mais indicadas para quem quer formar um bom patrimônio para a aposentadoria, e quanto é preciso poupar ter um padrão de vida confortável no futuro:
1. Fundos de renda fixa: opte pelos fundos mais conservadores – com 100% dos ativos em títulos públicos – ou então com um pouco de crédito privado, no máximo 20%. Não abuse do crédito privado, pois o risco de crédito pode ser mais danoso que o risco de volatilidade. “Se o devedor der calote, o investimento vai a zero e não tem volta”, diz Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos. A rentabilidade dessa aplicação deve ficar em torno de 102%, 103% do CDI, e a taxa de administração não deve ultrapassar 1,0% ao ano.
2. Tesouro Direto: o investimento em títulos públicos via Tesouro Direto é uma forma mais barata do que os fundos para quem quer investir em renda fixa conservadora. O investimento é bastante seguro para quem deseja carregar os títulos até o vencimento, o que também é um bom mecanismo para impedir que o investidor mexa no dinheiro da aposentadoria. Aprenda a investir no Tesouro Direto.
Os títulos ideais para esse propósito são as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-Bs), cujos prazos podem ser bem longos, chegando a mais de 30 anos. Elas pagam um cupom que costuma oscilar entre 5% e 6%, mais a inflação pelo IPCA, preservando o poder de compra do investidor ao longo do tempo. Para fins de aposentadoria, o melhor é optar pela NTN-B Principal, em que o cupom permanece investido e o montante total só é pago no vencimento.
Claro que, quanto mais longo o título, mais seu preço varia. E, portanto, maior o risco de perder parte da rentabilidade se o título for vendido antes do término do prazo. Para aproveitar melhor as conjunturas econômicas ao longo dos anos, é aconselhável também comprar títulos mais curtos, pré ou pós-fixados, dependendo do que for mais vantajoso no momento: se a perspectiva é de alta de juros, pós-fixados (LFTs); se for de queda, prefixados (LTNs e NTN-Fs). Acontece que, para isso, o investidor precisa de mais tempo e conhecimento para acompanhar suas aplicações de perto.
3. Ações: invista em papéis com perspectivas de crescimento no longo prazo, de empresas já consolidadas, com bom histórico e que você acredita que ainda estarão vivas e pujantes daqui a dez ou vinte anos. Opte por setores fortes no Brasil, como bancos, elétricas, commodities (as chamadas “blue chips”) e algumas empresas mais tradicionais dos setores de consumo e construção civil. Invista ainda em empresas que paguem bons dividendos, que sofrem menos com as oscilações do mercado e com as crises. Os dividendos pagos podem ser reinvestidos e, já no período da aposentadoria, se tornar uma fonte extra de renda. Diversifique o risco comprando uma cesta com entre dez e quinze ações.
Os mais conservadores podem prescindir da renda variável, e há especialistas que não gostam de ações quando o assunto é a sobrevivência na aposentadoria. “Tesouro Direto é o melhor investimento hoje para o longo e médio prazo. A Bolsa é um mercado de risco. Mas quem mesmo assim quiser investir em ações deve aplicar no máximo 20% do patrimônio para a aposentadoria”, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos.
É bem verdade que, no Brasil, o CDI costumeiramente bate o Ibovespa. Um estudo feito no ano passado pelo professor Samy Dana, da FGV-SP, analisou todos os períodos de dez anos contidos no intervalo entre 1994 e 2011, e concluiu que a renda fixa bateu a bolsa em 58,88% das vezes. Excluindo-se os anos da crise (de 2008 em diante), as vitórias do CDI são ainda maiores, em 76,60% das vezes. Não se trata, portanto, de apenas seguir o Ibovespa ou segurar as mesmas ações por toda vida – é fundamental saber escolher os papéis e rebalancear a carteira anualmente.
4. Fundos de ações: Para quem não quer ter muito trabalho, o melhor é mesmo delegar a escolha das ações ao gestor de um fundo de ações ativo sem alavancagem, ou mesmo de um fundo de dividendos. Sempre atento à taxa de administração. De acordo com a Anbima, a maior parte dos fundos de ações cobra taxas de administração entre 1% e 3% ao ano, e a média anual costuma ficar entre 2% e 2,5% ao ano. Fora os que cobram taxa de performance, em geral de 20% sobre o que exceder o benchmark do fundo.
Quanto você precisa poupar
Mas como saber quanto poupar para levar uma vida confortável na aposentadoria? Tudo depende da sua renda durante a vida ativa, da idade em que você deseja se aposentar, por quanto tempo juntará dinheiro e com quanto vai precisar viver no futuro. Especialistas recomendam poupar no máximo 20% dos ganhos para a aposentadoria, para não acabar desistindo no meio do caminho.
O educador financeiro Reinaldo Domingos ensina que, para atingir a independência financeira, é preciso formar uma poupança tal que o rendimento gerado por esse montante seja igual a duas vezes o que investidor vai precisar para viver. Assim, metade da rentabilidade é reinvestida e a outra metade consumida.
Autor da chamada metodologia DSOP (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar), Reinaldo Domingos simulou o valor líquido que uma pessoa precisa juntar para ganhar 3.000 reais por mês na aposentadoria, considerando uma inflação anual de 5,0% e uma rentabilidade conservadora, de 0,6% ao mês: 858.000 reais. Esse montante lhe garantirá rendimentos de 5.577 reais, mas apenas 3.000 reais deverão ser consumidos a cada mês. Se a intenção for poupar durante 30 anos, no primeiro ano será preciso aplicar 400 reais por mês, e ir atualizando esse valor pela inflação com o passar do tempo.
Caso a intenção seja consumir a renda gradativamente, o investidor pode apenas poupar o suficiente para seus gastos mensais no futuro, sem reinvestir parte da rentabilidade. Alexandra Almawi, da Lerosa, simulou por quanto tempo uma pessoa poderia se manter caso poupasse 20% de sua renda por 30 anos e gastasse mensalmente, na aposentadoria, apenas metade dos recursos de que necessitava durante a vida ativa.
Alexandra considerou uma inflação de 5,0% ao ano e uma renda mensal inicial de 4.000 reais, corrigida anualmente pela inflação. Num cenário mais conservador, com rentabilidade de 9% ao ano, o montante acumulado em 30 anos seria suficiente para a pessoa se manter por apenas 12 anos. Em um cenário agressivo, com rentabilidade média anual de 12%, o montante seria suficiente para mantê-la para o resto da vida, já que a rentabilidade seria suficiente para compensar a renda consumida.
É claro que conseguir uma rentabilidade média de 12% ao ano por tanto tempo não é uma tarefa fácil. Rever anualmente a estratégia de investimentos é fundamental quando se investe por conta própria, pois para manter a rentabilidade alta, é preciso mexer nas aplicações de tempos em tempos. “Não tenha medo de mudar e de migrar suas aplicações para produtos mais rentáveis ou mais baratos”, diz Reinaldo Domingos.