Bolso vazio: Servidores públicos e funcionários de empresas privadas sofrem com atrasos de salários (belchonock/Thinkstock)
Júlia Lewgoy
Publicado em 15 de abril de 2016 às 10h26.
São Paulo - Governos, empresas, pessoas. Está todo mundo penando para fechar as contas, mas o mais prejudicado é sempre o trabalhador. Servidores públicos e funcionários de organizações privadas Brasil afora têm seus salários atrasados. Se é o seu caso, não se desespere, com um pouco de planejamento é possível se virar com o que sobrou - ou não - no bolso.
Nesta semana, 137 mil aposentados do estado do Rio de Janeiro, que ganham mais de 2 mil reais, receberam a notícia de que suas aposentadorias de março vão cair apenas em maio. Para completar, também deverão pagar do próprio bolso os planos de saúde.
Quem não tem um centavo no bolso para sobreviver sem salário precisará pedir um empréstimo a um familiar ou ao banco em que recebe o salário.
O economista Everson Vieira, coordenador do Núcleo de Pesquisa Econômica Aplicada da UFRGS, recomenda que o empréstimo escolhido seja o crédito consignado, cujos juros são menores e variam entre 2% e 4% ao mês.
Usar cheque especial ou cartão de crédito está fora de cogitação: em média, seus juros estão em 12,1% e 12,4% ao mês, respectivamente, segundo dados do Banco Central.
Além disso, o empréstimo deve ser usado apenas para cobrir as necessidades básicas. Quais são elas? “Aluguel ou prestação da casa própria, água, luz, gás, comida, escola, remédios, plano de saúde. E deu”, esclarece Vieira. Se houver faturas do cartão de crédito em aberto, elas também são prioridade.
Nos meses seguintes, mesmo que o salário seja depositado em dia, é importante continuar economizando para pagar o empréstimo. Busque cortar gastos com compras, viagens, TV a cabo, restaurantes e outras despesas supérfluas.
Não se preocupe em vender bens como carro ou casa, a não ser que a dívida tome proporções imensas. “Por mais difícil que seja a situação, sempre existe uma saída”, diz o economista.
Segure seu emprego, mesmo com os atrasos no salário
Ir à Justiça por salário atrasado, neste momento, não adianta muito, já que normalmente a garantia que os tribunais dão é o fim do contrato por justa causa - a chamada “rescisão indireta”, que garante os mesmos direitos de alguém que foi demitido, como esclarece a advogada Cristiane Grano Haik, especialista em direito trabalhista.
Porém, como não anda nada fácil conseguir um novo emprego, é melhor segurar o seu, mesmo com atraso de salário.
Enquanto funcionários do governo dependem da pressão pública para ver o salário pingar na conta e não há muito o que fazer quanto a isso, quem trabalha em empresas privadas pode e deve pressionar o chefe.
“Essa é uma típica situação em que se pede ajuda do sindicato para negociar uma contrapartida ao atraso, que traga segurança para o trabalhador”, explica Cristiane. É comum negociar, por exemplo, garantias de que não haverá demissões nos meses seguintes ao atraso, ou benefícios como planos de saúde e o recebimento de cestas básicas.
Quando o salário for pago novamente, a advogada recomenda exigir que ele seja corrigido pela inflação.
Na opinião de Cristiane, apenas um mês de atraso já é suficiente para buscar os direitos. "O empregado não tem nenhuma obrigação de ter reserva financeira e, muitas vezes, depende do salário para comer."
Se está com medo, faça uma reserva estratégica
Para não entrar em desespero com a ideia de que o salário pode atrasar, uma solução que agrada economistas é fazer uma reserva estratégica. Poupar o equivalente a pelo menos três salários é o ideal, na opinião de Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
Estar atento à saúde financeira da empresa também é essencial para o funcionário agir de forma pró-ativa. “Se ofereça para o chefe para reduzir os custos operacionais, se for possível, e você será o último a ter o salário atrasado”, sugere Domingos.