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Após quedas, fundos de inflação perdem atratividade

Títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação e fundos que investem nesses papéis tiveram mau desempenho no início do ano; é hora de fugir desses investimentos?

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2013 às 17h35.

São Paulo – Quem tem dinheiro aplicado em títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação (as NTN-Bs) e em fundos de renda fixa que seguem índices inflacionários pode ter levado um susto no início deste ano. Após altas expressivas em 2012, muitos desses investimentos tiveram desempenho negativo, mesmo sendo classificados como renda fixa. O que ocorreu é que a inflação alta pressiona para um aumento na taxa básica de juros, a Selic, principal referência para os investimentos de renda fixa. E se esse aumento ocorrer, essas aplicações sofrem. Mas então é hora de fugir delas? Investir em aplicações atreladas à Selic voltou a valer a pena?

Em fevereiro, os fundos de renda fixa-índices, categoria que engloba os fundos de inflação, desvalorizaram, em média, 0,48%. No ano, permanecem no zero a zero. E praticamente todos os títulos do Tesouro Direto prefixados e aqueles atrelados à inflação acumulam perdas nos últimos 30 dias e no ano. A NTN-B Principal que vence em 2035 caiu 1,50% nos últimos 30 dias, enquanto que a NTN-B que vence em 2050 teve queda de 1,38% no mesmo período.

Entenda por que esses investimentos desvalorizaram

Embora sejam aplicações de renda fixa, fundos de inflação e títulos públicos sofrem o que se chama de marcação a mercado. Títulos prefixados e atrelados à inflação (LTNs, NTN-Fs e NTN-Bs) valorizam e desvalorizam conforme as expectativas para a taxa Selic e para a inflação, o que se reflete no valor das cotas dos fundos que investem neles. Como toda ou parte da remuneração desses títulos é prefixada – acordada no ato do investimento – o investidor consegue “travar” uma rentabilidade, independentemente do que ocorre com a Selic.

Assim, se a Selic cai, como ocorreu nos últimos dois anos, os títulos emitidos em taxas mais altas se valorizam. Quando a Selic sobe, ocorre o oposto. A oscilação é tanto maior quanto maior for o prazo do título. Uma LTN com vencimento em 2016 pagaria 10,95% ao ano a quem a comprasse em janeiro de 2012; quem comprasse uma LTN de mesmo vencimento em janeiro deste ano receberia um rendimento de 8,25% ao ano. Já quem comprasse em janeiro de 2012 uma NTN-B com vencimento em 2020 receberia 5,53% ao ano mais IPCA. Se comprada em janeiro deste ano, uma NTN-B de mesmo vencimento pagaria 3,09% ao ano mais IPCA.

Mas se a Selic ainda não subiu e a inflação está alta, por que os títulos prefixados e aqueles atrelados à inflação estão em queda? “O investidor tem que entender que mercado de títulos públicos, Bolsa ou qualquer outro tipo de investimento funciona à base de expectativas. Não adianta olhar para o retrovisor para investir para o futuro”, explica Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele lembra que os fundos de inflação e NTN-Bs se valorizaram nos últimos anos porque a Selic começou a cair mais que o esperado.


Nesta quarta-feira o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidirá os rumos da taxa Selic, mas o mercado não espera realmente que ela suba. Se não há expectativa de alta, então por que os títulos com parte ou toda a remuneração prefixada têm perdido valor? “A ata da última reunião do Copom mostrou que o Banco Central anda mais preocupado com a inflação do que antes, deixando claro que ela está acima das expectativas. Isso fez o mercado ficar preocupado também, surgindo a discussão sobre quando o Banco Central subiria os juros.”, explica Georges Catalão, gestor de investimentos da Lecca, que espera que haja uma alta da Selic já na última reunião do Copom de 2013.

Ele explica que, embora os analistas ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central, esperem que 2013 termine com a Selic ainda em 7,25%, os gestores que operam no mercado futuro de juros já começam a se proteger contra uma eventual alta. É essa expectativa de alta – que ainda não se sabe ao certo quando deve ocorrer, mas que tem grandes chances de ocorrer num futuro nem tão distante – que prejudica o rendimento dos fundos de inflação e dos títulos prefixados e atrelados ao IPCA.

Então é hora de fugir desses investimentos?

Para quem investe nesses papéis ou fundos fica a questão: é hora de fugir deles e voltar a investir em aplicações atreladas à Selic (ou ao CDI, taxa de juros que se aproxima da taxa básica)? Quem investe nos títulos diretamente pelo Tesouro Direto deve, de forma geral, esperar o vencimento de seus títulos para receber a remuneração acordada, pois aí seu risco de perder dinheiro é próximo de zero. Ainda que seu título tenha desvalorizado, se você aguardar o vencimento, vai receber de volta o principal mais a remuneração acordada no ato da compra.

As desvalorizações ainda são recentes e foram pequenas, então pode ser que aquele investidor que tenha comprado títulos de prazo longo em 2011 ou 2012 já tenha tido um ganho expressivo e esteja satisfeito com seus lucros. Nesse caso, ele pode até vender os títulos antes do vencimento e embolsar o ganho lá de trás, sem ainda ter sido muito impactado pelas quedas recentes e sem precisar esperar até o vencimento.

Se você investe em fundos de inflação, pode realmente ser hora de sair desse investimento. Principalmente se forem fundos atrelados ao índice de renda fixa IMA-B 5+, que só compra papéis de prazos superiores a cinco anos, uma vez que suas cotas oscilam mais de preço.

Para Georges Catalão, da Lecca, o mais indicado para esse investidor é migrar para as NTN-Bs, para continuar a proteger o dinheiro da inflação, que continuará alta. Assim, o investidor tem mais liberdade para escolher títulos de prazos mais adequados aos seus objetivos e permanecer no investimento até o vencimento. “O investidor desses fundos pode ver mais cotas negativas pela frente. Na maioria das vezes, as pessoas não estão confortáveis com a oscilação”, diz Catalão.


Outra opção é migrar os recursos para um fundo atrelado ao IMA-B 5, isto é, que investe nos títulos de inflação com prazos até cinco anos. Esta é orientação de Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos, que indica os fundos multimercados juros e moedas. Esses fundos não aplicam em renda variável, se protegem contra as oscilações dos juros e do câmbio no mercado futuro e ainda podem investir parte de seu patrimônio em títulos de inflação.

“A grande maioria dos chamados fundos de inflação são fundos passivos. Não acho esse tipo de produto adequado para a pessoa física”, diz Bittencourt em relação aos fundos de renda fixa-índices, que apenas compram NTN-Bs e papéis de renda fixa atrelados à inflação. Ele recomenda que não mais que 15% da carteira de investimentos estejam investidos em aplicações atreladas à inflação.

Bittencourt lembra ainda que quem não investiu em fundos de inflação não deve entrar agora. Quem já investe neles há certo tempo já ganhou bastante nos últimos dois anos, podendo realizar seu lucro agora, ainda sem grandes perdas. E quem entrou há poucos meses ainda não teve perdas expressivas, podendo rever sua estratégia.

O professor Samy Dana, da FGV, resume a ideia: “se você permanece investido em fundos de inflação, é como se você continuasse apostando na inflação, acreditando que o que já vinha acontecendo continuará acontecendo”.

Quanto a voltar para os pós-fixados (LFTs, fundos DI e CDBs), há duas questões: uma é que não há expectativa de que a taxa de juros suba em breve, o que significa que sua rentabilidade continuará baixa. De todo modo, ainda que a Selic esteja baixa, é sempre indicado ter uma parte da carteira em aplicações de alta liquidez e segurança – os pós-fixados.

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