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"Ajuste fiscal" das famílias deve continuar neste ano

Com aumento do desemprego, das dívidas e da inflação, os consumidores apertaram os cintos no ano passado e devem continuar cortando gastos este ano


	Economias: por conta da crise, a poupança teve um saque líquido recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015
 (Getty Images)

Economias: por conta da crise, a poupança teve um saque líquido recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015 (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2016 às 08h58.

Rio - Espécie de mantra dos membros da equipe econômica em Brasília para tentar solucionar o nó nas contas públicas, o "ajuste fiscal" virou realidade nos lares brasileiros.

Em meio ao aumento do desemprego, das dívidas e da inflação, os consumidores apertaram os cintos no ano passado e devem continuar cortando gastos este ano, de acordo com especialistas.

"As contas de consumo aumentam, a alimentação aumenta, a pensão dos filhos também precisa ser reajustada todo ano. Ainda estou às voltas com as dívidas da obra, então tenho de segurar mais (os gastos)", conta o gerente de marketing Affonso Nunes, 49 anos, que vive no Rio de Janeiro.

A obra é o novo apartamento, montado há dois anos, que lhe rendeu dois financiamentos, um para pagar o imóvel e outro para realizar reformas.

Embora os juros tenham subido entre 2013 e 2015, as parcelas pagas por Nunes não aumentaram de valor. Mas as outras contas ficaram mais caras, e o jeito foi eliminar gastos para não ficar inadimplente. Uma das vítimas foi o ar-condicionado, que foi substituído por um ventilador depois de a conta de luz ter registrado um aumento de 51% apenas no ano passado.

"Quando entrou a bandeira vermelha, a conta subiu para R$ 400. Comprei um grande circulador de ar e passei a programar o ar-condicionado para que desligasse uma ou duas horas depois de dormir. Consegui diminuir a conta quase pela metade", diz.

Poupança

No ano passado, 91% dos consumidores afirmaram ter reduzido os gastos em relação a 2014, segundo pesquisa do Instituto Data Popular. Só que, para alguns, a medida não foi suficiente.

Mesmo com a contenção de despesas, 15,7% afirmaram em janeiro de 2016 que usaram recursos da poupança para cobrir despesas correntes, maior porcentual em mais de dez anos de Sondagem do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Não à toa, a poupança teve um saque líquido (o quanto as retiradas superaram os depósitos) recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015.

O superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo, explica que o avanço do indicador de uso da poupança foi surpreendente a partir de janeiro de 2014.

"Em 2015, a proporção ultrapassou os 10% e foi gradualmente atingindo novos recordes. Em novembro e dezembro houve alguma acomodação, mas, como a situação financeira das famílias continua piorando, temos de esperar um pouco para confirmar uma mudança de tendência."

Para o especialista em finanças pessoais Roberto Zentgraf, professor do Ibmec e da FGV, a queda no consumo vai continuar. "As pessoas não estão encontrando uma forma de aumentar a receita. Pelo contrário, tem consultor sem consultoria para prestar, professor sem aula para dar. Então, as famílias têm mesmo de fazer um ajuste fiscal."

O jeito, segundo o especialista, é cortar supérfluos e revisar despesas desnecessárias antes de sacrificar o bem-estar.

"As contas têm de ser pagas em dia, não tem por que pagar 10% de multa. Elimine aquela academia de ginástica que você não frequenta nunca. Não pague um pacote com 200 canais de TV por assinatura se você só assiste aos mesmos quatro canais", exemplifica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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