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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
As ações dos frigoríficos devem seguir em queda nos próximos meses, pelo menos, até que o embargo europeu à exportação de carne bovina brasileira seja suspenso. Anunciada nesta quarta-feira (30/1), a interrupção atinge os embarques de carne in natura, e foi causada por divergências entre o governo brasileiro e a Europa em torno do número de fazendas aptas a exportar. Os europeus querem restringi-las a 300, intenção que os brasileiros rejeitam. Enquanto o impasse não é resolvido, os analistas recomendam a compra dos papéis dos frigoríficos apenas a que deseja mantê-los por muito tempo em carteira. "As perspectivas de longo prazo do setor são positivas; mas quem quer ganho rápido não deve entrar nesse momento", afirma Rafael Cintra, analista da Link Corretora.
Nesta terça-feira (29/1), os papéis do setor já fecharam em queda, pressionados pelas notícias de que a negociação entre europeus e brasileiros havia se complicado. As ordinárias do Minerva (BEEF3) lideraram a desvalorização, com um tombo de 8%; seguidos pelas da JBS-Friboi (JBSS3), com recuo de 3,85%; e as do Marfrig (MRFG3), com queda de 1,24%.
A pressão continuou na manhã desta quarta. Por volta das 11h15, enquanto o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, operava em baixa de 0,22%, a Friboi recuava 3,37%; o Minerva caía 2,68%; e o Marfrig, 0,83%.
Jogo de cintura
Uma missão européia deve chegar ao Brasil em 25 de fevereiro para novas vistorias nas fazendas. Enquanto o relatório dos inspetores não for concluído, nenhuma carne bovina in natura do país poderá ser remetida à Europa. O Itamaraty já estima que a solução das discórdias demore dois meses.
Nesse período, os papéis dos frigoríficos devem continuar castigados na Bolsa. "O Minerva deve ser o mais pressionado, por não possuir plantas no exterior", afirma Cintra, da Link. Não por acaso, as ações da empresa lideraram a queda do setor nesta terça.
As demais companhias listadas em bolsa contam com unidades de abate em outros países, o que pode lhes conferir maior jogo de cintura para remanejar a produção e continuar atendendo os europeus. Em nota ao mercado, divulgada nesta quarta-feira, a Marfrig afirmou que elevará o nível de atividade de suas cinco plantas argentinas e quatro uruguaias para suprir a demanda da Europa.
Já a Friboi conta com seis unidades na Argentina e quatro na Austrália, além de controlar a americana Swift. Também em nota divulgada nesta quarta, a Friboi informou que, diante dos impasses, já havia decidido reduzir o volume de carne in natura exportada para a Europa para 25% do total remetido no ano passado. "A JBS acredita que outros países absorverão parte do volume que seria destinado para a Europa, e que o excedente será destinado ao mercado interno", afirma o comunicado.
Um efeito colateral que pode beneficiar essas companhias é a alta do preço mundial da carne. Os europeus devem ter dificuldade para suprir a demanda interna de carne, sem o fornecimento brasileiro. As plantas aptas a vender para a região podem tirar partido da situação, seguindo a velha lei da oferta e da procura.
Para Cintra, da Link, o embargo europeu deve ser atenuado também pela maior produção de carnes processadas - produto não afetado pela decisão, e alvo de fortes investimentos das companhias brasileiras nos últimos tempos.
Expectativas mantidas
Por ora, os analistas não devem revisar seus preços-alvos para as ações do setor. O mercado aguarda a divulgação dos resultados do quarto trimestre para verificar a saúde financeira e a consistência operacional de cada empresa. A Link estima um preço-alvo de 23 reais para os papéis da Marfrig até dezembro; 20 reais para o Minerva; e 9 reais para o JBS-Friboi.
Setor novo na Bovespa, os frigoríficos causaram grandes prejuízos aos investidores no ano passado, por causa do aumento do preço da matéria-prima (sobretudo, o do boi gordo), e do fechamento de importantes mercados internacionais às vendas do país.