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Ação do Pão de Açúcar rende 200% em 5 anos, mas tem riscos

Veja por que a ação preferencial do Pão de Açúcar rendeu o triplo da renda fixa em cinco anos, e conheça as perspectivas para o papel


	Volatilidade aumenta na iminência de decisão sobre fusão com as Casas Bahia
 (Divulgação Casino)

Volatilidade aumenta na iminência de decisão sobre fusão com as Casas Bahia (Divulgação Casino)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h35.

São Paulo – As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) do Grupo Pão de Açúcar (PCAR4) acumulam uma valorização de 196,32% nos últimos cinco anos (07/03/2008 a 08/03/2013), contra 62,78% do CDI, taxa de juros que baliza as aplicações de renda fixa mais conservadoras. Atualmente, o grupo é um dos principais varejistas de alimentos e de eletrônicos no Brasil e uma das ações de mais destaque da Bolsa. Mas, o investimento no Pão de Açúcar não é garantia certa de retornos e atualmente a ação é vista como uma aposta arriscada por analistas, não só no curto, mas também no longo prazo.

Apesar dos bons resultados de 2012, da força do grupo e da presença marcante entre os brasileiros, com seus mais de 1.800 pontos de venda em 19 Estados e no Distrito Federal - fatores que tornam a ação atrativa -, a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o processo de fusão do grupo com as Casas Bahia, prevista para abril, pode ter impactos significativos sobre a empresa, para o bem ou para o mal. Por isso, para investidores conservadores talvez este não seja o melhor momento para investir no papel.

“Conforme se aproxima o dia do julgamento do Cade, as especulações vão aumentando e o papel vai ficar muito volátil. Dependendo da decisão, a estratégia do grupo pode ser totalmente redefinida, por isso agora não é o momento de carregar o papel, é um momento mais especulativo, para entrar e ganhar um pouquinho ou para quem quer assumir o risco porque acha que a decisão do Cade será favorável”, avalia a analista de investimentos da consultoria de investimentos Lopes Filho, Maria Cristina Costa.

Outro ponto de atenção que envolve a ação são as discordâncias de seus sócios. Os conflitos frequentemente noticiados pela imprensa sugerem que as discussões não envolvem apenas Abílio Diniz e o grupo Casino, presidido por Jean Charles Naouri - atual controlador da companhia -, mas também a família Klein, fundadora das Casas Bahia, que tem uma visão de negócios diferente dos outros sócios. “Não são nada saudáveis essas notícias que saem, como a de que Abílio Diniz foi barrado em uma reunião. Há uma sensação de que a qualquer momento eles podem se desentender, o que leva a fortes oscilações do papel”, comenta Costa.

A despeito dos conflitos societários, a ação fechou acima dos 100 reais pela primeira vez na sua história neste mês. Especialistas acreditam que o crescimento orgânico do segmento de produtos alimentícios, que deve impulsionar o aumento da receita e a expansão da margem a partir deste ano, tem minimizado o impacto negativo da briga entre os sócios.

O grande foco dos investidores da ação no momento é o julgamento do Cade. A decisão está prevista para abril, mas como já vem sendo adiada há quatro anos não é certo que será de fato executada no próximo mês. “Ninguém sabe qual vai ser a posição dos conselheiros do Cade. Se a fusão for aprovada com pouca restrição, na minha opinião é um fator positivo, porque é possível que o grupo siga com uma reestruturação mais profunda, fechando lojas duplicadas e diminuindo despesas”, afirma a analista da Lopes Filho.

Enquanto isso, a ação continua sendo um investimento arriscado, uma vez que o Cade pode não aprovar a fusão, ou mesmo se aprovar, pode condicionar a decisão a algumas imposições que podem ser negativas para ação, como o fechamento de lojas ou de centros de distribuição. “A ação só poderá ter uma alta mais sustentável depois que Cade divulgar sua decisão. Por isso, mesmo no longo prazo a ação pode ser arriscada”, opina Costa.


Pontos positivos da ação

Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora, tem uma visão bastante positiva sobre a ação. Ela acredita que a decisão do Cade e os impasses societários podem desvalorizar a ação momentaneamente, mas as perspectivas gerais da empresa são muito positivas no longo prazo. “O grupo tem um grande potencial de expansão para as regiões norte e nordeste do país e pode ganhar muito com o crescimento da renda e do emprego, que beneficiam muito o setor de consumo”, diz.

Para 2013, a varejista prevê que o número de inaugurações de novas lojas será pelo menos 50% maior na comparação com o ano anterior, com o plano de abertura de 150 lojas neste ano – 49 a mais do que em 2012.

Segundo o CEO do grupo, os focos de crescimento serão nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. O Assaí, braço de atacados do grupo, deve chegar a sete novos estados neste ano. E também será priorizada a expansão da bandeira Minimercado Extra e das Casas Bahia, que deve expandir sua atuação, principalmente na região Nordeste do país.

Os minimercados, segundo Karina Freitas, têm se mostrado um modelo de negócios muito bem sucedido. “Essas lojas têm menor custo para a empresa e têm sido preferidas pelos consumidores pela sua maior facilidade. Muitos clientes não querem fazer compra mensal e ter o trabalho de ir até um supermercado, então os minimercados tem sido muito bem aceitos”, comenta Karina.

A diversificação de marcas é vista como um dos pontos mais fortes do grupo, já que com atuações em diferentes segmentos do setor de consumo - com lojas de alimentos, lojas de eletrônicos, comércio online e atacadista -, a varejista sofre menos com eventuais volatilidades que afetam o setor.

Fatores macroeconômicos positivos para o setor de consumo também podem favorecer as ações neste e nos próximos anos. “O país desenvolveu um sistema de crédito que tem se mostrado bem acertado. Bastante gente que não tinha condições de fazer compras à vista agora pode comprar a prazo. As instituições bancárias são sólidas e ainda há a perspectiva de crescimento do PIB com os eventos esportivos, com novas obras e mais geração de emprego, o que aumenta o potencial de consumo”, afirma Maria Cristina Costa.

A analista da Concórdia avalia que o Pão de Açúcar é uma das “boas empresas da Bolsa” para se investir, por ser pouco volátil e também por apresentar bons resultados, mesmo em tempos de crise. No entanto, ela não recomenda o investimento na ação no curto prazo. “O Pão de Açúcar é uma empresa que rentabiliza sempre. Mas, no momento a ação está um pouco cara e ainda precisamos ver o que vai acontecer em relação ao Cade, para saber se haveria alguma mudança estratégica. Por isso, eu esperaria um pouco mais para investir na ação no curto prazo”, conclui.


Histórico da ação

No acumulado dos últimos dez anos (de 10/03/2003 a 08/03/2013), as ações preferenciais do Pão de Açúcar tiveram alta de 422,18%. No mesmo período, o CDI acumulou alta de apenas 249,12%.

Um dos fatos mais marcantes na última década ocorreu em 2005, quando o controle do Grupo passou a ser compartilhado de forma igualitária entre Abílio Diniz e o Grupo Casino.

Segundo Maria Cristina Costa, a entrada do grupo Casino foi um acerto muito grande da rede. “Abílio Diniz achou que um sócio com dinheiro desafogaria a situação financeira da companhia, que estava alavancada. E naquele momento já estava na hora de reestruturar financeiramente a companhia e formar um colchão financeiro de investimentos, se não o grupo não teria uma sobrevivência a longo prazo”, afirma.

Segundo ela, enquanto outros grupos foram à falência com o acirramento da concorrência e a maior exigência dos consumidores, entre 2005 e 2007, o Pão de Açúcar aproveitou a entrada do novo sócio para se tornar mais eficiente, investindo em novos sistemas de informação, agilizando formações de estoques online, ampliando os centros de distribuição e tornando o sistema de logística moderno e integrado e principalmente para expandir sua operação com a aquisição de novos negócios.

Depois da entrada do grupo Casino, de 2005 até 2010 a varejista passou por um importante período de diversificação de suas marcas. Até 2005, o grupo atuava apenas no segmento alimentar, com Pão de Açúcar, Extra, Sendas e Compre Bem. Em 2007, o grupo deu início à entrada no setor de atacadistas, com a formação de uma joint venture com o Assaí, focando em comerciantes e transformadores.

Em 2009, um dos anos mais importantes para a empresa, a companhia adquiriu as ações restantes do Assaí, comprou o Ponto Frio (Globex) e iniciou a associação às Casas Bahia, colocando o Grupo Pão de Açúcar na posição de maior Grupo de Distribuição da América Latina.

“O ano de 2009 foi o ano de ouro do grupo. Ele deu um salto e isso, lógico, só foi possível com o apoio do sócio Casino. Abílio fez a proposta à Globex e a proposta foi aceita por Lily Safra. A partir de 2009 o grupo passou a ter hipermercados, supermercados e lojas de departamento de bens duráveis”, afirma Cristina.

No mesmo ano ocorreu a associação às Casas Bahia, a jogada mais arrojada do grupo, dado o tamanho da rede.

Como conclusão, hoje em dia, a participação de bens duráveis no faturamento Grupo Pão de Açúcar é equilibrada com a participação de alimentos. “Mais ou menos 55% do faturamento é proveniente do segmento de bens duráveis e 45% de alimentos”, diz Maria Cristina Costa.


E atualmente estão sob o guarda-chuva do Grupo Pão de Açúcar as seguintes bandeiras: Extra Hipermercados, Extra Supermercado, Mini Mercado Extra, Extra Drogaria, Extra Postos de Combustível, Extra.com.br, Pão de Açúcar, Pão de Açúcar Delivery, Assaí, GPA Malls and Properties (braço responsável pelo gerenciamento de projetos imobiliários do grupo), Casas Bahia, CasasBahia.com.br, Ponto Frio, PontoFrio.com, Barateiro.com, eHub.com.br e Partiu Viagens. E o braço de varejo de eletroeletrônicos e online do grupo hoje é chamado Viavarejo.

Segundo Maria Cristina, há uma grande sinergia entre as diferentes marcas. “Se a renda do consumidor diminui, os supermercados sentem muito o efeito disso. Depois da disseminação dos cartões de crédito, o brasileiro chega a deixar de consumir um litro de leite para comprar uma televisão. O grupo conseguiu captar esse potencial ao entrar com mais força nesse mercado. Além disso, com o crescimento da nova classe média, a demanda por bens duráveis cresceu e o grupo passou a aproveitar esse potencial", afirma.

Ela acrescenta que em 2010 o resultado financeiro não foi satisfatório, já que com as novas aquisições e associações naturalmente foi necessário um maior volume de investimentos. Mas em 2011 os resultados já ficaram mais estáveis e 2012 culminou com resultados muito bons. No ano passado, o Pão de Açúcar teve lucro líquido recorde de 1,156 bilhão de reais, aumento de 60,7% na comparação com 2011.

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