Minhas Finanças

A melhor forma de entrar e sair da bolsa

Estudo do consultor financeiro Jurandir Macedo mostra que comprar aos poucos e realizar resgates também graduais diminui o risco e aumenta o retorno com ações

Jurandir Macedo, consultor financeiro: bons retornos na bolsa com investimentos graduais (Divulgação)

Jurandir Macedo, consultor financeiro: bons retornos na bolsa com investimentos graduais (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2011 às 11h02.

São Paulo - "Quanto está chovendo ouro, é hora de agarrar um balde, não um dedal". A frase, do mago das finanças Warren Buffett, remete ao mais batido dos conselhos financeiros: antes de entrar em pânico com a queda da bolsa e se desfazer dos papéis na baixa, garimpe boas oportunidades de compra com a desvalorização das ações.

Por mais trivial que pareça, o conselho passa longe do comportamento adotado por muitos investidores. Ao sinal do menor sobressalto no preço das ações, grande parte deles desiste de aplicar na renda variável, ainda que isso signifique amargar um bom prejuízo. Muita gente decide realizar o prejuízo justamente quando as ações atingem valores historicamente bastante baixos, como em 2008. Já no ano passado (após a forte recuperação de 2009, portanto), o número de investidores cresceu e pouca gente ganhou dinheiro porque a bolsa patinou.

Para Jurandir Macedo, professor da UFSC e consultor do Itaú Unibanco, esse comportamento não faz nenhum sentido se o objetivo é ganhar dinheiro no longo prazo. "O investidor deveria ficar alegre e não triste quando a bolsa despenca. É, afinal, uma boa oportunidade de compra para quem está pensando em resgatar o dinheiro em vinte, trinta anos", diz.

Em parceira com Martin Iglesias, gerente de educação para investidores do Itaú Unibanco, Macedo realizou uma pesquisa que apontou que essa é, de longe, a alternativa mais segura para os que pretendem engordar o patrimônio com o investimento em ações.

Juntos, eles traçaram quatro alternativas de aplicação a partir de diferentes táticas de investimento e resgate. O parâmetro, em todos os casos, foi o rendimento do Ibovespa de 1968 até 2010. Para ver qual das estratégias uniria rentabilidade e segurança, eles montaram o máximo de carteiras que refletissem o desempenho do indicador nesse período.

Assim, para um investimento que durasse dez anos, por exemplo, a primeira carteira foi feita em 1968 com resgate em dezembro de 1977. A segunda aplicação foi feita em fevereiro de 68 com retirada em janeiro de 78, e assim sucessivamente até dezembro de 2010.

O resultado mostra que se o tempo de aplicação for grande - com aportes pequenos, mas sempre constantes - e os resgates forem feitos paulatinamente, o investidor deverá embolsar lucros bem superiores aos entregues pela tradicional caderneta de poupança sem, no entanto, correr grandes riscos. "É isso que fazem os maiores fundos de pensão do mundo: compram aos poucos por muito tempo para realizar o lucro com uma série de vendas, ou simplesmente para aproveitar os dividendos depois", sustenta Macedo.


A mesma quantia foi aplicada nos quatro cenários simulados pela dupla, sendo que o risco do investimento foi medido pelo desvio padrão no rendimento médio anual registrado de 1968 a 2010. Como nas pesquisas de intenção de voto, esse número joga para cima ou para baixo a rentabilidade que seria embolsada pelo investidor em cada uma das situações. Confira os resultados do estudo:

1. Aporte único com retirada dez anos depois

- 396 carteiras montadas
- Retorno médio: 11,01% ao ano
- Risco: 9,18% (probabilidade de 66% do retorno médio ao ano variar entre 20,19% e 1,38% dependendo do período escolhido)
- Caderneta de poupança no mesmo período: 6,93%

2. Aportes mensais por dez anos com resgate integral depois desse período

- 396 carteiras montadas
- Retorno médio: 13,18% ao ano
- Risco: 12,8% (probabilidade de 66% do retorno médio ao ano variar entre 25,98% e 0,38% dependendo do período escolhido)
- Caderneta de poupança no mesmo período: 6,93%

3. Aportes mensais por dez anos com retiradas mensais durante os cinco anos seguintes

- 336 carteiras montadas
- Retorno médio: 14,63% ao ano
- Risco: 6,63% (probabilidade de 66% do retorno médio ao ano variar entre 21,26% e 8% dependendo do período escolhido)
- Caderneta de poupança no mesmo período: 6,93%

4. Aportes mensais por 16 anos com retiradas mensais durante os oito anos seguintes

- 228 carteiras montadas
- Retorno médio: 14,46% ao ano
- Risco: 3,17% (probabilidade de 66% do retorno médio ao ano variar entre 17,63% e 11,29% dependendo do período escolhido)
- Caderneta de poupança no mesmo período: 6,93%
 


Como se vê, a quarta estratégia entregou uma rentabilidade expressiva a partir do menor risco apresentado. O consultor Jurandir Macedo chama a atenção para o fato desta escolha ter permitido ao investidor passar incólume por todas as crises do mercado. "Mesmo que eu calcule três desvios padrões para baixo [considerando três vezes a taxa de risco], eu ainda tenho uma expectativa de retorno positivo nesta situação", diz ele.

Vale lembrar que no momento do resgate, quem enveredar por esse caminho na hora de poupar para a aposentadoria também ganhará isenção fiscal sobre os lucros. Desde que venda até 20.000 reais em ações por mês, o investidor não pagará Imposto de Renda sobre a bolada, maximizando sua rentabilidade líquida.

Para os que começam a trabalhar e a investir agora, Macedo recomenda a aplicação de 3% a 4% do salário na renda variável. "Tenho muita convicção que comprar aos poucos faz de qualquer hora o momento ideal para entrar na bolsa se a expectativa é investir dinheiro por bastante tempo". Por essa lógica, os jovens que levarem esse plano adiante pelos próximos trinta anos vão pendurar as chuteiras com um colchão financeiro de respeito, diluindo – e muito – os riscos de aplicar no turbulento mercado de ações.

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