A importância de certas informações não fica tão clara no prospecto. Por isso, pergunte (Stock.XCHNG)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2013 às 17h01.
São Paulo – Então você definiu seus objetivos de investimento e está pesquisando alguns fundos que possam se adequar a eles. Para fazer a escolha mais consciente, é aconselhável ver o histórico de rendimentos e ler o prospecto. Mas não só. Você sabe o que é mais importante saber antes de entregar seu dinheiro a um gestor profissional? Sabe o que precisa perguntar, ao gestor ou ao distribuidor, para tomar sua decisão de forma consciente?
Veja a seguir quais são as 9 perguntas mais importantes de se fazer para o gestor ou o distribuidor dos fundos de investimento nos quais você está interessado:
1. O fundo é autorizado a operar?
O consultor financeiro André Massaro lembra que a primeira pergunta que se deve fazer não é ao gestor, mas sim à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “O investidor precisa entrar no site da CVM, clicar no item ‘participantes de mercado’ e ver se aquele fundo está lá e é autorizado. Muita gente anda fazendo gestão de investimentos sem poder”, explica Massaro.
2. Em que ativos o fundo investe?
Dependendo do seu objetivo, você pode ter escolhido aplicar em um fundo de renda fixa, de ações, multimercados, de crédito privado, e por aí vai. Existem fundos de diversos tipos e níveis de risco, e o primeiro passo para saber onde você está se metendo, é saber exatamente que tipos de ativos compõem a carteira do fundo.
Qual o objetivo do fundo? É mais conservador? Mais agressivo? Investe no exterior? Quanto? Há ações na carteira? Se sim, de que tipos de empresas e com qual objetivo? São empresas de baixo valor de mercado e pequena liquidez? Ações que oscilam muito? Ações de empresas grandes e muito negociadas? Boas pagadoras de dividendos? Se o fundo tem renda variável, a intensidade de variação dos preços das ações, sua suscetibilidade aos soluços do mercado e baixa liquidez são fatores que podem incrementar o risco.
Se não há ações, há títulos de crédito privado? Que tipo de título? De bancos ou empresas? São instituições grandes ou médias? Qual a classificação de risco dessas instituições? Fundos mais focados em renda fixa são mais suscetíveis ao risco de crédito, que é o risco de a instituição emissora do título quebrar ou dar calote. Assim, empresas menores ou que não tenham a saúde financeira muito boa incrementam o risco.
A economista da Lerosa Investimentos Alexandra Almawi lembra que as pessoas não costumam ter muita noção de qual é o risco do fundo. “Elas acham que, quando investem em um fundo de um grande banco, estão investindo no banco. Que o risco é o banco. Mas o administrador é só um prestador de serviço, que nada tem a ver com o risco do fundo”, explica.
Fundos de investimento têm CNPJ próprio. Portanto, se o administrador, o gestor ou qualquer outro prestador de serviço relacionado a ele for à lona, o fundo continua a existir. O máximo que pode ocorrer, normalmente, é que ele passe a ser administrado ou gerido por outra empresa.
Assim, o verdadeiro risco do fundo é o dos ativos que compõem sua carteira. Se o fundo detiver títulos ou ações de uma empresa que venha a falir, aí sim o investidor deve se preocupar.
3. O fundo faz estratégias com derivativos e opera alavancado?
Alguns fundos, especialmente alguns multimercados, fazem estratégias com derivativos, que são ativos ligados a outros ativos. É o caso, por exemplo, das opções de ações. No prospecto estará designado se essas estratégias visam à proteção da carteira, o chamado hedge, ou à alavancagem.
O uso de derivativos, por si só, não é um risco. Mas o caso do hedge é menos arriscado que a alavancagem, e esta sim deve ser um sinal de alerta. A alavancagem é uma maneira de deixar parte da carteira mais exposta a uma determinada situação de mercado. Se ocorrer o esperado pelo gestor do fundo, o lucro é potencializado. Do contrário, as perdas são potencializadas.
Grosso modo, um fundo que opera três vezes alavancado pode, em determinadas situações, ganhar três vezes mais que o normal. Mas se a estratégia falhar, pode perder três vezes mais. “É importante saber que um fundo não opera alavancado o tempo todo”, lembra Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.
Ele explica que um dos fundos multimercados da Apogeo, por exemplo, de 22 dias úteis em um mês, ele fica três vezes alavancado em algo como três a cinco dias não consecutivos. “O fundo também pode estabelecer uma perda máxima. Ou seja, se a estratégia não estiver funcionando e as perdas chegarem ao máximo estipulado, a operação é automaticamente suspensa”, esclarece.
Assim, dependendo de quantas vezes o fundo fica alavancado e por quanto tempo usa essas estratégias, o risco pode não ser tão alto. Mas é importante o investidor ficar ciente de duas coisas: não apenas os fundos que aplicam em ações fazem essas estratégias; e que as perdas podem ser potencializadas a ponto de os cotistas serem convidados a aportar mais dinheiro no fundo.
“As pessoas não sabem a dimensão do que uma alavancagem pode fazer. Temos casos recentes em que os cotistas tiveram de fazer novos aportes depois das perdas. Não é que o fundo que alavanca seja ruim, mas o investidor precisa estar consciente”, diz Alexandra Almawi. Avaliar se o potencial de retorno vale o risco, e se este é adequado ao seu objetivo e prazo é fundamental.
4. Qual a pior coisa que pode acontecer com meu dinheiro?
Seguindo esse raciocínio, o investidor deve perguntar ao gestor ou distribuidor do fundo pelo qual ele se interessa qual a pior coisa que pode acontecer. Qual é o máximo que você pode perder se tudo der errado?
5. Qual o benchmark do fundo?
Todo fundo tem uma meta de rentabilidade baseada em um indicador econômico, o chamado benchmark. Assim, o fundo pode almejar pagar um percentual da taxa de juros CDI, que é a taxa praticada nas operações interbancárias; superar o Ibovespa ou o IBrX (no caso dos fundos de ações ou multimercados com renda variável); superar um índice de renda fixa, os IMAs, e assim por diante.
6. Qual a taxa de administração máxima do fundo?
Inteirar-se dos custos do fundo é importante, e essas informações normalmente são ditas na lâmina e no prospecto. Fundos cobram uma taxa de administração anual e, em alguns casos, uma taxa de performance sobre os ganhos que excederem o benchmark. Às vezes pode haver uma taxa de saída, se o investidor deixar o fundo antes do prazo estipulado.
“Todos os custos de transação do fundo estão embutidos na taxa de administração. Esse é um fator que pode dar prejuízo ao cotista, uma vez que quanto maior a taxa de administração, mais ela ‘come’ a rentabilidade”, explica Rogério Dutra de Moura Estêvão, consultor de investimentos da gestora Rio Bravo.
Mais importante ainda é verificar qual a taxa de administração máxima do fundo. Fundos que investem em outros fundos – e muitos o fazem – terão não apenas a sua taxa de administração, mas também as taxas desses outros fundos. É essencial verificar qual a taxa máxima que o cotista pode pagar, nesses casos.
7. Como é feita a tributação do fundo?
Outro fator que pode reduzir a rentabilidade do fundo é o imposto de renda. Fundos de ações são tributados em alíquota única de 20%, sempre no resgate. Os demais fundos, porém, têm tributação variável, que varia de 22,5% a 15% dos ganhos, dependendo do prazo que o dinheiro ficou aplicado.
Além disso, esses fundos têm o “come-cotas”: a cada seis meses, são pagos 15% a título de IR em forma de cotas. O restante do imposto é complementado no resgate, se for o caso. Os fundos de ações não têm “come-cotas”, e os fundos imobiliários têm rendimentos isentos de IR para a pessoa física em boa parte dos casos.
8. Qual é a liquidez do fundo?
Ao contrário do que muita gente pensa, fundos de investimento não são como cadernetas de poupança, em que você pede o resgate e o recebe quase que imediatamente. Dependendo da estratégia do fundo, do prazo médio da carteira e do tipo de ativo no qual ele investe, pode demorar meses para o cotista reaver o dinheiro depois de pedir o resgate.
Em geral, a liquidez aparece na lâmina do fundo com a denominação D+ um número de dias. Um fundo D+30, por exemplo, leva um mês para devolver o dinheiro ao cotista a partir do momento em que ele solicita o resgate. Um fundo D+180 leva cerca de seis meses.
Assim, quem investe em fundos como esse deve se planejar para solicitar o resgate com a antecedência necessária. “Muitos desses fundos cobram uma taxa de saída de 5% se você quiser seu dinheiro antes do prazo estipulado”, alerta Alexandra Almawi.
9. Como é a oscilação dos retornos?
Olhar a rentabilidade do fundo no longo prazo é importante na tomada de decisão. Avalie se os retornos são consistentes, se houve altas ou quedas repentinas em algum momento do passado e por quê. Os ganhos têm sido superiores à inflação? Conseguem superar o benchmark?
“Os retornos aconteceram de forma ‘regular’, formando uma curva suave para cima, ou foram concentrados em alguns poucos meses? Qual o drawdown – jargão para o quanto o investimento se desvalorizou a partir de certo ponto – máximo do fundo?”, diz André Massaro.
Veja no vídeo a seguir quais os tipos de fundos de ações mais indicados ao pequeno investidor:
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