Minhas Finanças

7 passos para aderir à filantropia

Doações para as boas causas devem estar previstas no orçamento e ser seguidas à risca

Nos Estados Unidos, bilionários se comprometem a doar boa parte de suas fortunas para a filantropia (Ethan Miller/Getty Images)

Nos Estados Unidos, bilionários se comprometem a doar boa parte de suas fortunas para a filantropia (Ethan Miller/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2011 às 07h00.

São Paulo – Apesar da apregoada solidariedade do povo brasileiro, a filantropia é uma prática pouco incentivada no país e dificilmente faz parte do orçamento das famílias. Mas em países como Estados Unidos, onde donos de grandes fortunas se comprometem a doar boa parte do que têm para a caridade, filantropia é apenas mais um item do planejamento financeiro saudável.

“O conselho que eu dou a quem quer ser um filantropo é traçar uma estratégia de filantropia semelhante a uma estratégia de investimentos”, diz André Massaro, especialista em finanças da consultoria MoneyFit. Quem quer levar a filantropia a sério deve prevê-la no seu orçamento e seguir à risca o planejamento, para conseguir manter a regularidade de suas doações sem se prejudicar financeiramente.

Confira a seguir o passo a passo para se tornar um filantropo:

1. Preveja as doações no seu orçamento

A precondição para ser um filantropo compromissado é ter um orçamento em que se possa prever não só as despesas e as aplicações, como também o valor que será doado periodicamente. Cara-a-cara com o seu orçamento é possível determinar com precisão as suas sobras e determinar quanto pode ser destinado à filantropia mensalmente sem causar abalo nas finanças.

2. Pense primeiro em você e na sua família

André Massaro lembra sobre a importância do que ele chama de “sustentabilidade de si mesmo”. Para explicar, ele utiliza a metáfora da cabine de avião despressurizada. Durante as demonstrações de segurança, a tripulação sempre reforça que, quando as máscaras de oxigênio caem do teto, primeiro os adultos devem colocar as suas e só depois ajudar quem estiver ao seu lado.

“A lógica é simples: se você morrer, não poderá ajudar ninguém e ainda vai atrapalhar os outros”, acredita Massaro. Ou seja, antes de doar um percentual da sua renda a qualquer causa nobre, certifique-se de que você de fato tem sobras. E por sobras entende-se aquilo que não lhe fará falta, não havendo um “percentual ideal”.

Essa é a mesma lógica dos pais que pensam na aposentadoria dos filhos antes de pensar na sua própria. Lembre-se: uma pessoa só pode ajudar alguém se ela mesma estiver bem. Do contrário, o bem intencionado pode acabar se tornando um fardo para os outros. Se a sua situação financeira for ou se tornar crítica, suspenda a filantropia até que o problema seja resolvido.


3. Invista em mudanças reais

Escolher uma causa que se relacione diretamente a uma crença ou bandeira pessoal é uma excelente maneira de se sentir incentivado a doar sempre. André Massaro aconselha os filantropos a preferirem as causas que contribuam para mudanças efetivas da sociedade, em vez daquelas que simplesmente mantenham o “status quo”, ou seja, que “dão o peixe”, mas não “ajudam a pescar”. A menos, é claro, que “dar o peixe” seja a única coisa que falta.

Doar para organizações religiosas, orfanatos e ONGs de preservação ambiental parece óbvio, mas a multiplicidade de causas é muito maior. Pesquisas científicas, instituições de ensino e iniciativas culturais muitas vezes precisam de ajuda financeira e podem causar grande impacto social. E lembre-se: todas essas causas são nobres.

4. Escolha instituições idôneas

Antes de escolher a instituição que deseja ajudar, é indispensável fazer um levantamento para verificar sua idoneidade. Juliana Ramalho, advogada especializada em Terceiro Setor do Escritório Mattos Filho, aconselha os doadores a visitarem a instituição e a pedirem alguns documentos para verificar a autenticidade e o histórico de seus trabalhos.

Se o aspirante a doador pedir, as instituições mais sérias certamente irão mostrar seu relatório de atividades, demonstrativos contábeis e o estatuto social. “Principalmente se for uma Oscip [Organização da Sociedade Civil de Interesse Público], cujo princípio é a transparência”, diz a advogada.

Embora não exista um banco de dados completo com todas as instituições bem intencionadas do país, o Ministério da Justiça dispõe de um sistema de busca de alguns tipos de entidades. Por meio do Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública (CNEs), é possível buscar e conhecer as prestações de contas de todas as Organizações Estrangeiras, organizações de Utilidade Pública Federal e Oscips. Basta ter o CNPJ ou Razão Social da organização.

Para filantropos de alto poder aquisitivo, uma opção é o Instituto Azzi, uma organização que mantém parcerias com entidades idôneas às quais são destinados os recursos doados pelos filantropos. A doação mínima anual é de 100.000 reais. O fundador do instituto, Marcos Flávio Azzi, é um nome bem conhecido do mercado financeiro, ex-sócio da corretora Hedging-Griffo, posteriormente vendida ao Crédit-Suisse.

“É uma alternativa para quem não tem tempo de fazer levantamentos mais profundos sobre as instituições. O fato de o nome dele ser conhecido também ajuda”, diz Juliana Ramalho, que também aconselha a procurar instituições com pessoas conhecidas e de boa reputação à frente.

5. Aproveite incentivos financeiros

No Brasil infelizmente há pouquíssimos incentivos financeiros à filantropia. Porém, algumas causas – notadamente idôneas – permitem o abatimento do valor das doações de até 6% do Imposto de Renda, para quem usa a declaração completa (veja aqui as regras para aproveitar esse benefício).


Esse incentivo é válido para todos os projetos culturais, audiovisuais e esportivos previamente aprovados por seus respectivos ministérios (de acordo com as leis Rouanet, do Audiovisual ou do Esporte), além dos fundos controlados pelos Conselhos Municipais, Estaduais ou pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (como os FUMCADs).

Uma modalidade que não é uma doação, mas que também recebe esse benefício é o investimento em fundos de financiamento da indústria cinematográfica nacional (Funcines). Como fundos de investimento comuns, os Funcines financiam filmes nacionais e remuneram seus cotistas com as receitas geradas por esses projetos, garantindo-lhes ainda a possibilidade de abatimento do valor do investimento num valor de até 6% do IR.

Além dos incentivos governamentais, existem ainda iniciativas informais que “remuneram” seus benfeitores. Nos sites de “crowdfunding”, é possível, com pequenas doações em dinheiro, financiar diferentes projetos – da vinda de artistas ao Brasil e pequenos negócios a causas sociais. Os projetos são geralmente pré-aprovados pelo site e só saem do papel se atingirem o mínimo necessário de doações. Os benfeitores, por sua vez, recebem uma recompensa pelo valor doado (conheça aqui algumas iniciativas de “crowdfunding” no Brasil).

6. Prepare-se para as doações eventuais

É claro que é difícil não se comover ao ver pedintes nas ruas, especialmente quando são crianças. As opiniões sobre os reais benefícios de dar dinheiro ou não a essas pessoas se dividem, pois muitas vezes é difícil mensurar as reais necessidades dessa população. Mas uma boa regra para se seguir é não permitir que ajudas eventuais, como essas, ultrapassem o seu limite de doações.

Não é apenas o caso das esmolas. Ao longo do ano há uma série de campanhas eventuais de doações de alimentos, agasalhos, livros ou dinheiro. Se quiser participar delas, preveja esses donativos na hora de planejar o orçamento. A filantropia deve estar prevista, como qualquer outro gasto corrente, e entrar no planejamento com a mesma periodicidade das demais despesas e aplicações.

“Você pode prever uma quantia específica para cada instituição, doar tudo para uma organização só ou separar uma parte do valor destinado à filantropia para essas pequenas doações eventuais. Não importa, o importante é seguir à risca esse planejamento”, completa André Massaro.

7. Tempo pode ser melhor que dinheiro

Se a renda é irregular ou se for difícil manter um valor significativo para suas doações periódicas, considere também doar parte do seu tempo livre com um trabalho voluntário. Mas mesmo quem tenha condições de fazer doações em dinheiro pode não se sentir muito seguro quanto ao que será feito com sua ajuda.

Se esse é o seu temor, não há forma melhor de controlar os resultados do trabalho de uma organização além de se envolver pessoalmente com ele. A advogada Juliana Ramalho dá a dica: nos sites dos Centros de Voluntariado dos estados existe uma relação de organizações que precisam da atuação de voluntários.

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