São Paulo - Como o tempo todo estamos tomando decisões, nosso cérebro acaba criando atalhos mentais para economizar esforço ou ter respostas mais rápidas na hora de realizar escolhas. A consequência é que esses truques mentais podem ter impacto negativo sobre nossas decisões de investimento.
Como forma de alertar investidores, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou um material esclarecedor sobre os erros mais comuns provocados por esses atalhos mentais, que inclui também dicas sobre como driblá-los. A publicação completa, produzida pela Coordenação de Estudos Comportamentais e Pesquisa da Superintendência de Proteção e Orientação aos Investidores (COP/SOI), pode ser acessada na Série CVM Comportamental – Volume 1: Vieses do Investidor.
Todo o conteúdo foi elaborado com base em conceitos de finanças comportamentais, vertente da psicologia econômica que estuda as emoções que estão por trás das decisões financeiras. Nos termos das finanças comportamentais, os atalhos mentais que nos fazem cometer erros financeiros são chamados de vieses comportamentais.
Veja, a seguir, alguns dos principais vieses que nos levam a cometer gafes com o dinheiro, segundo a Série CVM Comportamental.
1) Ter poucas referências ao investir
A mente tende a considerar como verdadeiras referências que possuímos sobre determinados assuntos, ainda que elas sejam insuficientes.
Se um investimento aparece ligado a palavras como “pechincha”, por exemplo, é mais provável que o investidor avalie o investimento como vantajoso do que outro que costuma ser considerado “caro”.
A explicação para esse fenômeno é que a mente necessita de referências para basear seus julgamentos, mesmo que essas referências não sejam as mais adequadas
Um investidor que compra uma ação por determinado valor e se recusa a vendê-la por um custo menor é um exemplo típico desse fenômeno. A justificativa para não realizar a venda é a crença de que foi pago um valor justo pelo bem ou aplicação. Mas esse pensamento, se questionado a fundo, pode não ser verdadeiro.
O que fazer: Verifique se suas referências têm fundamentos e evite tomar decisões financeiras de última hora. Na falta de indicações racionais, a mente apela para informações disponíveis, mas que nem sempre são confiáveis (veja 10 sinais de que você é péssimo ao lidar com o dinheiro).
2) Ter medo de perder dinheiro
Este truque da mente consiste em atribuir maior importância às perdas do que aos ganhos. Uma das justificativas para isso é que, como a dor da perda tende a ser sentida com maior intensidade do que o prazer da conquista, ficamos com a impressão de que a perda é mais relevante.
O fenômeno, conhecido como aversão ao risco, pode levar o investidor a se manter em uma aplicação de baixa rentabilidade pelo medo de arriscar. Ou, pelo contrário, pode levá-lo a sair de uma aplicação promissora de forma precipitada pelo temor de perder os rendimentos que já foram acumulados.
O que fazer: Estabeleça limites aceitáveis para eventuais prejuízos e questione periodicamente se vale a pena continuar investindo na aplicação. Em caso negativo, pode ser melhor retirar o dinheiro e buscar recuperar o prejuízo aplicando os recursos em algo mais rentável.
Evite também monitorar frequentemente os rendimentos das aplicações, principalmente as de longo prazo. Isso pode ajudar a diminuir a ansiedade de resgatar o dinheiro por conta de perdas que poderiam ser facilmente recuperadas no futuro.
3) Basear-se no histórico de ganhos do investimento
Um erro frequente de investidores é calcular a probabilidade de retorno de determinada aplicação com base em seus desempenhos passados.
Por exemplo, uma ação que tenha se valorizado por diversas vezes consecutivas pode levar o investidor a pensar que ela poderá passar a cair, mesmo que não haja uma razão racional para que isso aconteça, e vice-versa.
O que fazer: Leve a sério o alerta de que ganhos passados não representam garantia de rentabilidade futura e baseie suas decisões de investimento em informações confiáveis.
4) Ficar agarrado a convicções
Outra peça que sua mente pode pregar é a priorização de informações que confirmam suas convicções e o descarte de dados que que desafiam nossas crenças. Esse é o viés de confirmação.
Filtrar o que é verdadeiro dentre duas informações opostas exige esforço. Como o caminho mais curto (e fácil) é continuar acreditando nas nossas próprias crenças, muitas vezes nosso cérebro nos induz a isso.
Como consequência, se o investidor acredita que uma aplicação é vantajosa, ao fazer uma pesquisa sobre esse investimento ele pode reunir apenas informações que validem sua tese, e pode acabar descartando notícias e dados que indiquem que a aplicação pode não ser tão boa assim (veja os 7 erros mais evitados pelos ricos ao investir).
O que fazer: Pesquise com calma, compare informações de diversas fontes e busque discutir com outras pessoas os motivos que embasam ou desestimulam a decisão. Faça também um esforço adicional para encontrar pontos de vista contrários aos seus.
5) Deixar-se levar por emoções
A dificuldade de nos colocarmos em outros estados emocionais em um momento de estresse tem impacto negativo sobre nossas decisões de investimentos.
Por exemplo, um investidor que tenha estabelecido um limite de 10% para perdas pode mudar de estratégia e resgatar todo o investimento ao verificar que a aplicação está registrando prejuízo, mesmo que a perda esteja dentro do limite inicialmente planejado.
O que fazer: A melhor forma de não se deixar levar pelo calor do momento é programar de maneira automática aplicações e resgate de recursos em fundos ou ordens de compra e venda de ações, sempre respeitando critérios definidos previamente.
Também pode ser uma boa saída estabelecer uma periodicidade mínima para acompanhar a rentabilidade dos investimentos, evitando acompanhar o rendimento em um período curto de tempo e de grandes oscilações.
6) Ter excesso de autoconfiança
Um investidor bem-sucedido em suas aplicações financeiras corre o risco de confiar demais em sua capacidade. Assim, ele pode passar a desconsiderar outros fatores que talvez tenham sido mais importantes para o sucesso dos investimentos do que o seu próprio desempenho.
Acreditar em uma habilidade de controle de riscos acima da média pode levar o investidor a tomar mais risco de forma inconsciente. Isso acontece porque o viés da autoconfiança excessiva te leva a acreditar que outras pessoas podem ter prejuízos ou entrar em investimentos furados, mas isso jamais aconteceria com você.
O que fazer: É sempre recomendável questionar a própria competência e discutir estratégias de investimentos com especialistas. Ainda que você tenha obtido bons lucros em uma aplicação, é sempre importante se prevenir contra perdas diversificando os investimentos.
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1. Leitura recomendada
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1/12 (Freeimages.com)
São Paulo -
Livros são boas fontes de informação para quem deseja conhecer melhor o universo das finanças, principalmente em momentos de incertezas sobre a economia. Os dez títulos selecionados por EXAME foram lançados recentemente, entre o final de 2013 e ao longo do ano passado. Mas quem quiser se aprofundar ainda mais também pode conferir a lista de alguns livros mais antigos,
considerados essenciais para quem quer começar a investir. As sugestões servem tanto para quem quer se livrar de
dívidas e organizar melhor o
orçamento doméstico, como para quem pretende iniciar novos
investimentos ou aprimorar seus conhecimentos sobre as
aplicações financeiras. As publicações também mostram tendências que têm impacto sobre as aplicações e explicam conceitos econômicos e termos utilizados no
mercado financeiro. Confira as sugestões a seguir e tenha uma boa leitura.
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2. "Adeus Aposentadoria"
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2/12 (Divulgação/Editora Sextante)
Autor: Gustavo Cerbasi Editora: Sextante Para Gustavo Cerbasi, consultor financeiro e autor do livro
"Casais inteligentes enriquecem juntos", o conceito de
aposentadoria está mudando. O aumento da expectativa de vida dos brasileiros e a redução
dos benefícios previdenciários pagos pelo governo restringem a renda na fase mais avançada na vida e, portanto, tornam ainda mais importante a preocupação com os investimentos para conquistar a tranquilidade financeira nesse período. O autor explica como é possível se preparar para obter renda suficiente para a aposentadoria e quais são as melhores opções de aplicações financeiras para o longo prazo.
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3. "Em Busca do Tesouro Direto"
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3/12 (Divulgação/Editora Campus Elsevier)
Autores: Samy Dana e Miguel Longuini Editora: Saraiva
O livro explica como funciona o investimento nos títulos do Tesouro Nacional e quais são as diferenças entre as opções disponíveis no Tesouro Direto, plataforma de compra e venda dos títulos.
Criado em 2002, o Tesouro Direto vendeu mais de 14 bilhões de reais em títulos no ano passado. A aplicação de baixo risco é uma boa opção para investidores que buscam retornos maiores do que a poupança e não gostam de correr muito risco.
O livro mostra o funcionamento dos títulos nos mínimos detalhes e utiliza conceitos de matemática financeira para explicar as formas de remuneração dos títulos.
É uma leitura essencial para quem pretende investir nos títulos públicos por conta própria, sem depender do auxílio de consultores financeiros.
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4. "Finanças pessoais: o que fazer com o meu dinheiro"
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4/12 (Divulgação/Editora Trevisan)
Autora: Marcia Dessen Editora: Trevisan Marcia Dessen, autora de artigos e livros de finanças pessoais e diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF), explica nesse guia como planejar o uso do dinheiro, investir, encarar dívidas e ter tranquilidade financeira no futuro.
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5. “Tudo ou Nada. Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X”
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5/12 (Divulgação/Editora Record)
Autora: Malu Gaspar
Editora: Record
A trajetória do ex-bilionário Eike Batista, protagonista do maior escândalo financeiro do Brasil no ano passado, é contada pela jornalista Malu Gaspar, que tem passagens pela Revista Exame e pelo jornal Folha de S.Paulo e é editora da revista Veja. Malu cobriu a ascensão e decadência do grupo "X" nos últimos oito anos e explica como o empresário convenceu investidores e utilizou a bolsa de valores para levantar bilhões de reais. A autora também busca comprovar, com base em documentos, que o empresário sabia que estava divulgando informações fantasiosas a investidores quando suas empresas começaram a dar prejuízo. Eike é investigado por crimes contra o mercado financeiro e levou pequenos investidores a perderem dinheiro com ações de suas empresas. O livro serve como alerta para quem aplica na Bolsa, ou pretende começar a investir em ações.
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6. “Flash boys: Revolta em Wall Street”
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6/12 (Divulgação/Editora Intrínseca)
Autor: Michael Lewis
Editora: Intrínseca
O jornalista americano Michael Lewis conta nesse livro a trajetória do canadense Brad Katsuyama, que chegou à conclusão de que computadores podem competir com
grandes investidores nos investimentos em bolsa. Katsuyama começou a trabalhar como funcionário de uma corretora em Wall Street a partir de 2008, aos 29 anos, e, desde então, estuda como o uso de softwares e computadores potentes está mudando o modo de investir em
ações no mundo. A tecnologia já permite emitir ordens de compra e venda de papéis em milésimos de segundos. Dessa forma, é possível ampliar ganhos na bolsa com pequenas e rápidas distorções de preços. Essas operações, chamadas de trades de alta frequência, já sofreram restrições de órgãos reguladores em alguns países, que temem que as transações aumentem a especulação no mercado acionário, o que pode ter impacto negativo para quem investe na bolsa.
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7. “How to speak money “
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7/12 (Divulgação/Faber & Faber)
Autor: John Lanchester Editora: Faber & Faber Os termos e conceitos usados no mercado financeiro parecem muito complicados? O escritor inglês, autor do best seller sobre a crise econômica de 2008 "I.O.U", busca traduzir nesse livro os principais jargões utilizados por bancos, corretoras e gestoras de investimentos. Com uma linguagem leve para manter a atenção do leitor, ele explica desde conceitos mais simples, que podem fazer parte de um financiamento ou contrato de cartão de crédito, até termos mais sofisticados, que se tornaram mais conhecidos durante a crise. O objetivo do autor é fazer com que clientes de bancos e investidores se sintam menos intimidados por esses conceitos e possam questionar e entender melhor o que está previsto em contratos de serviços financeiros e investimentos. A versão digital em inglês do livro pode ser adquirida em sites que atuam no Brasil.
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8. “Risk Savvy: How to Make Good Decisions”
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8/12 (Divulgação/Viking Adult)
Autor: Gerd Gigerenzer Editora: Viking Adult Psicólogo alemão especialista em risco, o autor demonstra como tomar boas decisões no mercado financeiro e com relação a diversos assuntos, como saúde e relacionamentos. Para isso, recomenda regras simples que podem diminuir a necessidade de uma grande quantidade de informação ao mesmo tempo em que evitam riscos. A versão em inglês do livro, tanto impressa como digital, pode ser
comprada pela internet.
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9. “Investir em Imóveis. Entenda os segredos práticos desse mercado”
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9/12 (Divulgação/Editora Évora)
Autores: Gilberto Benevides e Wang Chi Hsin Editora: Évora Os autores, um engenheiro civil e um arquiteto, listam no livro cuidados que devem ser tomados por quem pretende comprar um
imóvel para morar ou investir. O livro também busca responder dúvidas sobre qual o melhor tipo de imóvel, como se relacionar com corretores e como escolher a unidade mais adequada.
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10. “Macroeconomia para executivos”
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10/12 (Divulgação/Editora Campus Elsevier)
Autores: Fabio Giambiagi e Cristiane Schmidt
Editora: Campus Elsevier Entender conceitos macroeconômicos, como inflação e juros, auxilia na análise
sobre onde investir. Além de traduzir o “economês” de cada termo, os autores demonstram como os indicadores de atividade econômica têm impacto no cotidiano. Para isso, utilizam linguagem simples e didática, além de exemplos concretos.
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11. “Microeconomics: A Very Short Introduction”
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11/12 (Divulgação/Oxford University)
Autor: Avinash Dixit Editora: Oxford University O professor de economia da universidade americana de Princeton explica no livro como entender conceitos microeconômicos, que têm impactos no cotidiano e devem ser monitorados por quem precisa tomar decisões financeiras. Para o autor, entender essa esfera da ciência econômica, que estuda o comportamento de indivíduos e empresas com relação a investimentos e ao consumo de produtos e serviços, é tão importante quanto analisar dados macroeconômicos, como o crescimento do país. A versão digital em inglês do livro pode ser
comprada pela internet.
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12. Agora veja 8 conselhos de grandes investidores para enriquecer
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12/12 (Rick Wilking/Reuters)