Fábio Zugman, doutorando em administração para a FEA/USP: é preciso aprimorar comunicação entre gestores e clientes. (Marcelo Almeida/Você S.A.)
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h57.
São Paulo - Fatores como a comunicação com os gestores, a sorte, o controle emocional e o perfeito entendimento de todos os riscos de uma aplicação são tão importantes ao sucesso de um investidor quanto seus conhecimentos teóricos e práticos acerca do mercado financeiro. É nesse sentido que aponta um estudo iniciado recentemente pelos pesquisadores Fábio Zugman e José Roberto Ferreira Savoia, da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA/USP).
Em entrevistas com gestores de investimentos, o doutorando e o professor identificaram as cinco características e habilidades de um bom profissional do ramo, ou mesmo de um bom investidor individual. Um dos maiores problemas que os gestores identificam é o hábito de os investidores se importarem apenas com os resultados da aplicação, sem analisar outros fatores que influenciam a rentabilidade. A falta de informação e a afobação podem ser desastrosas. Conheça, a seguir, os cinco atributos do bom investidor:
1) Conhecimento técnico: a primeira característica é a mais óbvia. No caso dos gestores esse é o pré-requisito da profissão, é o conhecimento formal adquirido, por exemplo, na universidade. É claro que uma pessoa comum pode investir por conta própria sem precisar fazer faculdade de economia, mas fazer cursos sobre os tipos de aplicações financeiras e aprender o funcionamento e objetivo de cada uma delas é o primeiro passo.
2) Habilidades natas: outro pré-requisito óbvio. Trata-se da capacidade intelectual, a inteligência mínima para que a pessoa consiga entender o universo dos investimentos. Mas aqui entra também um fator muito importante, mas frequentemente ignorado por especialistas e investidores leigos: o controle emocional. “Conversando com os gestores, percebemos que ter sucesso nos investimentos não é uma questão de inteligência pura. Muitas vezes são mais importantes a postura frente aos desafios e o autocontrole”, diz Fabio Zugman. Atualmente existe até um ramo de estudos chamado finanças comportamentais, que se dedica a analisar as relações entre as emoções e o comportamento dos investidores, mesclando economia e psicologia.
3) Habilidades práticas: são as habilidades adquiridas com a prática. Esses conhecimentos variam de acordo com a pessoa, com o tipo de investimento e com o tempo de experiência.
4) Comunicação e conhecimento sobre os riscos: o que os pesquisadores chamam de “comunicação” refere-se à capacidade dos gestores de fazer seus clientes entenderem o funcionamento de cada produto, seus riscos e objetivos sem olhar apenas para a rentabilidade. É basicamente a capacidade de gerenciar as expectativas dos clientes. Do ponto de vista do investidor pessoa física, é a dedicação a entender cada um desses pontos e de se relacionar com quem administra a sua carteira, se for o caso. “Os gestores reclamam que os clientes só olham para a rentabilidade, sem entender, muitas vezes, que os ganhos maiores de um fundo concorrente podem ter a ver com riscos maiores. É necessário entender todos os custos e riscos por trás daquela rentabilidade”, alerta Zugman.
O pesquisador defende que os investidores devem procurar se informar sobre todas as taxas cobradas sobre o investimento e o perfil de cada um de acordo com o tipo de risco. É essencial ter na cabeça conceitos como alavancagem (empréstimos tomados por um fundo a fim de turbinar a rentabilidade, mas potencializando também os riscos), risco de volatilidade (variação do valor dos ativos), risco de crédito (de ter ou não o empréstimo pago ao se comprar um título de dívida) e diversificação dos investimentos de acordo com os diferentes objetivos. “Não adianta querer a rentabilidade de um fundo de renda variável se o seu perfil não é o de tomar risco”, exemplifica o pesquisador.
A partir da conversa com os gestores, os acadêmicos perceberam que intensificar a comunicação entre investidores e gestores é importante para sanar o problema, o que é particularmente difícil no segmento do varejo, por exemplo. Uma dica para escolher um bom gestor é identificar a instituição em que os profissionais consigam explicar todos os riscos e custos de uma aplicação. Mesmo que isso não seja possível, é fundamental que o investidor se informe a respeito, mesmo que por meio de cursos, consultores financeiros ou leituras extras, para não perseguir uma meta irreal, ou acabar perdendo dinheiro do qual não poderia prescindir.
5) Sorte: ainda que incontrolável, o chamado componente aleatório não pode ser negligenciado. Um bom resultado não necessariamente tem a ver com a competência do gestor ou do investidor, pode ser um fruto do acaso, e é preciso tentar minimizar esse efeito o máximo possível. Isso vale tanto na hora de escolher um gestor quanto para quem investe sozinho.
Traders profissionais costumam alertar para quem aplica em Bolsa que meia dúzia de bons resultados não fazem de ninguém um grande sucesso. O mesmo vale para as instituições que administram recursos. O resultado do ano anterior não é garantia de sucesso ou fracasso futuro, pois há uma série de outras variáveis envolvidas. “O ideal para os clientes não é encontrar o profissional perfeito, mas um que acerte mais do que erre”, afirma Fabio Zugman.
É claro que resultados passados são importantes. Quando se escolhe um fundo ou uma empresa para se investir, o ideal é que os resultados passados sejam consistentes e condizentes com o cenário econômico. Mas o passado não garante o futuro, há outros fatores em jogo, como a confiança no profissional ou na instituição. Instituições financeiras confiáveis são capazes de apresentar seus produtos e tirar dúvidas com clareza, por exemplo. No caso de fundos de investimento, é importante verificar se os resultados são consoantes com o que é prometido no fundo. “Se um fundo é vendido como conservador, mas tem volatilidade muito alta, há algo errado ali, algo que o investidor não sabe”, exemplifica o pesquisador.