Cemig: tradicionais pagadoras de dividendos, elétricas sofreram com pacote tarifário do governo (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h46.
São Paulo – Empresas sólidas, líderes com folga em setores maduros e que não precisem reinvestir a maior parte de seus lucros na atividade produtiva. Este é, em linhas gerais, o perfil das empresas consideradas boas pagadoras de dividendos, que conseguem distribuir um bom percentual de lucros aos acionistas com uma periodicidade consistente. Mas, ao analisar uma empresa em busca de dividendos, o investidor pode se deparar com alguns sinais que, sozinhos, podem dar uma falsa impressão de que a distribuição dos lucros será significativa.
A seguir, quatro sinais de alerta para os investidores que gostam de dividendos:
1. Lucros insuficientes
“A nossa seleção de ações pagadoras de dividendos foca justamente o lucro. O investidor muitas vezes se esquece de que o pagamento de dividendos nada mais é que a distribuição dos lucros”, diz Alessandro Barreto, gestor de investimentos da Geral Investimentos. Ou seja, boas pagadoras de dividendos terão perspectivas de lucro consistente e crescente, bem como baixa necessidade de investimento.
Uma empresa que distribua um valor em dividendos alto demais em relação ao seu lucro, por exemplo, não será capaz de manter essa prática no longo prazo caso não consiga ter lucros consistentes e disponíveis ao longo do tempo. É possível que seu desejo seja justamente o de atrair acionistas em busca desse tipo de remuneração.
2. Passado brilhante, futuro incerto
Já empresas com perspectivas de lucros menores no futuro consequentemente pagarão menos dividendos, ainda que, até então, tenham tido um histórico sólido de distribuição. É o caso das empresas que decidem fazer um investimento vultoso, que têm um contrato de concessão pública prestes a vencer ou que podem ser atingidas negativamente por uma medida governamental com chances reais de se concretizar.
Um bom exemplo são as empresas do setor elétrico, cujas ações sofreram depois que a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote energético que incluía a renovação de certas concessões mediante a aceitação de novas tarifas. Além da queda no preço de certas ações após o anúncio da medida, algumas corretoras retiraram esses papéis de suas carteiras recomendadas de dividendos, já vislumbrando uma possível queda nos lucros das companhias no futuro.
“A criação de um ambiente de insegurança jurídica em um setor é péssimo para as empresas que o compõem, inclusive porque afasta o investimento estrangeiro”, comenta Barreto. Ingerência governamental na gestão e perspectivas de mudanças de tributação são outros exemplos de fatores externos que podem afetar o lucro de empresas sólidas e mudar seu bom histórico de lucros e distribuições de dividendos. “Na nossa carteira de dividendos não entram, por exemplo, ações de empresas como Petrobras, Banco do Brasil ou Eletrobrás, que têm muita interferência do governo”, diz o gestor da Geral.
Mesmo quando as concessionárias de serviços públicos e empresas de infraestrutura não têm problemas como esses em seu horizonte, a aproximação do fim de um contrato com renovação incerta pode pôr fim a um brilhante histórico de pagamento de dividendos. O mesmo pode ocorrer se uma empresa líder em seu setor tiver perspectivas de perder participação de mercado. “Os dividendos não são eternos”, observa Frederico Meinberg, diretor da Rico, home broker da Octo Investimentos.
3. Dividendos eventuais
Outro sinal que pode enganar o investidor são os picos de pagamentos de dividendos, frutos de eventualidades. Só porque determinada empresa pagou bons dividendos em um determinado ano não significa que ela vai distribuir seu lucro de forma consistente no longo prazo. Há que se verificar se seus ganhos não foram excepcionais naquele ano, muito acima do que seria o esperado, por algum fator externo. O pico pode até ser pontual. Uma empresa de lucro baixo pode, por exemplo, vender um ativo e remunerar seus acionistas com os recursos extras advindos dessa venda.
Mas o oposto pode também ser verdade. Uma empresa que costuma fazer altos investimentos pode se tornar uma boa pagadora de dividendos em um período de maior cautela. Para Alessandro Barreto, da Geral Investimentos, é o caso da Vale: “Com a desaceleração da economia mundial e a menor demanda por minério, a Vale projetou uma melhor seleção de seus investimentos para o ano que vem, podendo distribuir mais dividendos”, diz.
4. Dividend Yield alto demais
Olhar apenas para o Dividend Yield de uma ação também pode ser bastante enganoso. O múltiplo é calculado dividindo-se os dividendos pelo preço da ação. Portanto, um Dividend Yield alto não significa necessariamente que a empresa seja uma boa pagadora de dividendos; pode querer dizer que, na realidade, o preço da ação está em queda.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Cemig e a AES Tietê, afetadas pelo pacote do governo que visa à redução das tarifas de energia elétrica. Um dia após a publicação das medidas, o preço das ações da AES Tietê caiu 15,7%, enquanto a Cemig despencou 19,7%.
Contudo, dependendo das perspectivas da empresa, o preço mais baixo pode ser bom para quem quer comprar aquelas ações. Para Frederico Meinberg, da Rico, a Cemig é um desses casos, mesmo com possibilidade de queda nas receitas. E a própria empresa já manifestou que não pretende mudar sua política de dividendos, de distribuição mínima de 50% do lucro.
Porém, certos valores de Dividend Yield podem ser considerados altos demais, e são sinais de alerta. Segundo o professor do Insper Alexandre Chaia, para saber o que é um Dividend Yield alto é preciso considerar a atual taxa básica de juros, mais um prêmio de risco do negócio. Para ele, com a Selic atual de 7,5%, um Dividend Yield de 12% ou mais poderia ser considerado alto demais. “Três ou quatro pontos percentuais acima da taxa básica de juros já pode ser considerado inviável no longo prazo para a maioria das empresas”, diz Chaia.
Meinberg é ainda mais conservador, considerando alto um Yield de 10%. “Acima de 8% já é estranho, pois dá para desconfiar da solidez da empresa ou de sua capacidade de manter os dividendos no longo prazo”, observa. Alessandro Barreto, da Geral, faz ainda outro alerta sobre o indicador: “O mal do Dividend Yield é comparar o lucro passado com o preço da ação. É mais importante olhar a possibilidade de lucros futuros”, lembra.
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