Minhas Finanças

4 riscos escondidos na sua carteira de investimentos

Como evitar os riscos que o investidor corre sem saber, em relação a renda fixa, diversificação, timing de venda e imóveis

Mitos e impressões erradas podem fazer o investidor correr riscos que ele não desejaria (Wiros/Flickr)

Mitos e impressões erradas podem fazer o investidor correr riscos que ele não desejaria (Wiros/Flickr)

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2011 às 07h00.

São Paulo – Dinheiro poupado corre risco por natureza. Embaixo do colchão, ele perde para a inflação; aplicado em renda fixa, está sujeito à saúde financeira de governos e empresas; e aplicado em ações, flutua ao sabor das cotações. Ninguém sozinho é capaz de conter as crises econômicas, desastres naturais e conflitos políticos que abalam os mercados, mas isso não é desculpa para adicionar riscos desnecessários à própria carteira de investimentos. A tomada de risco deve ser consciente, mas algumas impressões erradas podem levar o investidor a sérios enganos, como as quatro armadilhas a seguir:

1. Renda fixa é um investimento seguro

A renda fixa não é isenta de risco – é a natureza do risco que é diferente. Em vez do risco de volatilidade das bolsas, os riscos aqui são a inadimplência e a falta de liquidez. Títulos públicos de fato são bastante seguros e líquidos e, no Brasil, ainda pagam juros formidáveis a seus detentores. Governos podem emitir dinheiro para pagar suas obrigações, o que os torna excelentes credores.

Mas com a renda fixa privada, a coisa muda de figura. Um bom exemplo de mito é a caderneta de poupança. “As pessoas acham que o risco da caderneta é o governo, mas isso é um erro”, afirma categoricamente o especialista em Renda Fixa da XP Corretora, Bruno Carvalho. O risco da caderneta está no banco que pode, na pior das hipóteses, não ser capaz de remunerar o poupador.

Entre os títulos de crédito privado hoje disponíveis para a pessoa física, o nível de risco e as garantias variam, assim como a rentabilidade. Entre os acessíveis e líquidos CDBs, os mais rentáveis, que pagam mais de 100% do CDI, são também os mais arriscados, emitidos por bancos pequenos e médios, financeiramente mais sensíveis. Os CDBs de baixo risco são aqueles emitidos por bancos grandes e de sólida saúde financeira – a rentabilidade, no entanto, não chega nem a 100% do CDI.

Menos conhecidas, as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) podem ser consideradas ainda mais seguras que os CDBs de bancos grandes. Quem investe num título desse torna-se credor de um banco em um financiamento habitacional, e seus rendimentos com a aplicação são isentos de IR. “O coeficiente de risco-retorno de uma LCI é muito bom, pois elas pagam um prêmio maior que o CDB, o risco também é o banco, mas ainda existe a garantia do imóvel no qual o título é lastreado”, explica Carvalho. A liquidez, porém, é muito baixa.

Já os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), também voltadas para o financiamento imobiliário, são bem mais arriscados. Além da baixa liquidez, o risco de inadimplência é mais alto, pois o investidor não se torna credor da instituição financeira, mas de quem financiou o imóvel, indiretamente, via securitizadora. Se os devedores finais forem pessoas físicas, o risco é bem maior do que se for uma empresa de grande porte, por exemplo. A única garantia é o imóvel. A rentabilidade dessa aplicação, portanto, é alta, inclusive com isenção de IR.


Num patamar semelhante de risco estão as debêntures, títulos de crédito de empresas. Algumas já são acessíveis ao investidor pessoa física, mas é preciso ficar atento à saúde financeira da empresa emissora. Grandes emissores como Petrobras, Vale ou mesmo o BNDES, cujo risco final é o governo federal, são evidentemente mais seguros que pequenos e médios emissores. Entretanto, não há garantias e a liquidez pode ser baixa.

Como lidar: Fique de olho nas garantias e nos prazos

Portanto, dependendo de quem seja o devedor, títulos de crédito privado podem ser tão ou mais arriscados que algumas ações. Para de fato investir em renda fixa com o máximo de retorno e o mínimo de risco, o investidor deve procurar não aplicar mais do que o valor garantido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para algumas aplicações. Atualmente, o FGC garante até 70.000 reais para a caderneta de poupança, CDBs e LCIs em caso de não pagamento da instituição devedora.

Mas atenção, esse valor é por CPF. Portanto, alguém que tenha 70.000 reais na poupança e mais 70.000 reais em CDB em um mesmo banco terá garantido apenas 70.000 reais. Se possível, pulverize os investimentos em diferentes instituições. Debêntures e CRIs não possuem essa garantia.

Quanto aos prazos, o melhor é escolher aplicações com prazos proporcionais aos seus objetivos e permanecer com elas até o final. Vender os papéis antes pode minar sua rentabilidade e não valer a pena.

Já quem prefere a gestão profissional de um fundo de renda fixa, deve ficar de olho na taxa de administração, para que esta não corroa a rentabilidade líquida, e na composição da carteira, para se certificar de que não há exposição excessiva a crédito privado. É difícil precisar o que é uma exposição excessiva, mas o professor da Investeducar Márcio Rodrigues orienta: “Da parcela que o investidor tem em renda fixa, o investimento em crédito privado não deve ultrapassar 50% da carteira”.

2. Diversificar é aplicar em um grande número de ações ou de fundos

Que todo mundo deve ter um colchão em renda fixa para emergências e objetivos de curto e médio prazo já não é novidade. Quem já fez essa lição de casa e enveredou pela renda variável em busca de mais retorno deve, agora, se preocupar com a diversificação de sua carteira de ações.

Mas diversificar não é investir em um sem-número ações ou fundos, ainda que todos eles tenham sido escolhidos a dedo, com base em fundamentos e histórico de rentabilidade. Quem adota essa estratégia corre o risco de concentrar seus recursos em um ou alguns poucos setores, ou em empresas com as mesmas características – e que, portanto, serão atingidas da mesma maneira numa época de crise econômica.


Como lidar: diversifique setores e invista em ações defensivas

Diversificar é aplicar em papéis ou fundos que, em conjunto, garantam boa rentabilidade à carteira, ao mesmo tempo em que a protegem em momentos de crise. Essas características não serão excludentes caso a escolha seja feita de forma a combinar ações de empresas que pagam bons dividendos, ou cuja atividade não seja abalada em tempos de crise, com papéis de companhias com boas perspectivas de crescimento no longo prazo. Sempre diversificando os setores, é claro.

“Você não precisa comprar ações de todos os setores, mas comprando algo como 10 ações de setores diferentes, o investidor já vai ter uma carteira muito bem diversificada. Acima desta quantidade, o ganho de diversificar é mínimo em relação ao custo para gerenciar tantos ativos diferentes”, aconselha Márcio Rodrigues, da Investeducar.

Então não se trata de investir em diversos bancos ou vários varejistas, mas de combinar poucas ações de cada setor, balanceando as empresas mais voltadas para o mercado interno com aquelas mais dependentes dos humores externos. Uma parte do portfólio pode também se voltar para prestadoras de serviços essenciais e fabricantes de produtos cujo consumo não é abalado nem em tempos de crise. É o caso das companhias do setor elétrico, ótimas pagadoras de dividendos, e dos fabricantes de armas e cigarros.

Quem investe em fundos de ações deve simplesmente ficar de olho na composição da carteira, pois de nada adianta investir em dois ou três fundos que apliquem mais ou menos nos mesmos setores – ou pior, em fundos que apliquem apenas em um setor. “Às vezes um único fundo bem estruturado já é diversificado o suficiente”, lembra Conrado Navarro, planejador financeiro da consultoria Dinheirama.

Os investidores com menos tempo e dinheiro para escolher suas ações podem ainda optar pelos ETFs, fundos de índices. Eles são comercializados em bolsa como se fossem ações e carregam toda a composição de um determinado índice, garantindo a diversificação, desde que não sigam um índice setorial.

E os fundos multimercados? “Os melhores fundos desse tipo costumam exigir aportes mais altos e muitas vezes estão longe do alcance do pequeno investidor. Os de tíquete mais baixo, quando têm rentabilidade positiva, não costumam ser mais rentáveis que os fundos conservadores”, alerta Navarro. Mas para quem pode aplicar nos fundos mais bem-sucedidos do mercado, esses fundos possuem estratégias prontas de diversificação.

3. O investidor saberá a hora certa de vender seus papéis

Uma falsa sensação que acomete os investidores em renda variável é a de que vão saber instintivamente a hora certa e vender seus papéis, quando muitas vezes as pessoas acabam vendendo cedo ou tarde demais. A verdade é que é muito difícil acertar as horas de entrada e saída na Bolsa – tanto que nem mesmo profissionais conseguem precisar esses momentos.


Como lidar: venda apenas quando chegar a hora de realizar os lucros – e aos poucos

Se os momentos de grandes perdas são excelentes para comprar ações, certamente não o são para vendê-las. A menos, é claro, que esteja na época de o investidor realizar seus lucros. Para o investidor de longo prazo, pouco importam as crises pontuais. Se ele investiu em ações ao longo de dez, vinte ou trinta anos, com vistas à aposentadoria, deve manter sua estratégia a despeito dos soluços do mercado. Em épocas de grandes perdas, deve permanecer comprado – e até recompor sua carteira – como havia planejado; da mesma maneira, se a crise coincide com o momento de se desfazer de seus ativos, o investidor deve seguir com o plano.

Para Jurandir Macedo, consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o investidor deve comprar aos poucos e vender aos poucos uma carteira diversificada. “Ninguém que compra ações ao longo de 30 anos e as vende durante 20 anos vai ter prejuízo”, diz. Sua tese fica clara em uma simulação de quatro alternativas de aplicação em períodos de 10 a 16 anos, feita por ele em parceria com Martin Iglesias, gerente de educação para investidores do Itaú. Todos os cenários experimentados foram vantajosos para o investidor.

Ou seja, o melhor é seguir a sua estratégia e não vender no calor dos acontecimentos, por puro nervosismo. Agora, se o investidor não tem estratégia alguma e toma as decisões “de veneta”, essa é a primeira coisa que precisa ser mudada. Definir e anotar quanto deseja ter, em quanto tempo e quais os objetivos de curto, médio e longo prazo são os primeiros passos antes de começar a investir. “Melhor do que uma estratégia errada é nenhuma estratégia”, diz Macedo.

4. Imóveis são investimentos mais seguros que ações

Apesar de serem ativos “reais”, de tijolo e concreto, imóveis não são aplicações de renda fixa. Embora a tendência no longo prazo seja de valorização, imóveis também podem se desvalorizar, e sofrem depreciação. Se houver algum problema de demanda, podem acabar onerando demais o proprietário com despesas como manutenção e condomínio, enquanto aguardam um locatário ou um comprador.

E outra: a casa própria não é um investimento, é simplesmente parte do patrimônio familiar. Ela pode ser perfeita para morar, mas pode se valorizar abaixo da média de mercado ou se tornar um verdadeiro elefante branco na hora da venda. “Investimento é o imóvel que você vende para ter lucro ou aluga para ter uma renda. Nesse caso, os critérios de escolha devem ser outros”, diz o planejador financeiro Conrado Navarro.

Como lidar: se for investir em imóveis, prefira os mais procurados e os fundos imobiliários

Para o investidor pessoa física é difícil lucrar com compra e venda de imóveis, já que isso requer um profundo conhecimento do mercado. Comprar imóveis para alugar é mais fácil, mas é preciso ficar atento à rentabilidade. “Tem que fazer as contas, pois o retorno com o aluguel pode ser inferior ao da caderneta de poupança”, diz Navarro. Em entrevista à EXAME.com em junho, o professor William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da EAESP/FGV considerou que os aluguéis que correspondam a menos de 0,6% do valor do imóvel praticamente inviabilizam esse tipo de investimento.

Quem não quiser imobilizar tantos recursos em um único investimento, pois quer seguir a boa e velha regra da diversificação, conta hoje com a opção dos fundos imobiliários. Vendidos em bolsa como se fossem ações, esses fundos requerem aportes iniciais bem mais baixos – a partir de 10.000 reais –, têm liquidez praticamente diária e garantem ao pequeno investidor a possibilidade de aplicar em grandes e rentáveis imóveis corporativos, cujos inquilinos são grandes corporações.

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