Desinflação na zona do euro segue dividindo a opinião de especialistas (Yves Herman/Reuters)
Repórter de Invest
Publicado em 8 de janeiro de 2024 às 17h15.
2024 nem bem começou e as expectativas dos investidores globais convergem em uma única direção: o ciclo de corte no juro. No entanto, na zona do euro, cujo percentual tem sido mantido a níveis recordes, há quem ainda esteja cético com os rumos a serem tomados. Isso porque, como aponta a Gavekal, um indicador econômico importante segue acelerando por lá e tem força para arrefecer o ritmo da queda.
Em relatório, Cedric Gemehl, analista da Research, explica que a onda inflacionária que tomou a Europa recentemente deu-se por conta do choque dos preços da energia — que culminou em 2022. Porém, a desinflação foi impulsionada com a fraqueza na demanda interna, após a pandemia da Covid-19. “O crescimento estagnou sob o duplo impacto da inflação e das taxas de juros mais elevadas. Hoje, a estagnação da demanda interna está pesando sobre a dinâmica da inflação estrutural da zona euro.”
Porém, o analista chama a atenção para a peça que falta no quebra-cabeças da desinflação da zona do euro: os custos unitários do trabalho, que subiram 6,5% em termos ano-a-ano no terceiro trimestre. “O problema não é tanto que o crescimento dos salários nominais esteja elevado. Mas com o abrandamento da inflação e o aparecimento de fissuras no mercado de trabalho, o crescimento salarial parece ter ultrapassado o próprio pico e estar em desaceleração”, diz Gemehl.
Ainda em relatório, o analista da Gavekal explica que o ponto de atenção está na diminuição da produtividade do trabalho. Segundo ele, essa contração está compensando o abrandamento do crescimento dos salários nominais para aumentar os custos unitários do trabalho. E esse fato deverá desacelerar a desinflação da zona do Euro, especialmente nos serviços — em que as folhas de pagamento apresentam o maior custo individual.
Em dados recentes da Eurostat, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da zona do euro encerrou o último ano em 2,9% em termos anualizados. O percentual ficou praticamente em linha com as estimativas do mercado, que apontavam para 3%. Já o núcleo, que desconsidera as variações de preços de energia e alimentação, caiu para 3,4%.
Para o analista da Gavekal, mesmo com as revisões para baixo, tanto a inflação global como da estrutural do bloco econômico permanecerão acima de 2% durante a maior parte de 2024. “Isso sugere que a gestão do risco de inflação continuará a ser a prioridade do BCE nos primeiros meses.” Além disso, ele afirma que é cedo para esperar que os decisores políticos se orientem no sentido de combater o risco de deflação. “O mercado parece estar precificando cortes demais nas taxas de juros e rapidamente demais em 2024”, diz.