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Yduqs: medicina e EAD superam ensino presencial em receita em 2 a 3 anos

Com R$ 1,9 bi em caixa, Eduardo Parente, CEO da companhia, diz que avalia novas aquisições e descarta possibilidade de IPO das duas frentes de negócio

Fachada da Unidade Estácio Tom Jobim (Divulgação/Divulgação)

Fachada da Unidade Estácio Tom Jobim (Divulgação/Divulgação)

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Paula Barra

Publicado em 12 de dezembro de 2020 às 08h52.

Última atualização em 12 de dezembro de 2020 às 18h38.

Nos últimos cinco anos, desde que iniciou seu processo de transformação, que envolveu um amplo trabalho de ajuste de custos e maior visibilidade ao ensino à distância e aos cursos de medicina, a Yduqs (YDUQ3) viu o valor de suas ações se multiplicarem por cerca de 3,2 vezes na Bolsa. Enquanto isso, suas concorrentes com capital aberto tiveram resultados aquém: a Cogna (COGN3) caiu 38%, a Ânima (ANIM3) subiu 184%, e a Ser Educação (SEER3), 147%. O resultado nesse processo é traduzido em poucas palavras: acertar grande e errar pequeno, e não insistir no erro.

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Na visão de Eduardo Parente, CEO da Yduqs desde o fim de 2018, esse foi o segredo para a companhia ter chegado até aqui superando as diversas crises pelas quais o setor passou durante esse período, que vão desde o fim do Fies (o programa federal de financiamento estudantil) até a covid-19. Com uma posição de caixa de 1,9 bilhão de reais e baixo endividamento (encerrando o terceiro trimestre com o indicador dívida líquida/Ebitda de 1,4 vez), a companhia se mostra confortável para pensar em aquisições, mesmo diante do momento atual difícil para o país. 

“Não é que queremos nos aproveitar, mas existe um momento em que é natural que haja consolidação e achamos que temos uma posição muito boa para isso. Tanto do lado da robustez financeira quanto pelo fato de termos feito três integrações de muito sucesso nos últimos 12 meses”, comenta Parente em entrevista à EXAME Invest

Nesse intervalo, a companhia comprou a UniToledo, no interior de São Paulo, com aproximadamente 5.300 alunos, por 102,5 milhões de reais; a Adtalem, dona do Ibmec, com cerca de 100 mil alunos, por 1,9 bilhão de reais; e a mais recente, na metade deste ano, o grupo Athenas, com presença em Rondônia e Mato Grosso, com 9.000 alunos, por 120 milhões de reais. A base total atualmente é de 747 mil alunos.  

Olhando para frente, Parente diz que está em conversas com algumas empresas para possíveis aquisições, mas não tem pressa. Não vai para o tudo ou nada. No caso dos cursos de medicina, um dos principais focos da companhia, comenta: “tem negócio sendo fechado por até 2,5 milhões de reais por vaga. Isso não está dentro da nossa realidade”. Para efeito de comparação, o valor é muito superior ao pago pela companhia de 600 mil reais por vaga no curso na aquisição do grupo Athenas.

Segundo ele, é muito provável que a medicina e o ensino à distância, que hoje correspondem por 40% do faturamento da empresa (há quatro anos, eram 10%), se tornem a parte principal do negócio da companhia. “Mas não quer dizer que o presencial não vá continuar crescendo”. A questão, diz, é o ritmo: enquanto essas duas frentes avançam a taxas de 20% a 30% ao ano, o presencial por si só cresce de 2% a 3%. Considerando fusões e aquisições, chega a 10%-15%.

Confira abaixo a entrevista na íntegra à EXAME Invest

Como o senhor avalia a evolução da Yduqs nestes dois anos em que está no comando da empresa?

Estamos hoje colhendo fruto de algo que não foi desenhado nestes últimos dois anos. É um processo muito maior do que isso, o horizonte dessa transformação tem cinco anos. Sou parte dela. Apesar da situação difícil, não só do nosso mercado mas da sociedade como um todo, acredito que estamos conseguindo enfrentar este momento porque fizemos o dever de casa há alguns anos. Por isso, conseguimos chegar até aqui de uma forma muito sólida. 

Nesse mercado, tivemos uma sequência de crises, com o fim do Fies, depois uma crise econômica muito grande e agora a covid. Crise atrás da outra, vamos buscando alternativas. De um lado, que caibam no bolso do aluno, que hoje tem menos opções de financiamento; de outro, que consigamos dar retorno financeiro aos acionistas. A maior parte dos nossos investidores são aposentados, que podiam pegar o dinheiro e fazer outra coisa com ele, mas escolheram o negócio de educação. Se educação for pior do que os outros negócios, o dinheiro vai embora e não vamos ter o capital de que precisamos para poder investir e crescer. 

Nesse binômio -- de conseguir caber dentro do bolso do aluno, possibilitar financiamento e conseguir se manter atraente, com rentabilidade para os investidores -- é que está a dificuldade. Foi a jornada que fizemos. 

O processo começa com o fim do Fies. Uma grande parcela da classe C e D passou a ter acesso à educação superior graças ao Fies, mas, quando o programa foi cortado, diminuiu muito a demanda pelo ensino presencial. O presencial tem uma característica muito interessante porque a demanda cresce de pouco em pouco. Só houve demanda maior por alguns anos por conta do Fies e, de repente, essa demanda foi embora.

Por isso, a competição aumentou, foi um mercado mais duro nesse momento pós-Fies, mas fomos buscando alternativas. Testamos muita coisa. Acredito que acertamos grande e erramos pequeno. E não só testamos pequeno como também não insistimos no erro, soubemos sair fora rapidamente. 

Entre as coisas que deram certo, têm três que gosto de sublinhar: o ensino à distância, que chamamos de ensino digital; a medicina; e a pós-graduação. Nessas acertamos muito. Quando vimos que estavam indo bem, passamos a gastar mais tempo e dinheiro. E, de novo, tudo isso tem cinco anos. Não tem nada a ver com a minha gestão. 

Neste meio tempo, fizemos também um grande trabalho de ajuste de custos. Vimos na pandemia muita gente mandando embora, cortando salários, mas não fizemos nada disso porque já havíamos feito há dois, três anos. Conseguimos passar por esse inverno de uma forma robusta.

Além disso, tanto o ensino à distância quanto a medicina, quando olhamos cinco anos para trás, têm crescimento de 20% a 30% todo o ano, em uma base que já é muito grande. Hoje, 40% da nossa receita vem de medicina e do ensino à distância. Esses números, acredito, são o encanto das pessoas. Conseguimos transformar uma empresa que era praticamente toda presencial para algo que é agora 60% presencial e com os 40% restantes do negócio que crescem a essas taxas, com muita inovação. 

Com 1,9 bilhão de reais em caixa, como está o panorama para aquisições? Estão em conversas com alguma empresa depois que o negócio com a Laureate não deu certo?

Gostaríamos de ter comprado a Laureate, mas perdemos porque temos uma disciplina muito grande na aquisição. Se você paga muito caro, pode criar um problema grande. Imagina a Laureate vendida por 4,4 bilhões de reais para uma empresa cujo valor de mercado era de 3 bilhões de reais. O nosso valor é de 10 bilhões de reais. Mesmo que comprássemos, imagina se isso não funciona?

Aquisições estão nos nossos planos, fizemos três nos últimos 12 meses muito bem-sucedidas. A Adtalem, a UniToledo e a Athenas. E vamos continuar fazendo. Achamos que é um setor pouco consolidado. 

Além da posição de caixa, há outras duas coisas que nos motivam nesse sentido: a nossa relação dívida líquida/Ebitda é muito baixa, pouco acima de 1 vez; e a outra é que geramos muito caixa. Neste ano geramos mais de 1 bilhão de reais em caixa nos primeiros nove meses. Com isso, essa dívida líquida/Ebtida vai caindo e gerando oportunidades para fazermos outros negócios. 

Hoje, somos o maior grupo do setor e não temos sequer 10% de participação. Há outros setores com consolidação muito maior. E, dada a atual situação, tem muita empresa em dificuldade. Não é que queremos nos aproveitar, mas existe um momento em que é natural que haja consolidação e achamos que temos uma posição muito boa para isso. Tanto do lado da nossa robustez financeira quanto pelo fato de termos feito essas três integrações com muito sucesso.

Na última aquisição, da Athenas, que tem presença em Rondônia, Mato Grosso e Acre -- lugares onde queríamos complementar nosso portfólio --, nós fizemos em um mês algo que parecia que estávamos trabalhando há um ano, desde o processo de integração de TI até o próprio projeto acadêmico. 

Como o senhor avalia os preços das aquisições de faculdades de medicina? 

Os preços estão saindo a patamares que não consideramos. Teve negócio saindo por até 2,5 milhões de reais por vaga. Isso não está dentro da nossa realidade. Talvez até na do concorrente faça sentido, mas, para nós, achamos que não funciona. 

Agora, para as demais faculdades, sem ser medicina, os preços caíram com a crise da covid. Os negócios estão ficando mais interessantes, dentro do razoável. Achamos que há muitas aquisições a serem feitas, mas, como muitas vezes são empresas familiares e pequenas, esse não é um processo tão linear como quando você negocia com duas empresas de capital aberto. É um processo mais demorado, muitas vezes emotivo, mas achamos que o mercado está aberto.

Das oportunidades que estão enxergando, alguma está em negociação mais avançada? 

Estamos em conversa com algumas empresas. Mas temos na cabeça um número importante: queremos um EV/Ebitda [indicador dado pela divisão do valor de mercado da empresa somado à dívida líquida pelo Ebitda] após as sinergias na casa de 5 vezes a 5,5,vezes em aquisições. Se não tem isso, você começa a ter dificuldade. Coisas podem dar errado no meio do caminho. Como vemos um mercado com possibilidades, não temos pressa. E, sem pressa, fizemos três aquisições nos últimos 12 meses. Esperamos ter uma sequência de anúncios a fazer, mas não estou prometendo nada. 

Como foi a campanha de BlackFriday em termos de antecipação de matrículas? 

Todo ano fazemos essas campanhas e fomos bem. O que está acontecendo neste ano é que, com o Enem adiado de janeiro para março e o Sisu provavelmente em abril, está todo mundo meio que em compasso de espera. Não adianta gastar muito com marketing agora. Nós e a concorrência toda. Todo mundo está tentando entender qual será o momento de jogar.

Há um grande represamento do que não aconteceu há seis meses. A captação do meio do ano de todo mundo foi ruim, só que essas pessoas querem estudar. As pessoas queriam entender como seria a pandemia. O aluno do primeiro semestre é um aluno que vem direto da escola; o do segundo é um que já se formou faz um tempo e está querendo voltar a estudar. Ele não precisa voltar naquele momento, pode retomar mais para frente. Achamos que tem um represamento desse aluno que vai nos ajudar no primeiro semestre do ano que vem.   

Estamos trabalhando para estar em sala de aula no fim de fevereiro e no começo de março, com todas as medidas de segurança necessárias, cumprindo todos os protocolos. E, com o retorno para a sala de aula, achamos também que as coisas voltam à normalidade.

Depois desse processo de transformação nos últimos cinco anos, como o senhor enxerga a empresa daqui para frente?

Estamos conseguindo um grande sucesso porque entendemos que a tecnologia está do nosso lado. No momento em que temos as ferramentas digitais levando produtos de elite para a massa, o processo como um todo se torna muito mais eficiente, com mais qualidade e mais barato. Isso muda um pouco o perfil que você tem.

Se olharmos o mundo da medicina e do ensino à distância, eram 10% do nosso faturamento há quatro anos e hoje representam 40%, com uma taxa de crescimento de 20% a 30% ao ano. Nossa cara é muito mais de uma empresa de tecnologia, que tem um conjunto de curadores que entendem o que levar e como levar para uma massa de gente e com diferentes canais. Entregamos isso no ensino à distância, no presencial e no semi-presencial. 

Diante desse crescimento, avalia fazer o IPO do negócio de medicina e do ensino à distância em algum momento? 

Muita gente me pergunta isso, mas não, não vamos. Qual a vantagem de ganhar um múltiplo maior por isso? Você está antecipando expectativa, só que isso já está acontecendo tem cinco anos e vai continuar. 

É muito provável que medicina e ensino à distância sejam a parte principal do nosso negócio daqui a 2 a 3 anos, mas não quer dizer que o presencial não vá continuar crescendo. A questão é o ritmo: enquanto essas duas frentes avançam a taxas de 20% a 30% ao ano, o presencial por si só cresce a 2%, 3%. Mas, como o grosso das minhas aquisições está no presencial, esse crescimento pode chegar a 10%,15% ao ano, dependendo da minha capacidade de achar bons negócios. 

A beleza está aí. Se você consegue fazer uma aquisição a 5 vezes o EV/Ebitda após as sinergias e somos cotados a cerca de 10/11 vezes, já chegamos a valer 13 vezes, é isso que é a máquina. Você paga 5 vezes por um negócio que depois passa a ter um múltiplo de 10 a 13 vezes.

Além disso, temos o nosso próprio dinheiro. Quando você faz uma oferta de ações, você dilui o acionista atual. Achamos que as pessoas sabem fazer conta. E, na hora em que esse crescimento estiver vindo, como está vindo, o mercado reconhece e o valor sobe naturalmente. Não temos pressa para isso. Queremos gente que acredita na educação, no longo prazo, que vê que o Brasil precisa muito de educação e que essa educação vai ser dada por quem conseguir associar tecnologia com qualidade, que é o que temos feito.

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