WEG: Taxações vem em momento difícil para a companhia, que vem enfrentando desaceleração de receitas e maior escrutínio do mercado (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 31 de julho de 2025 às 11h34.
Última atualização em 31 de julho de 2025 às 11h38.
O esperado tarifaço de Donald Trump acabou sendo bem mais moderado que o esperado pelo mercado, com uma ampla lista de produtos isentos, que representam mais pelo menos 40% das exportações brasileiras ao país. Mas, entre as empresas listadas, uma em específico ainda ficou dentro do escopo de taxação de 50% ao Brasil: a WEG.
O imposto se aplica sobre os motores elétricos, produto que está no coração da operação global da companhia. Além disso, outro anúncio feito por Trump foi uma sobretaxa de 50% sobre diversos derivados de cobre importados pelo país – e o insumo responde por até 15% do custo dos materiais da multinacional brasileira.
A dupla ofensiva deve representar um impacto de aproximadamente R$ 2,3 bilhões para a WEG, ou 25% do EBITDA estimado para 2025, calcula o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME). O banco avalia que cerca de R$ 1,1 bilhão virá da perda de margem nas exportações de motores ao mercado americano e outros R$ 1,2 bilhão da elevação do custo com cobre.
Apesar de já ter caído 8% desde 9 de julho, quando os rumores sobre as tarifas começaram a circular, a WEG ainda pode sofrer pressão adicional no curto prazo. “Vemos o anúncio como negativo e acreditamos que parte do risco já está precificado, mas não totalmente”, diz o relatório assinado pelos analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Samuel Alkmim.
Hoje, as ações chegaram a bater mínima em queda de 2,5% no começo do pregão. Por volta das 11h30, tinha reduzido um pouco a queda, para 1,87%.
Apesar do baque, a WEG tem caminhos para redesenhar sua logística global para suavizar o impacto das medidas protecionistas. Entre as estratégias em curso, está o redirecionamento de exportações para os Estados Unidos via plantas no México e na Índia — e o foco das unidades brasileiras em mercados latino-americanos e domésticos.
Outra frente de resposta é o uso da capacidade instalada da Regal nos EUA, adquirida recentemente. Mas, segundo o BTG, as fábricas tem modelos de produção diferentes, e ainda está com capacidade ociosa, que demorar a ganhar tração. A companhia também estuda repasses de preços, mas enfrenta riscos de perder competitividade para rivais com maior conteúdo local nos EUA, como a ABB.
No caso do cobre, embora a WEG possua uma política de hedge para mitigar a volatilidade de curto prazo, o banco aponta que tarifas prolongadas podem forçar aumentos de preços também nesse segmento.
As medidas vêm num momento em que o crescimento da receita já mostrava sinais de moderação. O BTG havia revisado suas projeções recentemente, prevendo um ritmo mais lento de pedidos por parte de clientes à espera de maior clareza sobre o ambiente tarifário. A expectativa para a receita líquida de 2025 é de R$ 42,9 bilhões, com EBITDA de R$ 9,5 bilhões — valores que agora podem estar sob revisão.
Mesmo com o cenário mais desafiador, o banco manteve a recomendação de compra para WEGE3, com preço-alvo de R$ 54, o que implica potencial de alta de quase 50% sobre o valor atual. A justificativa está no perfil de retorno elevado da companhia, na baixa alavancagem e nas tendências estruturais favoráveis nos setores de eficiência energética e mobilidade elétrica.
Mas o curto prazo promete ser mais turbulento: “O caso da ação segue travado. Apesar da qualidade dos fundamentos, o momento ainda é de cautela”, conclui o BTG.