Warren Buffett: para fazer seu dinheiro render, tudo de que o investidor precisa é sempre acreditar que a economia dos Estados Unidos vai continuar avançando (Taylor Hil/Getty Images)
Denyse Godoy
Publicado em 2 de maio de 2020 às 21h30.
Última atualização em 4 de maio de 2020 às 18h35.
A gestora de investimentos americana Berkshire Hathaway, fundada em 1841 em Omaha, capital do estado do Nebraska, realizou neste sábado, 2, a sua tradicional convenção anual. Pela primeira vez, o evento aconteceu online, por causa das restrições de deslocamento impostas pela pandemia da infecção respiratória covid-19, causada pelo novo coronavírus – mas a palestra do seu lendário presidente desde 1970, Warren Buffett, foi como sempre o centro das atenções.
Os investidores do mundo inteiro esperam, todo ano, para ouvir os comentários e conselhos sobre o mercado financeiro de Buffett, conhecido e admirado pela estratégia de investimento em ações de empresas sólidas, sem especulação, tendo em vista o longo prazo – o chamado investimento de valor. Em meio à pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, o executivo disse que está com vontade de comprar alguma participação grande em um negócio, mas não sabe ainda qual. O balanço da gestora, divulgado pouco antes de a convenção começar, mostrou que a Berkshire tem 137 bilhões de dólares em caixa para serem usados em novos investimentos.
Um setor que não vai ver esse dinheiro é o de aviação. A Berkshire vendeu toda a sua participação em empresas aéreas por causa do novo coronavírus. "Acho que existem alguns setores, como o aéreo, que sofrem muito com a paralisação de atividades forçada por acontecimentos que estão muito fora do nosso controle", disse Buffett. "Cometi um erro com as ações desse setor por causa de eventos que não são culpa dos presidentes das empresas. Não sei se daqui a três ou quatro anos as pessoas estarão voando tanto quanto no ano passado... Há aviões demais no ar."
As palavras de Buffett são tão valorizadas porque, sob liderança do executivo, a Berkshire Hathaway vem dando elevado retorno para seus clientes. Desde 1976, o ganho anualizado tem ficado em 21%, o dobro do S&P 500. Por isso, Buffett é chamado de "oráculo de Omaha".
Para o executivo, a melhor tática, agora, é comprar as ações que fazem parte do índice S&P 500, uma das referências da bolsa de Nova York. "Se alguém apostar nos Estados Unidos, vai ganhar muito mais do que com os títulos do Tesouro americano." O executivo disse que ninguém sabe se a bolsa vai subir amanhã, na semana que vem ou no ano que vem, mas sabe que os Estados Unidos vão continuar avançando. Só é preciso cuidado para escolher os ativos a comprar, porque os mercados podem ser muito instáveis.
Nas contas de Buffett, o investimento em bolsa de valores rendeu 100 dólares para cada dólar desde que o executivo saiu da faculdades, nos anos 1950. "Tudo que você tinha que fazer era acreditar nos Estados Unidos. Acreditar que o milagre americano estava intacto. No final, a resposta é: nunca aposte contra os Estados Unidos." Para ele, ainda é imensa a dúvida sobre o tamanho do estrago que a pandemia vai causar na economia americana, mas, no longo prazo, nada consegue parar o país.
"A mensagem mais relevante para o investidor é ter o maior foco possível no longo prazo. Não se apegar a essa estratégia para diluir os prejuízos ou porque é mais fácil, mas porque essa é essencialmente a visão do que é investir: comprar uma participação nas empresas que vão sobreviver no tempo", diz Juliana Machado, especialista em fundos de investimento da EXAME Research, a unidade de análise de investimentos da EXAME. "Isso significa largar de mão e esquecer o investimento? De forma alguma, mas revisitar a tese. No caso de Buffett, ele saiu do setor aéreo porque deixou de ver uma tese ali."