Operadores da NYSE: semana movimentada (Mario Tama/ Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2011 às 17h19.
Nova York - A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de reduzir a nota da dívida soberana dos Estados Unidos foi o catalisador para que Wall Street viva a semana mais agitada de sua história, mas o medo de recaída à recessão é o cenário de um nervosismo entre os investidores que agora se fez mais forte.
Jamais nos cerca de 115 anos desde sua criação, o índice Dow Jones Industrial, a principal referência do pregão nova-iorquino, tinha encadeado quatro jornadas consecutivas com movimentos superiores aos 400 pontos como aconteceu nesta semana.
Em uma "montanha-russa perfeita", como definiu à Agência Efe o diretor do Instituto Lauder da Universidade da Pensilvânia, Mauro Guillén, o Dow Jones despencou mais de 600 pontos na segunda-feira, subiu com força na terça para recuperar pouco mais de 400, voltou a cair outros 500 na quarta e recuperou outros cerca de 400 na quinta.
Nesta sexta-feira, as águas não pareciam se acalmar no pregão nova-iorquino, onde por volta do meio do pregão, o Dow Jones subia cerca de 200 pontos com os quais se encaminhava a fechar com outra variação notável, já que a reta final da jornada está sendo a mais agitada nesses dias carregados de volatilidade em Wall Street.
O sobe e desce desta semana revela uma inquietação latente nos mercados, que alguns analistas e investidores começam a comparar com o vivido em 2008, quando os Estados Unidos caíram na recessão mais profunda e prolongada desde a Grande Depressão dos anos 1930.
A manchete do jornal "The New York Times" dedicava na quinta-feira essa comparação, enquanto as principais emissoras de notícias financeiras voltavam a entrevistar analistas econômicos para falar sobre o assunto.
Tudo isso deixa patente o medo de uma nova recaída, uma possibilidade que fomenta um debate em que, embora a maioria convenha que a agitação dos mercados é similar à de 2008, há divergências sobre se os perigos são os mesmos que três anos atrás.
"O colapso de instituições financeiras como Lehman Brothers não pode voltar a ocorrer porque já não estão carregadas de ativos podres como então, mas o temor é agora que um prolongado período de baixo crescimento econômico prejudique os grandes bancos nos EUA e na Europa", explicou Guillén à Efe.
"A situação é muito distinta, mas nem por isso melhor", apontou o economista.
Embora o debate seja protagonizado por análises escatológicas como as do reconhecido economista Nouriel Roubini e previsões um pouco mais otimistas, como as do terceiro homem mais rico do mundo, Warren Buffett, o que está claro é que a recuperação econômica dos EUA começou a dar sinais de enfraquecimento, e isso tem preocupado muito Wall Street.
Ao anímico crescimento nos EUA e à crise da dívida na zona do euro, somou-se na semana passada o exasperante debate entre democratas e republicanos para elevar o endividamento público no país, que deixou a maior economia do mundo à beira da moratória.
A preocupação que despertou o medo de quebra disparou quando, na sexta-feira passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota da dívida soberana americana pela primeira vez desde que a avaliação máxima (AAA) foi concedida aos EUA, em 1917.
A decisão suscitou a volatilidade no pregão nova-iorquino nesta semana, o que produziu a perda de US$ 362 bilhões na bolsa, um forte golpe que, segundo declarou nesta sexta-feira ao jornal "The Wall Street Journal" o economista da ITG Investment Research, Steve Blitz, "eleva absolutamente o risco a uma recaída".
Para Roubini, reconhecido como um dos poucos analistas que previu a crise econômica de 2008, depois desta semana o mundo tem mais de 50% de chances de voltar a entrar em uma recessão, por isso afirmou que agora está buscando liquidez.
"Não é o momento de focar em ativos de risco", ressaltou em entrevista a esse jornal nova-iorquino.
Muito diferente é a visão de Buffett, o chamado "Oráculo de Omaha" por suas previsões certeiras e sua habilidade para encontrar ativos desvalorizados, que acredita que não é momento de estender o pânico, mas de comprar ativos.
"Até agora, os negócios estiveram se recuperando de forma contínua, até mais que o ânimo das pessoas", destacou nesta semana à revista "Forbes".