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Wall Street quer saber: quando a OpenAI, do ChatGPT, vai se tornar lucrativa?

Mesmo com 700 milhões de usuários semanais, a empresa de Sam Altman ainda não deve ver lucro antes de 2029

ChatGPT: empresa ainda não é lucrativa  (Imagem gerada por IA/Freepik)

ChatGPT: empresa ainda não é lucrativa (Imagem gerada por IA/Freepik)

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 06h55.

A OpenAI, dona do ChatGPT, lançou o tão aguardado modelo de inteligência artificial (IA) GPT-5, que promete ter menos alucinações e apresentar um desempenho muito superior ao seu antecessor, o GPT-4. A OpenAI também anunciou que o ChatGPT agora conta com quase 700 milhões de usuários semanais. Mas, para os investidores, a dúvida que não quer calar é: quando a companhia de Sam Altman se tornará lucrativa?

A visão dos analistas financeiros sobre a OpenAI é mista, com algumas preocupações sobre a sustentabilidade do seu modelo de negócios e sua capacidade de gerar lucro a longo prazo. Embora a empresa tenha experimentado um forte crescimento nos últimos anos, com uma previsão de receita anualizada de US$ 12 a 13 bilhões até o final do ano, Wall Street acredita que a OpenAI tem pela frente o grande desafio dos custos elevados e o "burn rate" (taxa de queima de caixa). A OpenAI projeta perdas de até US$ 8 bilhões em 2025, principalmente devido aos custos de treinamento e execução de modelos de IA em grande escala.

Altman, CEO da OpenAI, reconheceu recentemente que os principais desafios financeiros da empresa são especialmente o alto custo de operação e próprio cash burn. Segundo ele, embora a OpenAI tenha recebido uma enorme quantidade de usuários pagantes, como os 15 milhões de assinantes do ChatGPT Plus, a empresa está perdendo dinheiro com planos de alto valor, como o plano de US$ 200 por mês, devido ao uso inesperadamente alto. A longo prazo, Altman acredita que a sustentabilidade da OpenAI depende de expandir a funcionalidade de seus produtos e encontrar novas fontes de receita, já que, segundo ele, "aumentar os preços não é suficiente se os custos de operação também aumentarem".

O antes e depois

A OpenAI surgiu em 2015 como uma organização 100% sem fins lucrativos. O objetivo da empresa, então, era desenvolver a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) de forma "segura e benéfica para a humanidade".

Fundada por grandes nomes do Vale do Silício como Altman, Elon Musk, e Peter Thiel, a companhia visava a criação e o compartilhamento de tecnologias de IA avançadas de forma aberta e colaborativa, sem a pressão de gerar lucro imediato.

Com o tempo, os fundadores entenderam que o financiamento por meio de doações não seria suficiente para escalar os modelos de IA necessários para alcançar a AGI. Foi a partir daí que a OpenAI fez uma transição estratégica para um modelo híbrido de lucro limitado (capped-profit), permitindo à empresa atrair capital de investidores e empresas, como a Microsoft, sem deixar a missão original totalmente de lado.

Em 2019, a OpenAI implementou uma estrutura híbrida inovadora, criando a OpenAI LP (capped-profit) como uma subsidiária controlada pela organização sem fins lucrativos. Essa mudança permitiu que a OpenAI oferecesse equity para investidores e funcionários — passo crucial para atrair investimentos de bilhões de dólares necessários para o desenvolvimento de IA de ponta. Nesse modelo, os retornos para investidores foram limitados a 100 vezes o valor investido.

Mas tudo mudou quando o ChatGPT nasceu, em 2022. O produto foi inicialmente gratuito para demonstrar as capacidades da IA gerativa, em dois meses atingiu 100 milhões de usuários e se tornou o aplicativo de software de consumo de crescimento mais rápido da história. Com o sucesso do ChatGPT, a OpenAI começou a monetizar sua base de usuários e criar fontes de receita mais sustentáveis.

A principal fonte de receita atual da OpenAI vem de assinaturas de consumidores, especialmente através do ChatGPT Plus, que custa US$ 20 por mês e oferece aos usuários acesso prioritário aos modelos GPT-5, funcionalidades avançadas como geração de imagens, plugins, e navegação na web. Até julho deste ano, o ChatGPT Plus tinha 15 milhões de assinantes ativos.

Além das assinaturas, a OpenAI gerou uma receita significativa com a API, que permite que empresas integrem os modelos da OpenAI, como o GPT-4, em seus próprios produtos. A OpenAI cobra US$ 0,03 por 1.000 tokens para o uso do GPT-4, oferecendo uma plataforma como serviço para desenvolvedores. O modelo de licenciamento tem se expandido rapidamente, especialmente com grandes parcerias empresariais, como a própria Microsoft, que integra a tecnologia da OpenAI no Bing e Azure, além de investir pesadamente em sua capacidade de computação. Em 2025, a OpenAI gerou cerca de US$ 3 bilhões de receita com a API, representando 15% a 20% da receita total.

Sem lucro até 2029

Só que esse crescimento, ao mesmo tempo que torna a empresa atrativa para investidores, também pode causar problemas no curto e médio prazo.

Segundo o JPMorgan, na primeira avaliação de uma companhia fechada da história do banco, a companhia pode consumir até US$ 46 bilhões nos próximos quatro anos, diante da crescente competição por talentos e investimentos em pesquisa e novos produtos. Apesar dos gastos elevados, a instituição considera esse nível de queima de caixa como "sustentável", já que a OpenAI captou US$ 57 bilhões desde 2022. Ainda assim, a rentabilidade não é esperada antes de 2029, o que poderá testar a paciência dos investidores diante do que o banco chamou de vibe spending — ou gastos impulsionados mais por otimismo do que por retorno financeiro imediato.

Para o Goldman Sachs, a principal preocupação está na alta concentração de receita nos planos de assinatura do ChatGPT, o que torna o modelo de negócios da OpenAI particularmente vulnerável a flutuações no crescimento da base de usuários.

O banco alerta que, embora o GPT-5 e outros modelos de IA generativa estejam gerando um grande interesse no mercado, a rentabilidade da empresa dependerá de sua capacidade de expandir as fontes de receita, especialmente através da API e licenciamento de modelos. O Goldman Sachs ainda enfatiza que, para alcançar uma trajetória financeira mais sustentável, a OpenAI precisa reduzir os custos operacionais elevados, que incluem os gastos com treinamento de modelos de grande escala.

O Morgan Stanley compartilha uma visão semelhante, destacando que o modelo de negócios da OpenAI, com forte dependência de assinaturas de consumidores, coloca a empresa em uma posição delicada em um mercado cada vez mais competitivo. O banco também observa que a estratégia de diversificação da OpenAI, por meio da API, é promissora, mas ainda não suficiente para garantir a estabilidade financeira no longo prazo. A análise do Morgan Stanley sugere que, enquanto a empresa tem uma base de usuários impressionante, será crucial para a OpenAI ampliar sua capacidade de monetização e otimizar seus custos para alcançar a rentabilidade desejada.

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