Rendimento das treasuries de 10 anos subiu quase 0,30 ponto percentual desde o final de 2021 | Foto: Bloomberg (Bloomberg/Divulgação)
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Publicado em 17 de janeiro de 2022 às 14h26.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos têm disparado nas últimas semanas com a expectativa de aumento do juro básico da economia americana já em março -- e com a possibilidade de acréscimos adicionais no decorrer do ano.
O rendimento das treasuries de 10 anos subiu quase 0,30 ponto percentual desde o final de 2021. A disparada ocorreu depois que o mercado começou a precificar elevações de juros mais cedo e mais rápido por parte do Federal Reserve (Fed, banco central americano). A propósito, especulações em torno de uma alta de 0,50 ponto em março já entraram nas conversas.
A elevação da taxa traz uma série de consequências -- entre elas, o avanço do rendimento dos títulos do Tesouro, que são referência para mercados de todo o mundo e podem alterar a dinâmica global de investimentos.
A seguir, especialistas discutem as possíveis consequências da elevação do retorno das treasuries:
O primeiro efeito será um fluxo menor de recursos para a renda variável. “A antecipação da elevação dos rendimentos já impacta o mercado como um todo, que teve um início de ano fraco para as ações”, afirmou Adam Reynolds, CEO da Saxo Capital Markets para a região Ásia-Pacífico.
“Normalmente em janeiro vemos entrada de recursos, que impulsionam desempenho superior. Este ano isso não ocorreu. A consideração mais importante para mim é a perspectiva de um início antecipado da redução do balanço patrimonial do Fed. Qualquer retirada antecipada e significativa de liquidez terá impacto negativo sobre os preços dos ativos”.
Outra mudança deve ser a já observada rotação de setores, com investidores preferindo as chamadas ações de valor (value), como bancos e exportadoras, em detrimento das de crescimento (growth), representadas principalmente pelas empresas de tecnologia.
“As perspectivas para o Fed, os juros e o crescimento econômico sugerem que os investidores das bolsas devem reequilibrar suas exposições entre crescimento e valor”, escreveram estrategistas do Goldman Sachs, liderados por David Kostin em relatório divulgado na última sexta-feira.
“Nossos estrategistas de juros esperam que os rendimentos continuem subindo, em uma dinâmica que deve proporcionar maior suporte às ações com perfil de valor em detrimento das de crescimento.”
No entanto, as metas de rendimento nominal para os títulos de 10 anos, de 2,0% até o final de 2022 e 2,3% até o final de 2023, traçam um caminho mais gradual do que a volatilidade que o mercado vem enfrentando nas últimas semanas. Ou seja, é possível que o cenário volte a ser favorável para ações de crescimento ao longo do ano.
“Nossos economistas esperam que, com o recuo da onda ômicron, o crescimento do PIB dos EUA suba de 2% no primeiro trimestre para 3% no segundo trimestre, dando suporte às ações de valor”, acrescentaram os estrategistas. “No entanto, o crescimento deve se desacelerar para 2% no quarto trimestre, um ambiente que geralmente dá suporte a ações com perfil de crescimento.”
Em meio à rotação de setores, analistas esperam que os papéis de tecnologia sejam penalizados em bloco. “Uma temporada fraca para os balanços do setor de tecnologia e um ambiente de taxas maiores devem provocar mais vendas no índice Nasdaq 100”, afirmou Michael Purves, CEO da Tallbacken Capital Advisers, se referindo ao índice da bolsa concentrado em grandes empresas de tecnologia.
“De modo geral, a alta dos rendimentos dos juros é negativa para ativos de risco”, disse Sue Trinh, responsável por estratégia macroeconômica da Ásia na Manulife Investment Management HK, na segunda-feira. “Concluímos que juros reais mais altos são provavelmente mais dolorosos para ativos de risco do que juros nominais mais altos.”
Alguns dos setores mais prejudicados são os de renda variável de países emergentes, como o Brasil, que costumam ser mais arriscados. “Algo crucial é que a correlação entre os rendimentos reais e os ativos de risco ficou mais forte e mais negativa nos últimos cinco anos.”