Grupo Votorantim: banco tem classificação BB pela S&P, um nível abaixo do grau de investimento e também um nível abaixo da nota do Banco do Brasil (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2011 às 09h27.
Nova York - Os investidores internacionais estão exigindo um prêmio recorde para deter títulos do Banco Votorantim SA em vez dos papéis do Banco do Brasil SA, acionista da instituição. Para ING Groep NV e Barclays Plc, isso significa que é hora de comprar os papéis com maior rentabilidade. É a maior diferença desde que os papéis foram emitidos em janeiro.
Os títulos do Votorantim em dólar com cupom de 5,25 por cento e vencimento em 2016 oferecem rendimento de 4,82 por cento no mercado de dívida, ou 171 pontos-base acima dos papéis com prazo semelhante do Banco do Brasil, segundo dados compilados pela Bloomberg. É o maior prêmio desde a emissão dos títulos do Votorantim em fevereiro. A diferença não tem justificativa porque o Votorantim pode contar com o apoio financeiro do Banco do Brasil, maior instituição financeira da América Latina em ativos, segundo Natalia Corfield, analista do ING.
Segundo ela, o prêmio deve encolher à medida que a recuperação da demanda global por ativos de maior rendimento reduz o custo de captação do Votorantim. O rendimento médio de junk bonds corporativos de mercados emergentes -- ou seja, dívida de empresas com classificação inferior a Baa3 na escala da Moody’s Investors Service ou BBB- na escala da Standard & Poor’s -- subiu 33 pontos-base, ou 0,33 ponto percentual, desde o fim de maio para 7,88 por cento ontem, de acordo com o JPMorgan Chase & Co.
“O apoio do Banco do Brasil ao Votorantim vai se fazer presente se ocorrer qualquer problema”, disse Corfield em entrevista por telefone de Nova York. “O diferencial está muito amplo e deve se comprimir.”
O prêmio que investidores exigem para deter títulos do Banco Votorantim em vez de dívida do Banco do Brasil vai encolher 70 pontos-base nos próximos seis meses, segundo Corfield.
O Votorantim tem classificação BB+ pela S&P, um nível abaixo do grau de investimento e também um nível abaixo da nota do Banco do Brasil.
Financiamento de veículos
Os bônus do Banco Votorantim rendem 206 pontos-base a mais do que a dívida pública com vencimento em 2017. Há dois meses, a diferença era de 176, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O Banco do Brasil comprou 49,9 por cento do Banco Votorantim, oitavo maior banco brasileiro por ativos, em 2009 por R$ 4,2 bilhões para aumentar sua presença no segmento de financiamento de veículos. A fatia do Banco do Brasil nesse mercado subiu de 8,1 por cento em 2008 para 19,2 por cento no primeiro trimestre deste ano, segundo o ING.
As assessorias de imprensa do Votorantim e do Banco do Brasil não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
“O Banco Votorantim está num segmento do negócio de crédito que o Banco do Brasil quer desenvolver”, disse Miguel Crivelli, analista de crédito do Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “O Banco Votorantim deixa os investidores ganharem spread no segmento bancário por ter um nome que está sob o guarda-chuva do Banco do Brasil e se beneficia dessa relação.”
Resgate do Panamericano
Em dezembro o governo elevou os requerimentos de capital para bancos que oferecem financiamento para compra de veículos com prazo superior a 24 meses. A medida fez parte do esforço para segurar o crescimento do crédito, que colaborou para a inflação atingir o maior nível em seis anos de 6,71 por cento nos 12 meses até junho. O financiamento de veículos disparou 49 por cento no ano passado, com os consumidores tendo prazo de até 80 meses para pagar.
O Banco Panamericano SA, instituição de São Paulo especializada no crédito para compra de automóveis, foi resgatado em novembro em meio a acusações de fraude. O BTG Pactual SA comprou o Panamericano em janeiro.
O Ministério da Fazenda se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
Ainda que o Banco Votorantim provavelmente venha a receber apoio do Banco do Brasil em caso de estresse, as duas instituições apresentam dois patamares diferentes de risco para os investidores, de acordo com Ceres Lisboa, analista da Moody’s Investors Service em São Paulo.
“O Banco do Brasil é um banco universal de varejo e a maior parte de seus recursos vem de indivíduos. Pelo lado dos ativos, tem uma base de produtos bem diversificada e uma rede de distribuição geográfica ampla”, disse Lisboa em entrevista por telefone. “Quanto ao Votorantim, a estrutura de captação se baseia nos investidores institucionais, e a maior parte dos recursos é de curto prazo. Isso é uma vulnerabilidade bem grande.”