Ambev: marcas como Brahma, Skol e Antarctica mostraram resiliência, mas crescimento veio dos rótulos mais caros (Ambev/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 2 de março de 2023 às 05h52.
Última atualização em 2 de março de 2023 às 05h55.
Em 2022, o Brasil foi mesmo o mercado da Ambev (ABEV3), fabricante das cervejas Brahma, Skol e Antarctica. Pode parecer óbvio, mas não é tanto. A companhia, que opera com marcas líderes também nos países da América do Sul, Caribe e América Central e Canadá, viu suas operações no exterior continuarem pressionadas e conseguiu segurar números positivos no consolidado por causa da operação brasileira, que, claro, é a maior do negócio. No total, o volume ficou praticamente estável, avançando 1,5%, para 52,17 milhões de hectolitros (cada hectolitro vale 100 litros).
No quarto trimestre de 2022, a Ambev viu seu lucro líquido contábil chegar a R$ 4,97 bilhões, 38% a mais do que um ano antes - graças à maior rentabilidade, mas, também, menor alíquota de impostos.
A receita líquida cresceu 3%, para R$ 22,69 bilhões, abaixo, por exemplo, da estimativa do Credit Suisse, que previa pouco mais de R$ 23 bilhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), avançou 4,8%, para R$7,11 bilhões, ficando num ponto entre as expectativas dos bancos, que estimavam de R$ 6,9 bilhões a R$ 7,5 bilhões.
No ano, o volume da companhia cresceu 3%, totalizando 186 milhões de hectolitros. Isso levou a um avanço de 19,8% na receita líquida, para R$ 79,71 bilhões, coma receita por hectolitro subindo 16%, graças à "premiumnização" do portfólio e à precificação adotada.
Houve aumento do lucro bruto, de 5,6%, mas as margens ainda ficaram pressionadas pelo avanço expressivo dos custos, em especial de insumos, como commodities, e de combustível. Assim, a margem bruta terminou a 49,3%, 1,8 ponto percentual abaixo de 2021.
O Ebitda da companhia ficou em R$ 23,77 bilhões, 3,9% acima de 2021 (ou 17% organicamente), mas com margem 1,6 ponto percentual menor, a 29,8%. O lucro líquido cresceu 14%, para R$ 14,46 bilhões.
Por aqui, o volume do quarto trimestre foi recorde tanto em cerveja quanto em bebidas não alcoólicas, que cresceram 4% e 6,6%, respectivamente. Já no ano, as vendas de cerveja cresceram 3,5% e 12% em não alcoólicas.
O resultado da venda de cerveja nos últimos três meses de 2022, embora abaixo de algumas estimativas, como a do Credit Suisse, que previa avanço de 5%, pode ser visto com bons olhos. A expectativa era mais alta, é claro, pela somatória inédita de Copa do Mundo e verão brasileiro, mas digamos que São Pedro tampouco a seleção colaboraram.
Parte importante dos primeiros dias do verão foi de temperaturas mias baixas do que de costume e dias chuvosos, enquanto o Brasil sau do torneio ainda nas quartas de final, contra a Croácia. O crescimento, porém, ainda ficou abaixo da concorrente principal, a Heineken, que detém cerca de 20% do mercado nacional de cerveja. Enquanto a Ambev, dona de 60% do mercado, cresceu 3,5%, o volume da cervejaria holandesa aumentou um dígito alto, que é algo entre 8% e até 9,9%.
Ainda assim, a direção da companhia conseguiu cumprir com algumas de suas expectativas, como a de voltar a ter crescimento no Ebitda das operações brasileiras. A operação de cerveja e não alcoólicas do país viu o o Ebitda ajustado crescer 12,3% e 41,5%, respectivamente, em 2022. E aqui vale um destaque: a operação de não alcoólicas praticamente recuperou todas suas margens (a margem Ebitda ficou 0,1 ponto percentual menor).
As marcas premium foram um grande destaque. Esse portfólio de maior valor agregado cresceu acima de 20%, liderados por Original, Chopp Brahma, Stella Artois e Corona.
Segundo a Ambev, as marcas principais, como Brahma e Skol, permaneceram resilientes, entregando um crescimento de volume de um dígito médio. Já entre os rótulos intermediários de preço, como Brahma Duplo Malte, o destaque positivo fica por conta da Spaten, que "quase dobrou seu volume em relação ao desempenho do quarto trimestre de 2021".
A Ambev revisou sua previsão de custos. Agora, estima que o CPV (custo dos produtos vendidos) por hectolitro, excluindo depreciação e amortização, para seu negócio de cervejas no Brasil apresente crescimento entre 6% e 9,9% no ano de 2023.
Esse número exclui a venda de produtos de marketplace que não são da Ambev e assume os atuais preços das commodities), explica a empresa: "em decorrência principalmente da inflação em geral e do aumento no custo de algumas commodities".
Em 2022, o CPV da cerveja Brasil cresceu 19% em reais e excluindo depreciação e amortização. A projeção da companhia ia de 16% a 19%.