Volatilidade: real subiu 22,3% em relação ao dólar nos últimos dois anos, o maior avanço entre as moedas emergentes (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2011 às 13h52.
Nova York - Operadores estão aumentando as apostas nas oscilações da moeda brasileira por conta das preocupações de que a desaceleração do crescimento mundial limite a demanda por ativos de renda fixa do País.
A volatilidade implícita em opções de um mês do real contra o dólar aumentou 25 por cento desde 4 de março, segundo dados compilados pela Bloomberg. Foi o segundo maior aumento entre as moedas de mercados emergentes, atrás apenas do sol peruano. Títulos denominados em real tiveram valorização de 11,6 por cento em dólar neste ano, depois de o real ter chegado a um nível apenas 0,2 por cento inferior à desvalorização cambial de 1999, segundo o JPMorgan Chase & Co.
Operadores acreditam que as evidências cada vez maiores de que a expansão global está perdendo fôlego vão aumentar a volatilidade do real, reduzindo sua atratividade para investidores que compram ativos de maior rendimento com recursos tomados em países de juros menores. Os investidores do chamado carry-trade, ou arbitragem, tiveram retorno líquido de 42 por cento com o real nos últimos dois anos, ganho menor apenas do que o proporcionado pelo dólar australiano. O desaquecimento da indústria e o desemprego maior nos Estados Unidos alimentam temores de que a maior economia do mundo está mais perdendo força.
“Nas últimas semanas, vimos notícias quase devastadoras sobre a economia americana”, disse Kathryn Rooney Vera, analista de mercados emergentes da Bulltick Capital Markets em Miami, em entrevista por telefone. “Existe forte correlação entre o Brasil e o crescimento global, e a moeda está se alinhando a isso.”
As Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 têm taxa de 12,48 por cento, ou 949 pontos-base a mais que papéis do Tesouro americano de prazo similar, segundo dados da Bloomberg.
Avanço do real
O real subiu 22,3 por cento em relação ao dólar nos últimos dois anos -- o maior avanço entre as moedas emergentes -- para R$ 1,5843 por dólar, de acordo com dados da Bloomberg. O dólar chegou a R$ 1,5570 em 27 de abril, o maior patamar desde 1 de agosto de 2008.
O aumento de 25 por cento na volatilidade implícita das opções envolvendo o real nos últimos três meses é mais que o dobro do acréscimo registrado com o rublo da Rússia e o rand sul-africano, de acordo com dados da Bloomberg. Especulações de que Ollanta Humala vai tentar ampliar o controle do estado sobre a economia quando assumir a presidência do Peru embalaram uma disparada de 100 por cento na volatilidade implícita de opções envolvendo o sol.
O aumento da volatilidade implícita mostra que os operadores querem se proteger de quedas no real, disse Ram Bala Chandran, analista de câmbio e juros para América Latina do Citigroup Inc. em Nova York.
“Os participantes do mercado vêm comprando proteção para o real”, disse Bala Chandran em entrevista por telefone. Os dados econômicos dos EUA “têm sido extremamente fracos”, disse.
Temores com Palocci
Segundo Bala Chandran, as previsões de operadores indicando maior volatilidade no real aumentaram com a possibilidade de o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ser forçado a sair do governo, prejudicando o plano da Presidente Dilma Rousseff para conter a inflação.
Dilma pode convocar a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para substituir Palocci. Ele está sendo criticado pelo aumento de sua fortuna pessoal enquanto gerenciava a campanha eleitoral da presidente no ano passado, segundo um funcionário do governo.
A Procuradoria Geral da República anunciou ontem o arquivamento da investigação contra Palocci.
Um representante do Palácio do Planalto, que pediu para não ser identificado em obediência à política do governo, se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
Palocci disse em nota ontem, depois do anúncio do arquivamento do caso pela PGR, que prestou todas as informações pedidas e que espera que a decisão “recoloque o embate político nos termos da razão, do equilíbrio e da Justiça”.
A inflação acelerou para 6,55 por cento em maio, o ritmo mais forte desde julho de 2005.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, aumentou a taxa de juros 125 pontos-base este ano para 12 por cento. A estimativa mediana de 38 economistas ouvidos pela Bloomberg é de que o BC vai elevar a Selic em 0,25 ponto percentual amanhã na reunião do Comitê de Política Monetária.