Milei deve ter apoio para seguir com reformas após resultado da eleição legislativa (Luis ROBAYO /AFP)
Repórter de Mercados
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h03.
Os preços dos ativos argentinos iniciaram trajetória de valorização nesta semana, após o desempenho eleitoral melhor do que o previsto do presidente Javier Milei e de seu partido, La Libertad Avanza (LLA), nas eleições de meio de mandato realizadas no domingo, 26.
Com 40,7% dos votos nacionais, a LLA superou a coligação peronista Fuerza Patria, que obteve 31,7%, e também os governistas dissidentes da coalizão Provincias Unidas, que teve 7%. O resultado fortalece o mandato de Milei e reduz o risco de paralisia legislativa,[/grifar] o que, segundo analistas da UBS, pode ajudar os ativos a recuperarem os níveis observados antes da derrota da LLA na Província de Buenos Aires, em setembro.
Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) endossam a tese, avaliando que a situação, após resultados favoráveis a Milei, será mais fácil de administrar.
“Os preços dos ativos devem refletir esse cenário muito melhor do que o esperado, mas, após a euforia inicial, esperamos que o mercado passe a monitorar de perto a agenda de Milei no que diz respeito à construção de consensos e ao fortalecimento da posição externa, com aumento das reservas”, opina o banco.
O desempenho superou as pesquisas, que indicavam empate técnico com os peronistas, e reverteu o cenário da eleição de setembro, em que a LLA havia perdido por ampla margem na Província de Buenos Aires. Além da capital federal, o partido venceu em províncias estratégicas como Mendoza, Santa Fé e Córdoba.
“Esperamos muita disputa interna no peronismo e uma busca por culpados. É possível que o peronismo veja Axel Kicillof, governador de Buenos Aires, como um dos responsáveis pela derrota”, avaliam os analistas do BTG. Vale lembrar que Kicillof decidiu antecipar a eleição provincial contra a vontade de Cristina Kirchner.
A votação foi tratada como um referendo sobre as políticas econômicas do governo. Apesar da menor participação em uma eleição federal desde a redemocratização, o resultado ficou mais alinhado com as expectativas do mercado do início do ano, quando o cenário macro da Argentina era mais favorável.
Segundo projeções independentes, uma aliança entre LLA, PRO e representantes da Provincias Unidas — cujos governadores têm posições fiscais semelhantes às de Milei — deixaria o governo próximo da maioria no Congresso. Isso abre caminho para a tramitação de reformas trabalhista, tributária e previdenciária, previstas para a segunda metade do mandato.
O fortalecimento político também diminui a pressão sobre o câmbio. Nas semanas anteriores à votação, o peso argentino operava no teto da banda cambial, com intervenções do Banco Central e dos Tesouros da Argentina e dos Estados Unidos. A especulação de uma desvalorização pós-eleitoral foi motivada pelo temor de um revés político, que não se confirmou.
Para analistas do UBS, mesmo com o resultado favorável e a promessa de assistência dos EUA — US$ 20 bilhões em linha de swap e outros US$ 20 bilhões em potencial linha de recompra com instituições privadas —, a sustentabilidade externa da Argentina continua sob prova.
"Olhando adiante, a bola estará completamente com Milei. A vitória dará ao governo um espaço de respiro. Mas ainda será preciso fazer o dever de casa. Acreditamos que a tarefa pela frente pode ser resumida em duas áreas-chave: acumular reservas e construir consensos para implementar reformas que aumentem a produtividade e o crescimento", endossam os analistas do BTG Pactual.
O país tem US$ 48 bilhões em pagamentos de dívida até 2027. As autoridades argumentam que o peso não está sobrevalorizado, com base no desempenho das exportações. No entanto, os gastos de turistas argentinos no exterior sugerem o contrário.
A valorização da moeda nos próximos dias dependerá da reversão de posições defensivas no mercado. A expectativa é que o novo cenário político contribua para atrair fluxo de capital estrangeiro — essencial para evitar nova desvalorização e retomar o acesso ao mercado internacional de dívida.