Invest

Vitória de Milei impulsiona ativos argentinos — mas até quando?

Analistas são unânimes quanto à necessidade da Argentina em acumular reservas, e a bola está totalmente com Javier Milei

Milei deve ter apoio para seguir com reformas após resultado da eleição legislativa (Luis ROBAYO /AFP)

Milei deve ter apoio para seguir com reformas após resultado da eleição legislativa (Luis ROBAYO /AFP)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h03.

Última atualização em 28 de outubro de 2025 às 09h42.

yt thumbnail

Os preços dos ativos argentinos iniciaram trajetória de valorização nesta semana, após o desempenho eleitoral melhor do que o previsto do presidente Javier Milei e de seu partido, La Libertad Avanza (LLA), nas eleições de meio de mandato realizadas no domingo, 26.

Com 40,7% dos votos nacionais, a LLA superou a coligação peronista Fuerza Patria, que obteve 31,7%, e também os governistas dissidentes da coalizão Provincias Unidas, que teve 7%. O resultado fortalece o mandato de Milei e reduz o risco de paralisia legislativa,[/grifar] o que, segundo analistas da UBS, pode ajudar os ativos a recuperarem os níveis observados antes da derrota da LLA na Província de Buenos Aires, em setembro.

Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) endossam a tese, avaliando que a situação, após resultados favoráveis a Milei, será mais fácil de administrar.

“Os preços dos ativos devem refletir esse cenário muito melhor do que o esperado, mas, após a euforia inicial, esperamos que o mercado passe a monitorar de perto a agenda de Milei no que diz respeito à construção de consensos e ao fortalecimento da posição externa, com aumento das reservas”, opina o banco.

O desempenho superou as pesquisas, que indicavam empate técnico com os peronistas, e reverteu o cenário da eleição de setembro, em que a LLA havia perdido por ampla margem na Província de Buenos Aires. Além da capital federal, o partido venceu em províncias estratégicas como Mendoza, Santa Fé e Córdoba.

“Esperamos muita disputa interna no peronismo e uma busca por culpados. É possível que o peronismo veja Axel Kicillof, governador de Buenos Aires, como um dos responsáveis pela derrota”, avaliam os analistas do BTG. Vale lembrar que Kicillof decidiu antecipar a eleição provincial contra a vontade de Cristina Kirchner.

Apoio às reformas

A votação foi tratada como um referendo sobre as políticas econômicas do governo. Apesar da menor participação em uma eleição federal desde a redemocratização, o resultado ficou mais alinhado com as expectativas do mercado do início do ano, quando o cenário macro da Argentina era mais favorável.

Segundo projeções independentes, uma aliança entre LLA, PRO e representantes da Provincias Unidas — cujos governadores têm posições fiscais semelhantes às de Milei — deixaria o governo próximo da maioria no Congresso. Isso abre caminho para a tramitação de reformas trabalhista, tributária e previdenciária, previstas para a segunda metade do mandato.

O fortalecimento político também diminui a pressão sobre o câmbio. Nas semanas anteriores à votação, o peso argentino operava no teto da banda cambial, com intervenções do Banco Central e dos Tesouros da Argentina e dos Estados Unidos. A especulação de uma desvalorização pós-eleitoral foi motivada pelo temor de um revés político, que não se confirmou.

Reservas e investimentos no radar

Para analistas do UBS, mesmo com o resultado favorável e a promessa de assistência dos EUA — US$ 20 bilhões em linha de swap e outros US$ 20 bilhões em potencial linha de recompra com instituições privadas —, a sustentabilidade externa da Argentina continua sob prova.

"Olhando adiante, a bola estará completamente com Milei. A vitória dará ao governo um espaço de respiro. Mas ainda será preciso fazer o dever de casa. Acreditamos que a tarefa pela frente pode ser resumida em duas áreas-chave: acumular reservas e construir consensos para implementar reformas que aumentem a produtividade e o crescimento", endossam os analistas do BTG Pactual.

O país tem US$ 48 bilhões em pagamentos de dívida até 2027. As autoridades argumentam que o peso não está sobrevalorizado, com base no desempenho das exportações. No entanto, os gastos de turistas argentinos no exterior sugerem o contrário.

A valorização da moeda nos próximos dias dependerá da reversão de posições defensivas no mercado. A expectativa é que o novo cenário político contribua para atrair fluxo de capital estrangeiro — essencial para evitar nova desvalorização e retomar o acesso ao mercado internacional de dívida.

Acompanhe tudo sobre:Javier MileiArgentinaEleiçõesMercados

Mais de Invest

Ação da Netflix fica mais acessível ao investidor; entenda

Ibovespa fecha em queda com bancos e à espera de dados nos EUA

Dólar acompanha o exterior e fecha em alta com menor apetite ao risco

Esses analistas acreditam que o Meli vai subir ainda mais na bolsa