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Veste: dona da John John e da Le Lis deixa outlet e promoção de lado para ficar mais rentável

No fim do ano passado, a Restoque virou Veste e fez um aumento de capital de R$ 100 milhões, para acelerar reformas de lojas e os projetos digitais

Le Lis: público AB e menos liquidações (Le Lis/Divulgação)

Le Lis: público AB e menos liquidações (Le Lis/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 19 de julho de 2023 às 17h01.

Última atualização em 21 de julho de 2023 às 10h14.

Dona das marcas Le Lis, Dudalina, Bo.bô e John John, a Veste (VSTE3) quer operar no preço cheio. Ex-Restoque, essa tem sido a estratégia da varejista de moda para voltar ao caminho de crescimento somado a ganho de rentabilidade. Ao fim de março, a companhia completou, pela primeira vez em anos, dois trimestres seguidos de lucro. Para o segundo trimestre, os números a serem divulgados em 11 de agosto devem mostrar tendência similar.

"Nosso público e segmento nos preserva um pouco das movimentações macroeconômicas. No segundo trimestre, a operação mantém a tendência que veio no primeiro. Nossa estratégia está preservada. Estamos entregando o que foi planejado. O Dia das Mães, por exemplo, foi muito forte, ficou acima do ano passado, que foi recorde", diz Alexandre Afrange, CEO da varejista. De janeiro a março, o lucro da empresa foi de R$ 6,57 milhões contra um prejuízo de R$ 59 milhões um ano antes. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu nada menos do que 61%, para R$ 47,69 milhões, com a margem saltando de 12,7% para 18%.

No fim do ano passado, a Restoque virou Veste e fez um aumento de capital de R$ 100 milhões, para acelerar reformas de lojas e os projetos digitais. O objetivo é chegar a 2025 faturando 50% mais e dobrar o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, imposto, depreciação e amortização). Tudo isso depois da dívida bilionária ser convertida em ações e reduzir a alavancagem de 7,5 vezes para 0,5 ou 0,6 vez. Em 2020, com dívida em torno de R$ 1,8 bilhão, a varejista apresentou um plano de recuperação extrajudicial.

A saída do atoleiro veio em 2022. No fim de outubro, conseguiu fazer umas das maiores (se não for a maior) conversão de dívida em ações da história da bolsa brasileira. Converteu R$ 1,64 bilhão de dívidas em ações, o que mudou o controle da empresa, hoje nas mãos da gestora WNT, a mesma que tem participação na Westwing e na Light. "No desenho que fizemos lá atrás, visávamos um crescimento sustentável e rentabilidade do número investido", explica Afrange, que assumiu o comando no fim de 2022. Antes, ele era chefe de operações (COO). Para alcançar o objetivo, a Veste fechou lojas que estavam aquém de rentabilidade e aumentou os investimentos em digitalização.

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Hoje, são 173 lojas das marcas e mais 9 outlets. "De acordo com a nossa estratégia de vender mais a preço cheio, vamos acertando mais a estratégia. Não vejo mais pontos a serem fechados, mas, também, não tenho planos de expansão por agora."  A empresa encerrou o período de janeiro a março com margem bruta de 64%, 6,7 pontos percentuais acima do ano anterior "Muito pelo mix de canal, ou seja, a composição de outlet e lojas 'full price', em que o formato outlet diminuiu de importância. É mais ou menos aí que a margem vai ficar." 

Resta, ainda, convencer o mercado sobre a retomada. Dos bancos de investimento, apenas BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e o Santander aparecem no site de RI como cobertura de analistas, mas não há, por exemplo, relatórios recentes sobre a operação. Mas há poucas indicações. A conversão de dívida e o aumento de capital levaram a uma unificação de papéis, que antes eram negociados na casa de R$ 1,60. Desde fevereiro, quando passou a ser cotado a R$ 12,83, a ação já se valorizou mais de 39%, chegando a R$ 18,00 e dando à empresa um valor de mercado de R$ 2,04 bilhões. 

Não somos vítimas da tecnologia

A aposta no digital fez esse canal crescer com números expressivos, tanto no B2B (vendas entre empresas) quanto no B2C (vendas para consumidor final). "Estamos melhorando a experiência do cliente. O NPS (indicador de qualidade) vem acrescentando notas relevantes. Mas ainda tem espaço para crescer, sim", diz o executivo.

No primeiro trimestre o crescimento foi de 7,8% nas vendas digitais, com elas representando 15% do total ou 22% se considerando o modelo multicanal (em que a venda começa no físico e termina num canal digital ou o contrário). "O índice de prateleira infinita, que é a oferta do estoque digital pelo vendedor da loja física ao cliente na hora da venda, cresceu. Não somos vítimas da tecnologia. As vendas crescem com a margem bruta desse canal também crescendo", argumenta. 

"Parte da nossa estratégia desenhada lá atrás é vender mais a preço cheio, para ter aproveitamento maior da coleção. O foco é muito claro nesse tipo de venda, com muito cuidado para não entrar com promoções que atrapalhem o mundo físico", diz ele, acrescentando que, por estar mais exposto às classes AB, não tem competição direta de plataformas asiáticas, como Shopee e Shein, que vêm tirando o sono das grandes redes varejistas de moda do país.    

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