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Veja o que Trump ignora nas moedas do Brasil e da Argentina

Trump acusou os países de desvalorizarem real e peso de propósito para ganharem competitividade. Mas tem muito mais por trás do valor baixo das moedas

Dólar e real: na última semana, moeda brasileira bateu recordes de valorização (NurPhoto/Getty Images)

Dólar e real: na última semana, moeda brasileira bateu recordes de valorização (NurPhoto/Getty Images)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 4 de dezembro de 2019 às 11h58.

Última atualização em 4 de dezembro de 2019 às 11h58.

São Paulo — Ações recentes do Brasil e da Argentina derrubam a visão do presidente Donald Trump de que os países enfraquecem deliberadamente suas moedas.

Nesta semana, Trump disse que vai retomar as tarifas sobre as exportações de aço e alumínio dos dois países, já que “promovem desvalorização maciça de suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores”.

Embora seja verdade que o real e o peso argentino se enfraqueceram contra o dólar este ano, os bancos centrais de Brasília e Buenos Aires parecem mais preocupados do que felizes com isso.

“Trump deveria agradecer ao Brasil e Argentina“, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton. “Seus governos adotaram medidas que buscam controlar a depreciação de suas moedas”.

Aqui estão algumas das razões pelas quais o Brasil e a Argentina não são culpados de tentar manipular suas moedas:

Intervenção cambial no Brasil

O BC brasileiro interveio no mercado de câmbio vendendo dólares, o que tende a desacelerar a depreciação e tornar o real mais forte do que seria. O presidente do banco, Roberto Campos Neto, afirmou repetidamente que a moeda é flutuante e que não há meta específica. Ainda assim, as ações da autoridade monetária podem ter sido um fator para impedir que a moeda se enfraquecesse para além de R$ 4,30 nas últimas semanas.

Juros no Brasil

O Banco Central reduziu a taxa de juros para seu nível mais baixo este ano. Isso tende a enfraquecer a moeda, reduzindo o apelo do carry trade, pelo qual os investidores tomam empréstimos em dólares e compram ativos em moedas que oferecem rendimentos mais altos. Mas os cortes nas taxas são exatamente o que você esperaria de um banco central diante de um crescimento fraco e aumentos de preços ao consumidor abaixo da meta. Não há razão para pensar que o Banco Central do Brasil estaria fazendo outra coisa senão cumprir seu mandato de metas de inflação de maneira normal.

Conta Corrente

O déficit na conta corrente do Brasil aumentou este ano para o mais amplo desde o final de 2015. As exportações caíram, então a ideia de que um real mais fraco está permitindo que o Brasil inunde os EUA com bens baratos é difícil de sustentar.

Controle de capital da Argentina

A Argentina agiu com mais vigor para defender o peso, que afundou com a proximidade do fim do mandato de Mauricio Macri. No início de setembro, Macri impôs controles de capital que incluíram restrições ao acesso de algumas empresas aos mercados de câmbio e também sua capacidade de fazer transferências para o exterior. Em outubro, sua administração limitou a compra de dólar por poupadores. Todas essas medidas representam esforços para apoiar e não enfraquecer a moeda.

Força global do dólar

A maioria das moedas de mercados emergentes caiu contra o dólar este ano, com o peso chileno e a lira turca se unindo ao real e ao peso entre os principais perdedores. A força da moeda norte-americana foi revigorada nas últimas semanas, à medida que a briga entre EUA e China reduz o apetite dos investidores por ativos mais arriscados. “O enfraquecimento dessas moedas é, em grande parte, culpa de Trump devido à guerra comercial”, disse Perfeito, da Necton. “E esse ataque pode enfraquecê-las ainda mais”, disse ele em referência à decisão de Trump sobre tarifas de aço e alumínio.

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