Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Foto: Andre Coelho/Bloomberg via Getty Images) (Amanda Perobelli/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 22 de setembro de 2021 às 20h06.
Última atualização em 23 de setembro de 2021 às 07h27.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu a taxa Selic em 1 ponto percentual (p.p.) de 5,25% para 6,25% ao ano nesta quarta-feira, 22 de setembro. Em linha com as expectativas do mercado, a alta de juros foi a quinta seguida desde março. Em comunicado, o BC informou que "antevê outro ajuste da mesma magnitude" para a próxima reunião, em outubro e que pode avançar o ciclo de aperto monetário para "território contracionista".
Para o mercado, as sinalizações indicam que o Copom os 1 p.p. será mesmo o limite por de alta de juros reunião. Com a elevação de 6,25% para 7,25% já sinalizada, economistas debatem de quanto será o ajuste em dezembro, com as projeções, majoritariamente, variando entre mais um ajuste para 8% ou 8,25%.
O ciclo de alta de juros ocorre em meio à forte aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que já beira 10% no acumulado de 12 meses, e expectativas de inflação para 2022 superior ao centro da meta para o ano de que vem, de 3,50%. No último boletim Focus, a previsão era de IPCA a 4,1%.
Confira o que dizem cinco especialistas do mercado sobre a decisão do Copom.
"A principal novidade é que o BC vai realmente levar o juro para patamar contracionista. Isso indica que não há limite e que vão levar a Selic para onde for necessário para controlar a inflação de 2022 e 2023. O BC tem colocado que o ritmo de alta vai ser de no máximo 1 p.p., repetindo as doses nas próximas duas reuniões. Talvez, em fevereiro, façam um ajuste menor, de 0,5 p.p. ou 0,75 p.p., elevando a Selic para até 9%", afirma João Leal, economista da Rio Bravo.
"O comunicado não deve ser suficiente para reduzir as expectativas de inflação para o ano que vem. Eu esperava um comunicado mais contracionista. O BC parece distante em relação ao que o mercado está vendo para a inflação. O mercado parece muito mais pessimista sobre a inflação. Esse comunicado foi até um pouco expansionista"
"O BCB de fato deu mais uma alta de 100 pontos e apontou que fará outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião. Acreditamos que teremos pelo menos mais uma alta de 100 pontos na última reunião do ano, o que fará a SELIC bater em 8,25%", diz em nota André Perfeito, economista-chefe da Necton.
"Não iremos ainda alterar de maneira significativa nosso cenário para 2022 uma vez que iremos esperar a divulgação do IPCA-15 que será na próxima sexta-feira. Se vier acima da nossa projeção de 1,08% em setembro, o que elevaria a taxa anual para 10%, devemos rever mais decididamente nossas projeções."
"Nossa avaliação é que o tom do comunicado foi neutro, nem expansionista e nem contracionista. Sendo neutro, mantemos nossas projeções de Selic de 8% para fim do ano, com um ajuste de 1 p.p., em outubro, e outro de 0,75 p.p., em dezembro. Em fevereiro, o BC deve subir mais 0,5 p.p. para 8,5%. O que pode ajustar para cima nossa projeção de Selic serão as expectativas de inflação para 2022 e 2023. Então seguiremos atentos aos boletins Focus", disse Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital em live.
"Nota-se maior incerteza da autoridade monetária em relação ao ciclo econômico, principalmente com a perspectiva de queda no ritmo de crescimento decorrente do avanço da variante delta. Por enquanto, o Copom mantém expectativa de que o ambiente está favorável para economias emergentes, mas reforça que questionamentos sobre os riscos inflacionários podem tornar este ambiente mais desafiado", diz em nota Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.
Apesar da mensagem de inflação temporária emitida na decisão de hoje, ressaltando que vários fatores transitórios (clima, reabertura e combustíveis, entre outros) têm afetado a inflação corrente, e prometendo outro ajuste de 1,00% na próxima reunião, entendemos que o Copom deve acelerar a alta na reunião de outubro, em meio à piora do cenário inflacionário, conforme os choques citados pelo comitê se dissipam pelo restante da economia e a alta de preços vai ganhando maior persistência.", afirma em nota Nicolas Borsoi, economista da Nova Futura.
"Portanto, mantivemos nossas projeções de duas altas de 125 pontos-base nas próximas reuniões e esperamos que a taxa Selic termine 2021 em 8,75%."
Com o BC não gerando solavancos na Selic e sem alterar de maneira relevante sua comunicação, a autoridade deve elevar a Selic em 1 p.p. nas próximas duas reuniões que restam este ano, fechando 2021 a 8,25%. O ciclo de alta deve encerrar na reunião de fevereiro, com mais um ajuste de p.p. para 9,25%", avalia em nota Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa.
"Com a Selic média mais baixa nesse ano, elevamos nossa perspectiva para o IPCA de 2022 de 3,7% para 3,8%. A despeito desse movimento, reduzimos o IPCA para 2023 de 3,25% para 3,10%. Com isso, o PIB do ano que vem sofre é alterado de 1,6% para 1,5% e o de 2023 cai de 2,5% para 2,4%."