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Valorização e demanda explosiva: por que a queda da Selic anima gestores de renda fixa

Investidores veem juros em "ponto ótimo" para o fomento do mercado de crédito privado

Samer Serhan, sócio da Jive Investments: "deve haver grandes volumes de captação neste semestre" (Jive Investments/Divulgação)

Samer Serhan, sócio da Jive Investments: "deve haver grandes volumes de captação neste semestre" (Jive Investments/Divulgação)

Publicado em 18 de agosto de 2023 às 11h18.

Última atualização em 18 de agosto de 2023 às 12h46.

As alta da taxa de juros aumentaram a atratividade dos títulos do Tesouro nos últimos anos. Mas é justamente agora, que a Selic começou a cair, que gestores de renda fixa estão mais otimistas. A avaliação é de que. com os juros mais baixos, as condições se tornem ideais para o crescimento do crédito privado.

A projeção da indústria é de que a queda dos rendimentos atrelados à taxa básica de juros aumente o apetite por títulos de dívida corporativa, com maior risco e retorno, ao mesmo tempo em que incentiva novas emissões por parte das empresas.

"Juros muitos altos atrapalham os resultados das empresas. Há um ponto ótimo, em que as taxas são atrativas para o investidor e não sufocam as companhias, que seria o de Selic entre 9% e 11%", avalia Marcello Mattos, CIO da Inter Asset. A previsão do Focus é de que o nível "ótimo"  de juros indicado pelo diretor de investimentos seja alcançado no ano que vem. Mas a previsão é de que o mercado de crédito privado ganhe tração ainda neste semestre.

A captação de fundos de renda fixa, negativa desde o ano passado, já começa a dar sinais de reversão.

Números da segunda de agosto revelados pela Anbima mostram que os aportes líquidos em fundos de renda fixa já superam R$ 30 bilhões no mês, que marcou o início do ciclo de corte da Selic.

"Deve haver grandes volumes de captação neste semestre", disse Samer Serhan, sócio da Jive Investments responsável por fundos de crédito privado e estruturado. Na sua avaliação, investidores que estavam alocados diretamente em títulos de renda fixa deverão migrar parte de seus recursos para fundos, na tentativa de obter retornos mais expressivos com a Selic em queda.

Esquecendo o trauma

A entrada contrasta a saída de R$ 200 bilhões de fundos de renda fixa nos últimos 12 meses. O ritmo dos resgates, inclusive, passou por aceleração no início do ano, quando as fraudes contábeis da Americanas chacoalharam o mercado de crédito privado, provocando rentabilidades negativas.

"Houve um efeito de contaminação. Ver a Americanas quebrando, e de uma forma tão traumática, afetou o preço das dívidas de todas as outras empresas", afirmou Fernando Marinho, gestor de crédito privado da Valora Investimentos

O efeito-Ameicanas provocou a abertura generalizada do spread de crédito, que é o valor acima do CDI pago pelas empresas na emissão da dívida. A grosso modo, esse spread representa o risco de calote dessas empresas. Se o mercado passa a pedir um spread de crédito maior para comprar o título no mercado secundário, seu valor de face cai, provocando perdas nas cotas dos fundos. O fechamento desses spreads, por outro lado, tende a gerar retornos positivos para os fundos investidos.

Retorno e demanda em alta

A entrada de recursos ara fundos abertos de crédito privado e a percepção de uma melhora do cenário econômico tem contribuído para esse fechamento dos spreads. "Mas ainda estamos na metade desse movimento de normalização para os níveis pré-Americanas. A dinâmica do fechamento dos spreads está ocorrendo muito rapidamente. O mercado está raspando tudo que aparece. Isso é possibilidade de ganho na veia.", afirmou Marinho.

Com dinheiro na mesa e o custo da dívida cada vez maior, as emissões de títulos privados vêm aumentando. Entre junho e julho, o volume de emissões de debêntures bateu R$ 38 bilhões, segundo dados da Anbima. O montante representa 42% de todo o volume de emissões dos sete primeiros meses do ano. No mesmo período de 2022, essa proporção foi de 33%, ainda que nominalmente maior que a registrada entre junho e julho deste ano.

A aceleração do ritmo de emissões, segundo Serhan, são só algumas gotas da chuva de debêntures que espera para os próximos meses. Sua estimativa é de que as grandes e médias empresas precisarão de R$ 250 a 300 bilhões para rolarem suas dívidas.

"Só que o mercado só consegue absorver entre R$ 40 e 50 bilhões por mês. Isso em um cenário extremamente otimista, de céu de brigadeiro. Então, mesmo com o aumento da oferta crédito, ainda vai faltar para atender essa demanda", disse.

A tendência, comentou o diretor de crédito privado da Jive, é as grandes empresas conseguirem alguma linha de crédito com os bancos e gestoras. Mas as menores terão que buscar alternativas. É para esse tipo de empresa que a Jive tem voltado seu arsenal. "Esse desequilíbrio entre oferta e demanda irá gerar uma grande oportunidade para os fundos."

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