Debêntures participativas da Vale foram emitidas à época da privatização (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Editor de Invest
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 08h00.
A recompra, pela Vale (VALE3), de debêntures emitidas na época de sua privatização reduzem a chance da companhia distribuir dividendos extraordinários. Essa é a conclusão do time de analistas da XP que, por outro lado, veem o movimento como "um desenvolvimento positivo de alocação de capital".
A mineradora anunciou ontem a oferta de aquisição dos chamados títulos participativos, que foram emitidos por 1 centavo de real nos idos de 1997, quando a companhia foi privatizada. As debêntures vencem apenas em 2099 e têm uma característica peculiar. Como seu nome sugere, ele dá aos seus detentores o direito a uma parte das receitas obtidas com minério de ferro e metais produzidos pela companhia, em determinadas regiões.
Na época em que as debêntures participativas foram emitidas, a exploração estava em fase inicial. Mas agora que algumas jazidas já chegaram a um ápice produtivo, manter esses títulos em circulação ficou oneroso para a Vale. A companhia está disposta a pagar R$ 42 por título, fazendo com que a aquisição saia pelo montante de R$ 16 bilhões.
Os analistas Lucas Laghi, Guilherme Nippes e Fernanda Urbano avaliam o movimento como positivo, já que a rentabilidade real desses títulos aos seus detentores é de cerca de 10%, acima do custo de financiamento da mineradora, que está em torno de 5,5%.
"Dado o baixo custo de financiamento da Vale, essa decisão de alocação de capital parece razoável para nós do ponto de vista financeiro", afirmam os analistas em relatório. A oferta da Vale representa um prêmio de 15% em relação aos valores que esses títulos, negociados no mercado secundário, tem hoje, entre R$ 36 e R$ 37. Para a XP não está claro qual será o tamanho da adesão à essa oferta, por parte dos detentores dos títulos.
Os analistas, no entanto, observam que essas debêntures participativas não entram na metodologia da dívida líquida expandida da Vale, "questão meramente contábil, mas que a Vale leva em consideração para distribuição de dividendos extraordinários", afirma Lucas Laghi.
Contudo, ao desembolsar R$ 16 bilhões pela compra desses títulos, a Vale estaria aumentando seus limites de alavancagem em US$ 3,1 bilhões.
Recentemente, a companhia reduziu suas metas de investimento para este ano, para uma faixa entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,7 bilhões. A partir daí, algumas casas de análise concluíram que a Vale estaria abrindo espaço para distribuir dividendos extraordinários ou recomprar ações.