Barragem se rompe e lama invade Brumadinho, na Grande BH (TV Globo/Reprodução)
Denyse Godoy
Publicado em 25 de janeiro de 2019 às 15h35.
Última atualização em 25 de janeiro de 2019 às 18h39.
O rompimento da barragem em Brumadinho (MG) afetou o desempenho da Vale no mercado internacional. As ADRs (American Depositary Receipts) das ações da Vale desabavam 11,6%, vendidas a 13,13 dólares, na bolsa de Nova York no início da tarde desta sexta-feira. O índice Dow Jones avançava 0,95%.
A B3, bolsa de São Paulo, está fechada hoje devido ao feriado em comemoração ao aniversário da cidade.
"Essa queda é uma reação de pânico dos investidores à notícia. Como não é possível estimar, neste momento, o tamanho do prejuízo financeiro para a mineradora, os acionistas correm para se livrar do papel", diz Eduardo Guimarães, analista da consultoria de investimentos Levante.
Provavelmente, a Vale vai precisar interromper a produção na região afetada pelo desastre em Brumadinho. O efeito nas receitas da empresa pode não ser relevante, porém, na avaliação de Ricardo Schweitzer, analista da consultoria de investimentos Nord Research.
“A reação inicial do mercado reflete mais o que não se sabe ainda sobre o desastre, a incerteza. Em termos de volume e de qualidade, a produção no norte do país, em Carajás, é mais importante para o resultado”, diz o analista. “Com todo o respeito pelas eventuais vítimas e pelo prejuízo ambiental, o investidor também precisa considerar que esse é o tipo de risco a que todas as mineradoras estão sujeitas.”
Na segunda-feira, os papeis da Vale negociados na bolsa brasileira devem sofrer forte baixa também, na expectativa de Guimarães. No médio prazo, é preciso avaliar os danos à imagem da Vale, que diz adotar medidas para garantir a sustentabilidade das suas operações, e o impacto de eventuais multas ambientais, compensações às vítimas e processos judiciais.
Nos últimos meses, a Vale tem sido incluída por bancos, corretoras e especialistas em carteiras recomendadas de ações de empresas que pagam altos dividendos. Mas Guimarães ressalta que não se pode ignorar os riscos dos papeis de companhias do setor de commodities. "Muitas dessas empresas são boas, mas os ciclos de preços das matérias-primas são difíceis de prever", diz.
A barragem de Mina Feijão se rompeu no início da tarde de hoje. As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. A companhia afirma ainda que ativou seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens.
"A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade", disse a empresa em nota.
O episódio remete ao rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, no município de Mariana, também em Minas Gerais, em novembro de 2015. O desastre de Mariana deixou 19 pessoas mortas na comunidade de Bento Rodrigues, que foi devastada pelos dejetos. A Vale, junto com a BHP Billiton, é uma das controladoras da Samarco. Houve também poluição da bacia do Rio Doce e devastação de vegetação.
Nos dois meses seguintes ao rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 5 de novembro de 2015, as ações da Vale perderam 45%, caindo para 8,42 reais em 18 de janeiro de 2016, menor nível desde 2005. Desde então, acompanhando a elevação dos preços do minério de ferro e uma reestruturação corporativa que elevou o pagamento de dividendos pela companhia, o papel teve seu preço multiplicado por quase sete vezes, tendo fechado cotado a 56,15 reais ontem. Nesse período, a tonelada do minério de ferro passou de 40,50 dólares para 69,15 dólares.
Desde novembro de 2016, tramita na Justiça Federal de Ponte Nova (MG) uma ação criminal sobre a tragédia, que se tornou o maior desastre ambiental já registrado no país.