Vale: gastos com relacionados a Brumadinho e com descaracterização de barragens somam 28,8 bilhões de reais (Adriano Machado/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 às 12h59.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2020 às 13h18.
São Paulo - Um ano após a maior tragédia trabalhista da história do Brasil, a Vale ainda sente os efeitos do desastre. No balanço do quarto trimestre de 2019, divulgado na noite de quinta-feira (20), a mineradora reverteu o lucro apresentado no mesmo período de 2018 e apresentou prejuízo líquido de 1,562 bilhão de dólares. No ano, a empresa teve prejuízo de 1,683 bilhão de dólares.
Embora o dólar e o minério de ferro mais apreciados tenham favorecidos a companhia em 2019, as perdas decorrentes do rompimento da barragem de Brumadinho pesaram mais no resultado. Com isso, as ações da Vale chegaram a cair 4,52% na mínima desta sexta-feira (21). Às 12h55h, os papéis recuavam 4,18% e eram negociados por 50,02 reais.
De acordo com a Vale, as provisões e despesas relacionadas a Brumadinho totalizaram 18,5 bilhões de reais. Para reduzir os riscos de novos desastres, a companhia colocou em prática o processo de descaracterização de barragens a montante, o que adicionou gastos adicionais de 10,3 bilhões de reais. A previsão é a de que o projeto continue nos próximos anos, o que deve estender esse tipo de custo por mais tempo, segundo analistas.
Em linha com o objetivo de dar mais segurança às suas atividades, a empresa tem buscado mudanças em sua linha de produção, como o aumento do processamento a seco na extração de minério de ferro - o que também embute custos.
Em relatório, analistas da Guide Investimentos classificaram o resultado como negativo com destaque para o Comitê Independente, que investigou a causa do rompimento e apontou que a Vale tinha informações sobre a fragilidade da estrutura desde 2003.
Sem considerar as provisões e despesas correntes relacionadas a Brumadinho, o ebitda pró-forma (lucro antes de juros impostos depreciação e amortização) de 2019 totalizou 18 bilhões de dólares, ficando 1,4 bilhão de dólares acima do ano anterior. Desse total, maiores preços e variação cambial favorável adicionou ao resultado 5,99 bilhões de dólares e 571 milhões de dólares, respectivamente, compensando as perdas com menores volumes, maiores custos e despesas associadas às barragens paralisadas, que somaram 5,168 bilhões de dólares.
Para a equipe de research do banco de investimentos UBS, o resultado foi “sólido”, mas não o suficiente para alterar a recomendação dos papéis da Vale de “neutra” para “compra”. De acordo com o laboratório de dados do UBS, as embarcações com minério de ferro da Vale caíram 43% em janeiro na comparação anual e 29% em relação a dezembro.
Com a demanda pelo produto pressionada pela China, o banco de investimentos estima que o minério de ferro se desvalorize para 65 dólares por tonelada até 2021. Atualmente, o preço da tonelada da commodity gira em torno dos 90 dólares.