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Upgrades deixam empresas brasileiras mais resistentes à crise

Empresas brasileiras estão se sustentando melhor à medida que recentes elevações nas notas de crédito as tornam menos vulneráveis a uma fuga de capitais

Os papéis fortes vão do Banco do Brasil até Globo Comunicação e Participações SA (Divulgação)

Os papéis fortes vão do Banco do Brasil até Globo Comunicação e Participações SA (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2011 às 09h37.

Nova York - Do Banco do Brasil SA à Globo Comunicação e Participações SA, as companhias brasileiras estão se sustentando melhor do que seus pares do chamado grupo dos BRIC à medida que recentes elevações nas notas de crédito as tornam menos vulneráveis a uma fuga de capitais.

A taxa média dos papéis em dólar vendidos por empresas brasileiras subiu 0,94 ponto percentual desde o fim de julho, para 6,67 por cento, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. Os custos de captação de empresas chinesas aumentaram 3,74 pontos percentuais durante o mesmo período, para 11,31 por cento, enquanto os das russas foram ampliados em 1,84 ponto percentual e o das indianas subiram 1,57 ponto percentual.

Este ano, a Standard & Poor’s, a Moody’s Investors Service e a Fitch Ratings fizeram 98 elevações de notas de crédito de empresas brasileiras e 21 rebaixamentos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A proporção de cinco melhoras para uma piora supera a dos outros países do grupo conhecido como BRIC em um momento em que a crise da dívida europeia se aprofunda e leva investidores a evitar títulos de mercados emergentes, considerados mais arriscados.

“Se você olhar para os nomes brasileiros, há uma enorme proporção de companhias com grau de investimento, fundamentos sólidos, e o que é mais importante destacar é que essas companhias estão muito melhor posicionadas do que em 2008, se tivermos uma recessão”, disse Siddharth Dahiya, analista de crédito corporativo da Aberdeen Asset Management, em Londres. “Para muitos investidores, a nota de crédito é um indicador direto do valor que a empresa tem como tomadora de crédito, e em geral, se você tem uma melhor classificação de risco, você tende a evitar que os investidores vendam seu papel primeiro.”

Classificação soberana

O rendimento dos títulos em dólar do governo brasileiro governo brasileiro subiu 9 pontos-base desde o fim de julho, para 3,9 por cento, de acordo com o JPMorgan. A melhora da classificação da dívida pública ajuda as notas de empresas brasileiras. A agência Moody’s elevou a classificação do Brasil em um nível para Baa2, o segundo menor grau de investimento, em 20 de junho, citando esforços da presidente Dilma Rousseff para cortar gastos.

A Fitch subiu a nota para o equivalente a BBB em abril. A S&P sinalizou que pode melhorar sua classificação BBB- para o Brasil quando colocou a nota em perspectiva positiva em 23 de maio.

As 98 elevações de notas de crédito que as empresas brasileiras receberam de S&P, Moody’s e Fitch se comparam a 16 rebaixamentos, uma proporção de seis melhoras para uma piora que supera a proporção para companhias da Rússia, China e Índia, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.


O rendimento dos títulos com vencimento em 2021 do Banco do Brasil, que teve sua classificação melhorada em um nível para Baa2, aumentou 0,26 ponto percentual desde o fim de julho, a menor alta entre os bônus corporativos brasileiros em dólar no mercado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Rating sempre influi e, quando se fala em Banco do Brasil emitindo lá fora, os investidores consideram quase como risco soberano”, disse Márcio Hamilton Ferreira, diretor de Finanças do Banco do Brasil. “Temos uma preocupação de ser emissor frequente e de diversificar, para montar uma base de investidores que gere mercado secundário.”

‘Posição melhor’

O rendimento da dívida da Globo com prazo até 2022 avançou 0,38 ponto percentual no mesmo período, para 6,82 por cento. A nota da Globo, com sede no Rio de Janeiro, foi elevada para Baa2 em 19 de setembro pela Moody’s.

A Globo não pretende fazer novas captações no exterior no momento, disse a empresa em resposta por e-mail enviado por sua assessoria de imprensa externa.

As companhias brasileiras estão mais bem preparadas para suportar a desaceleração da economia global do que estavam em 2008, quando a crise financeira fez com que os mercados de crédito se fechassem, disse Filippe Goossens, analista de classificação de risco da Moody’s. Os títulos de dívida corporativa brasileira acumulam retorno de 0,4 por cento este ano, contra uma perda de 6,7 por cento em 2008, segundo dados da Bloomberg.

“Existem menos empresas com risco maior de refinanciamento em 2011 do que em 2008”, disse Goossens em entrevista por telefone. “Então, dá pra dizer que as empresas estão numa posição melhor hoje.”

Os títulos de empresas da China estão com desempenho pior porque falta de transparência e preocupações com a governança corporativa estão abalando a confiança dos investidores, disse Luz Padilla, gestora de recursos de Los Angeles, cujo fundo de renda fixa de mercados emergentes DoubleLine Emerging Markets Fixed Income Bond Fund superou 99 por cento de seus pares no último ano.

‘Alerta vermelho’

A S&P afirmou em relatório de 27 de setembro que as empresas chinesas, principalmente as empreendedoras imobiliárias, enfrentam uma perspectiva de crédito “cada vez mais severa”, que pode obrigá-las a buscar fontes de financiamento mais caras. A Moody’s falou em relatório de 11 de julho em “alerta vermelho” para todas as 61 companhias examinadas, destacando modelos de negócios que considerou opacos. A Fitch Ratings afirmou em 18 de julho que os mercados de capitais podem se fechar para cerca de 35 companhias chinesas por causa de problemas crescentes de governança corporativa.

“Quando as pessoas negociam títulos por medo, elas vão querer se livrar de ativos sobre os quais não sabem muito” Padilla disse em entrevista por telefone. “E estar envolvido num país onde a transparência dos créditos é um problema é uma situação difícil de sustentar.”

A proximidade da Rússia à Europa Ocidental, onde a crise soberana está enfraquecendo a economia, está reduzindo a demanda por dívida daquele país, Padilla disse.

A nação “não é parte da Europa desenvolvida, mas fica perto o suficiente para ser significativamente afetada”, ela disse.

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