Invest

Um novo dono para a Braskem (BRKM5): entenda a disputa pelo controle da companhia

O empresário Nelson Tanure, o fundo IG4 e a Petrobras estão no centro das negociações da fatia da Novonor na petroquímica

Braskem: Petrobras avalia entrar no mesmo ramo, de resinas plásticas, convertendo o antigo Comperj (Luke Sharrett/Bloomberg)

Braskem: Petrobras avalia entrar no mesmo ramo, de resinas plásticas, convertendo o antigo Comperj (Luke Sharrett/Bloomberg)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 06h00.

A saga da Braskem (BRKM5), maior petroquímica da América Latina, ganha nuances que podem reacender a disputa pelo controle da companhia. Em decisão unânime e sem restrições, o Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou que a venda de ações da empresa, em poder NSP Investimentos, ao fundo Petroquímica Verde, ligado ao empresário Nelson Tanure.

Mas a história não acabou aí. O fundo IG4 e a Petrobras (PETR3;PETR4) seguem na disputa pelo bloco de controle da petroquímica.

O caso só chegou ao tribunal do Cade, inclusive, porque a estatal, segunda acionista de referência da, pediu ao órgão antitruste que participasse do processo como terceira interessada.

Tanure pode ter levado a melhor no Cade, mas não goza mais do período de exclusividade de 90 dias, expirado em agosto, para negociar com a NSP a compra de sua fatia na empresa.

Agora, quem ganha protagonismo é a gestora IG4, comandada por Paulo Mattos, que avalia assumir a dívida da Novonor com os bancos, tendo ações da Braskem como garantia.

Quem controla a Braskem atualmente?

O controle da Braskem é exercido pela NSP Investimentos, uma holding da Novonor (antiga Odebrecht), que detém 50,1% das ações com direito a voto. A segunda maior acionista é a Petrobras, com 47% do capital votante, enquanto o restante está pulverizado entre investidores minoritários.

A Novonor adotou esse nome no fim de 2020, em uma tentativa de se distanciar da imagem da Odebrecht, grupo abalado por escândalos investigados pela Polícia Federal. Desde 2019, a companhia está em recuperação judicial (RJ) e busca reorganizar sua estrutura financeira. A venda da fatia na Braskem é vista como peça-chave nesse processo.

A relevância da petroquímica para o grupo é evidente: em 2024, a receita líquida consolidada da Novonor foi de R$ 84,5 bilhões, um avanço de 12% sobre 2023. Desse montante, a maior parte veio da própria Braskem, que faturou R$ 77,4 bilhões no ano, beneficiada pelos maiores spreads de resinas e químicos no Brasil e México, além do aumento no volume de vendas.

Mesmo assim, os números não impediram um resultado negativo. A Novonor fechou 2024 com um prejuízo de R$ 16,8 bilhões, reflexo principalmente de perdas financeiras.

O endividamento segue como grande entrave,. A dívida bruta consolidada da Novonor alcançou R$ 110,8 bilhões em 2024, alta de 22% frente a 2023. A principal explicação está na desvalorização do real diante do dólar, já que grande parte dos empréstimos do grupo está atrelada à moeda estrangeira.

Quem é Nelson Tanure e por que ele tem interesse na Braskem?

Nelson Tanure é um investidor conhecido por apostar em empresas em dificuldade financeira e reestruturá-las. Um dos exemplos mais recentes é a Light (LIGT3), distribuidora de energia que passou por recuperação judicial em 2023, na qual Tanure se tornou acionista relevante.

Na Braskem, o empresário parece enxergar uma oportunidade semelhante. Tanure chegou a ganhar vantagem no processo de venda da participação da Novonor, por meio da Petroquímica Verde. Em maio, obteve exclusividade de 90 dias para negociar a compra da NSP Investimentos, holding que concentra a fatia da Novonor na Braskem.

Mas esse prazo terminou sem acordo, e a IG4 Capital passou a ganhar espaço nas negociações. A gestora agora avalia assumir a dívida da Novonor junto aos bancos credores.

A Petrobras é contra ou a favor da compra?

A Petrobras demonstrou incômodo por não ter sido consultada sobre a possível venda da participação da Novonor a Tanure. Reconhecida como terceira interessada no processo do Cade, a estatal enviou uma petição ao órgão antitruste alegando que não foi formalmente notificada das negociações iniciadas em maio, apesar de cláusulas do acordo de acionistas da Braskem que lhe garantem direito de preferência sobre qualquer proposta pela petroquímica.

A Petrobras pediu que a decisão do Cade fosse revista, argumentando que a transação poderia representar uma transferência disfarçada de controle. Além disso, destacou que não houve sequer uma proposta vinculante apresentada por Tanure, ou seja, uma oferta firme e oficial.

Segundo a CEO da Petrobras, Magda Chambriard, em entrevista ao Estadão, o interesse da Petrobras não é assumir o controle da companhia, mas aumentar seu poder de decisão dentro da empresa. A ideia seria ter mais voz junto ao futuro controlador, seja Nelson Tanure ou os bancos credores da Novonor, mantendo, porém, o caráter privado da petroquímica.

Por que a Braskem está em crise?

O pano de fundo da disputa pelo controle da Braskem é a delicada situação financeira da companhia, resultado de uma combinação de fatores. A empresa ainda enfrenta as consequências do incidente geológico em Alagoas, além de um ciclo de baixa nos spreads petroquímicos globais, que não apresentam sinais de recuperação.

Em 30 de junho de 2025, a dívida bruta da Braskem alcançava US$ 8,5 bilhões, dos quais 91% estavam denominados em moeda estrangeira, aumentando significativamente sua exposição à variação cambial.

Apesar de o prazo médio do endividamento ser relativamente longo, cerca de 9 anos, com 68% das obrigações vencendo apenas a partir de 2030, o peso financeiro é significativo. No mesmo período, a dívida líquida ajustada totalizava US$ 6,8 bilhões, um patamar elevado diante da capacidade de geração de caixa.

Esse descompasso fica evidente na alavancagem, com Dívida Líquida Ajustada/EBITDA Recorrente (UDM) alcançando 10,6 vezes no segundo trimestre, nível considerado crítico. Em outras palavras, a empresa precisaria de mais de dez anos de resultado operacional para quitar sua dívida, sem contar novos investimentos ou juros, o que explica a pressão de credores e a busca por uma solução acionária.

Para agravar ainda mais a situação da Braskem, as agências de classificação de risco Moody's, S&P e Fitch rebaixaram o rating de crédito da petroquímica, citando deterioração significativa da liquidez e o aumento da probabilidade de default (calote) ou de reestruturação da dívida no curto e médio prazos.

O que acontece agora?

Com o prazo de exclusividade de Tanure expirado e a IG4 Capital assumindo negociações sobre a dívida da Novonor, a disputa pelo controle da Braskem segue em aberto. O futuro da petroquímica depende não apenas do interesse de investidores privados, mas também do posicionamento da Petrobras.

Outra alternativa ventilada é um pedido de recuperação extrajudicial, que garantiria proteção contra a execução de dívidas, segundo apuração do Pipeline do Valor.

Para dar entrada no processo, a controladora Novonor precisa do aval de pelo menos um terço dos credores, além do apoio de 50% mais 1 dos credores para homologar o plano. A decisão ainda depende da aprovação do conselho da companhia e do aval da Petrobras, que detém 47% da petroquímica.

Enquanto isso, Tanure e a IG4 avaliam suas estratégias, e o mercado acompanha de perto qualquer movimento, já que a decisão impacta diretamente a governança da Braskem e o valor das ações. No horizonte, permanecem negociações complexas, possíveis ajustes no acordo de acionistas e a necessidade de conciliação entre interesses privados e da estatal, em um cenário marcado por dívida elevada e desafios operacionais.

Acompanhe tudo sobre:BraskemNovonor (ex-Odebrecht)Dívidas

Mais de Invest

A China parou de comprar minério da BHP: saiba como isso afeta a Vale

Parceria com OpenAI faz ações de Samsung e gigante sul-coreana registrarem altas históricas

MBRF (MBRF3) conclui aquisição de 50% da fabricante de gelatina e colágeno Gelprime

Preço do ouro atinge novos recordes e impacta mercado de joias na China