Dólar em alta? É oportunidade de venda, dizem os estrategistas do UBS (RHJ/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 3 de junho de 2025 às 17h37.
Última atualização em 3 de junho de 2025 às 18h26.
O UBS manteve sua visão negativa para o dólar americano no segundo semestre de 2025, mesmo após uma leve estabilização da moeda nas últimas semanas.
Em relatório enviado hoje, o banco recomenda aproveitar eventuais repiques do dólar para reduzir exposição e reforçar posições em moedas como o euro, a coroa norueguesa, o peso mexicano — e, em menor grau, também o real brasileiro.
A combinação de fundamentos econômicos frágeis, risco de escalada tarifária e um presidente abertamente contrário a um dólar forte deve continuar pressionando a moeda americana nos próximos meses, escrevem os estrategistas do UBS liderados por Constantin Bolz.
A projeção do banco é que o euro valorize frente ao dólar e atinja a faixa de US$ 1,15 a US$ 1,20, enquanto a divisa brasileira tende a acompanhar o movimento global de enfraquecimento do dólar com suporte local favorável.
O UBS destaca que, embora o governo de Donald Trump tenha adiado a imposição de tarifas mais agressivas, a incerteza sobre a política comercial americana continua elevada — com novo prazo decisivo marcado para 9 de julho.
“O adiamento não é resolução. O risco de novas tarifas segue no radar e pode reacender a aversão ao risco”, afirma o banco.
No front doméstico, a leitura do UBS é de que a economia dos EUA deve desacelerar, especialmente após o fim do impulso causado pela antecipação de compras e investimentos no início do ano em meio às incertezas geradas por Trump.
A projeção é que o Federal Reserve corte juros duas vezes até o fim do ano, mesmo que a inflação suba temporariamente por efeito das tarifas. “O espaço para alta adicional de juros é limitado, mas o risco de novos cortes é real e crescente”, avalia o banco.
Na avaliação do UBS, o dólar segue caro mesmo após a correção deste ano.
De acordo com o banco, o índice de valor real da moeda ponderado pelo comércio global permanece acima dos fundamentos de longo prazo, sustentado artificialmente pela percepção de segurança relativa.
“Desequilíbrios de valuation por si sós não garantem a fraqueza da moeda, mas a combinação de fundamentos fracos no longo prazo – como o grande déficit gêmeo – e um presidente que se opõe ao dólar forte está levando os investidores a reavaliar sua exposição à divisa."
Nesse cenário, o banco recomenda manter ou aumentar posições em moedas que possam se beneficiar do enfraquecimento do dólar, como euro, dólar australiano, coroa norueguesa, franco suíço e peso mexicano, a moeda favorita entre emergentes.
Ainda assim, a perspectiva para a moeda brasileira também é positiva. O real se beneficia de um dos maiores diferenciais de juros do mundo em relação ao dólar, o que sustenta sua atratividade como moeda de carry trade — estratégia em que o investidor toma recursos em uma moeda com juros baixos para aplicar em outra com retornos mais elevados.
Além disso, o banco aponta que expectativas de inflação no Brasil para 2025 vêm recuando, o que reforça a percepção de que o ciclo de cortes da Selic pode já ter se encerrado.
A reprecificação do dólar já começou, mas ainda há espaço para o real se beneficiar, especialmente com os fundamentos locais colaborando.