Uma das maiores instituições financeiras da Europa e do mundo, o Credit Suisse vem sofrendo com problemas desde 2021, o que só se acentuou após a falência do SVB (Arnd Wiegmann/Reuters)
Repórter - edição de Homepage
Publicado em 19 de março de 2023 às 10h23.
Última atualização em 19 de março de 2023 às 10h23.
O UBS Group fez uma oferta para comprar o Credit Suisse por até US$ 1 bilhão, com o governo suíço planejando mudar as leis do país para contornar a votação dos acionistas sobre a transação, informou o Financial Times neste domingo, 19.
As autoridades têm se esforçado para resgatar o banco de 167 anos, um dos maiores gestores de patrimônio do mundo, antes da reabertura dos mercados financeiros na segunda-feira, 20. Como um dos 30 bancos globais sistemicamente importantes, a falência do Credit Suisse se espalharia por todo o sistema financeiro.
O Financial Times informou que o acordo foi definido para ser assinado ainda na noite deste domingo. Citando fontes familiarizadas com o assunto, o jornal afirma que uma oferta foi feita na manhã de domingo a 0,25 francos suíços (US$ 0,27) por ação do Credit Suisse, bem abaixo do preço de fechamento de sexta-feira, de 1,86 francos suíços e praticamente eliminando os atuais acionistas do banco.
O UBS também teria insistido em uma "mudança material adversa" que anula o acordo no caso de seus spreads de inadimplência de crédito saltarem 100 pontos-base ou mais. No entanto, a situação estaria mudando rapidamente e não há garantia de que os termos permanecerão os mesmos ou que um acordo será alcançado.
Uma pessoa com conhecimento das negociações disse à agência de notícias Reuters que o UBS estava buscando US$ 6 bilhões do governo suíço como parte de uma possível compra de seu rival.
As garantias que o UBS está buscando cobririam o custo da liquidação de partes do Credit Suisse e possíveis acusações de litígio, disseram duas fontes à agência de notícias.
Uma fonte alertou anteriormente que as negociações estão encontrando obstáculos significativos, e 10.000 empregos podem ter que ser cortados se os dois bancos se unirem. A Associação Suíça de Empregados de Bancos pediu neste domingo a criação imediata de uma força-tarefa para lidar com o risco aos empregos.
As frenéticas negociações deste fim de semana sobre o futuro do Credit Suisse seguem-se a uma semana devastadora para as ações de bancos e esforços na Europa e nos Estados Unidos para fortalecer o setor após o colapso dos bancos americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank.
O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, agiu para proteger os depósitos dos consumidores, enquanto o banco central suíço emprestou bilhões ao Credit Suisse para estabilizar seu balanço.
Já na Suíça, o UBS está sob pressão das autoridades suíças para assumir o controle de seu rival local e controlar a crise.
O plano pode resultar na cisão dos negócios suíços do Credit Suisse e, de acordo com a Bloomberg, as negociações de aquisição estavam colocando em dúvida os planos de separar seu banco de investimentos sob a marca First Boston.
As autoridades dos EUA estão trabalhando com suas contrapartes suíças para ajudar a intermediar um acordo, informou a Bloomberg, enquanto a Sky News reporta que o Banco da Inglaterra indicou a contrapartes internacionais e ao UBS que apoiaria a proposta de aquisição do Credit Suisse, que considera a Grã-Bretanha como um mercado importante.
O Credit Suisse e o UBS se recusaram a comentar, e o governo suíço não respondeu imediatamente a um pedido de comentário feito pelo Financial Times.
Kian Abouhossein, do JPMorgan, prevê que, se o UBS assumisse o Credit Suisse, faria uma IPO da CS Swiss, fecharia o banco de investimento do Credit Suisse e manteria os braços de gerenciamento de ativos e patrimônio.
O analista diz, porém, que fechar o banco de investimento do Credit Suisse implicaria 9,7 bilhões de francos suíços em custos de reestruturação, embora rendesse algo em torno de 64 bilhões de francos suíços.
Depois do pânico gerado pela falência do SVB, foi a vez do Credit Suisse adicionar doses de preocupação ao mercado. Na terça-feira, 14 de março, o banco afirmou ter encontrado “fraqueza material” em seus balanços e descartou o pagamento de bônus a executivos após o pior desempenho anual da instituição desde a crise financeira global.
Mas a verdade é que desde 2022, o banco já vem fazendo cortes de custos, o que incluiu fechamento de postos de trabalho. Em 2021, o banco sofreu uma perda de R$ 5,5 bilhões, relacionada ao fundo Archegos Capital Management. O banco também sofreu perdas bilionárias com o Greensill.
Agora, em março de 2023, a Securities and Exchange Commission (SEC), que é a CVM dos EUA, apresentou questionamentos sobre a evolução do fluxo de caixa de 2019 e 2020.
*Com informações de Reuters, Financial Times e Bloomberg